Hoje fui à Rua da Prata e comprei-te três sabões: um de argila, outro de mel e outro de jasmim e alfazema com azeite.
Calcorreei todo centro da cidade e ainda subi até ao miradouro de S. Pedro de Alcântara só para poder sentar-me e descansar olhando a bela vista.
Estava lá um senhor já velho e cansado - pois até escorregou do seu banquinho e deixou cair a viola - a cantar "cheio de penas" e interrompendo-se comentou "tantas penas até parece que sou uma galinha". Depois, mais à frente quando viu um grupo de turistas a aproximar-se em direcção a ele, de novo interrompeu-se "vamos lá trabalhar que agora é a sério".
Eu ri-me de ambas as vezes e entristeci-me ao ouvir os fados e a lembrar da mesma solidão de há 15 anos ali naquele mesmo miradouro.
Agora que já vai longa a noite, penso em como as estrias do teu corpo são a terra infértil e árida em que decidi não semear. Já os sabões que te comprei nada vão mudar.
Porque na realidade nada muda, assim como nada perdura.
Saturday, December 05, 2015
Maria Lisboa
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