Wednesday, April 28, 2021

No Silêncio do Amor

No silêncio pertenço-te
como nunca a outrem
cheguei a me revelar

No silêncio escuto-te
o olhar que fala mais alto
tudo o que eu não podia imaginar

No silêncio descubro-te
nas tuas arestas impermeáveis
e nos teus sentimentos tão afáveis

No silêncio morreremos
mas não o nosso amor
porque ele sempre se cantou.

Monday, April 26, 2021

Penumbra

 Levo o interior do caminho
dentro do peito sozinho
e numa marcha lenta
cozinho a vida que passou.

Quem dera ter tido visão
de tudo o que ia desaparecer,
pois assim tudo o que levou
o sopro do vento nesse chão
não teria de ter perdão 
nem sequer se merecer. 

Vagueio na penumbra das horas
já não tanto as passadas
já não tanto as almejadas
mas apenas o tempo que demoras. 

Saturday, April 24, 2021

Profundo de Nós

 Absorves-me tão completamente
que somos dois seres submersos
no mesmo lago de emoção

Sinto que apenas estarei a voltar
para onde sempre pertenci
se nos teus braços for morar

E quero verdadeiramente crer
Que se não nos desviarmos do nosso caminho
chegaremos ao nosso almejado destino

Friday, April 23, 2021

Triste

 Triste é não poder estar no colo a que se pertence
e saber que a vida é o que sempre nos vence.

Sunday, April 18, 2021

Amor Perfeito

 Acaricia-me o rosto o teu suspiro
como beijo que me querias dar
e a tua voz é o abraço que vivo a esperar

Vens para mim como anjo a me salvar
da escuridão da madrugada 
para me mostrares a aurora raiar

És amor perfeito que não ousei sonhar
porque não poderás querer ser meu
e estou condenada a eternamente penar

Mas não sei por que aconteceu este sentimento
que não procurei nem quis achar 
e agora já não sei mesmo como o retiro

Não é nova esta sensação de ser abandonada
pelo contrário, é demasiado familiar,
até parece que nunca chegou a me deixar

Ele nunca chegou a me ver como amor seu
só eu me vi sua sem que pudesse opinar
nem desse amor perfeito me conseguir livrar.

O Caminho Até Agora

 Sim, são egomaníacos, interesseiros,
pouco interessados,
mas alguns poucos interessados,
e mesmo aqueles com missão símile
confessam serem pesados os fardos
e admitem as inseguranças e medos
como também os narcissismos e vaidades.

Eu observo, regressada ao estado de humanóide,
depois de sete anos de mongitude,
e nalguns dias contagiam-me com a sua carência
e até com sensações atípicas de ciúmes e afins,
o que só agora me parecem engraçados fenómenos.

O caminho percorrido até agora é o que tem sido
sem grande explicação e apenas com consecução
do que tu me disseste que era uma missão 
mas e eu o que sobra mesmo para mim?
Ah, está bem, não há eu nunca nesse caminho,
como nunca houve, nem eu me preocupei sequer,
mas agora disseram-me que é suposto haver,
porém provavelmente também desconhecem 
que apenas sofrer é o tal do meu destino.

Não entendo nada e quanto mais deixo acontecer,
vou no tal fluxo, quase me deixo embalar,
vira e mexe e estamos de novo nisto,
nem sequer há algo que eu vim a querer.

Também quando disse que queria algo
não valeu de nada para conseguir tê-lo
nem um sinal sequer de que era para mim.

Não soube viver antes nem sei viver assim,
por isso estou pronto para assumir os erros
e as faltas e as falhas e insucessos,
vamos p'ró que der e vier até ao fim.


Thursday, April 15, 2021

À Sombra do Chorão

 Não és longevo, ao contrário do que dizem,
apenas providencias o resguardo para leve brisa
enquanto a minha atormentada alma descanso
na tua sombra de salgueiro-chorão,
sentindo a água correr e não lavar a minha mágoa,
as minhas duras penas voando no vento apenas
e todo o manto de lamento da tua copa desfiada
quando me espremeram o coração.

Aquilo que sufoco no peito
é seiva que seca nas minhas veias
e sentada no teu tronco encostada
num improvisado leito 
sei que não é a mim que beijas
com as tuas folhas caídas ao vento. 

Sei que a tua memória ancestral
canta o meu pranto memorial 
e a tua frondosa raíz 
é o que me fará mais feliz. 


Sunday, April 11, 2021

Onde os silêncios vão morrer.

 Atravessamos estradas de diademas
que são prismas que dispersam a poeira do caminho
e lentamente calamos cada soluçar

como uma serpente que ondula o corpo lentamente
sai de mim esse hipnótico vibrar 
e esfumaça-se no que foram mil teoremas
que eu não cheguei a desvendar sozinho

penso onde se alojará cada vez que calo o que sinto
toda a minha vitalidade e querer
e sei que o exercício de que minto
não tarda em me fazer sofrer

vislumbro ainda uns faróis a vir na minha direcção
já não há mais nenhuma luz difusa sequer
e sei que já vou para onde os silêncios vão morrer.

Friday, April 09, 2021

"ai a loiça"

 lavo a loiça
e ai dele que me oiça
mas penso em como será
que ele a lava também?

constantes numa miragem
de sonho de vapor
flutuamos
e é mais que amor

tem tempo, duração
é momento, é mais que paixão
perenemente
nas madrugadas
nos universos sem fim?

"ai a loiiiiçaaaa"! :D

Está Tudo Aqui Dentro

É o destino que nós pegamos para nós
É a cor da calma que escolhemos a sós
Abstrairmo-nos do que distrai e apenas subtrai
Está aqui tudo dentro na dança do tempo
A dança que os meus braços faz
é a dança que está dentro de mim
na saudade de encontrar alguém certo para abraçar
pois a minha alma é água 
e eu não quero mais vê-la turva
por isso desfiz os nós
e já me sinto bem mais capaz.

O teu Cheiro.

 A que cheira a linha do teu pescoço senão a cansaço,
a que cheira o teu rosto senão a tristeza,
a que cheira a tua boca senão a frustração,
a que cheira a tua língua senão a impulsivas promessas,
a que cheiram os teus olhos que não a solidão,
a que cheiram as pontas dos teus dedos que não a saudade,
a que cheira o teu abraço senão ao cheiro adocicado
de álcool envelhecido em alambique?

Monday, April 05, 2021

Tu és Música

Conheço-te tão inteiramente
quanto o instrumento que é uma extensão de ti
e sabes o material de que é feito
todos os seus pedaços
e cada centímetro que range e vibra
onde passas os dedos e agarras firme com a mão

És bravo e cru, como aquelas canções doídas
que espremem o coração no peito como uma laranja,
cujo suco escorre para deleite dos nossos ouvidos

Ainda assim és delicado e tens um rubor e brilho 
como o princípio de que és feito
na melodia da suave chuva ancestral

A minha mão ainda toca as tuas notas
iguais porque assim fomos criados
porque estamos sempre juntos separados

Lembro ainda de ti quando explodes
e desapareces murcho e exangue no meu colo
porque suaste tudo em palco

É nos silêncios que a canção se eterniza
e tu também em mim.

O Asco

 Volta e meia surgem frases à minha frente
daquelas feitas por qualquer gente
para supostamente gente doente
enferma da mente, pensa a outra mente,
a da tal gente que faz absoluta frase demente
para toda uma outra gente que acha demente
e no meio disto vive tudo falsamente contente

e eu vomito.

Mas não é só isso.

O todo o mundo e mais do meu profundo
e do que é inteligente e do que é descontente
e do que vejo nela tudo imundo completamente
e da raiva que dizem que é veneno ingerente
que odiar é tomá-lo e esperar que morra a outra gente

ela reflectida
o ar à volta dela 
os gemidos e gritos dela
a aura dela que não é aura 

todo o asco profundo do mundo...

Sunday, April 04, 2021

A Fantasia do Amor

 Na mais bela fantasia de amor
ele é feito de nuvens e algodão,
tem uma língua de doce sabor
e um travo de mel com paixão.

Seu sonho é de abraços-edredons,
um carrossel de chávenas rodopiantes,
apenas cores pastéis nos seus tons
e um público à espera que os encantes.

Mas a meio há sempre um revés,
as nuvens negras de tempestade à vista
porque não aguentas sem que de lés a lés
venha uma carga de água regar o pessimista
que estimas tanto que dormente em ti habita
e eu sei que não há nada resoluto em ti que o extirpa.

Como tudo é cíclico e diminuto, como gira o mundo,
também a bonança vem a seguir com a alternância,
e de novo vês os teus prometidos arco-íris sem fundo
sem pote de dote no final de percorreres a distância.

Na fantasia do amor nunca passarás de uma criança,
que constrói castelos de areia olhando o mar revolto
com a mesma admiração com que vês o olhar de esperança
nos que sofreram todos os horrores e mantêm o sorriso solto.

Larguem-me e matem-me logo de uma vez

 Deviam ter-me largado de um avião em pleno vôo
Deixado que eu me desfizesse em milhares de pedaços
Para que não sobrasse nada mais quando ao chão chegasse

Foi o acaso conceber tamanha desgraça e inferno
Com o gelo de mil invernos e tanta desfaçatez 
Ó imaginação sem graça quanto a palidez da minha tez

Larguem-me e matem-me logo de uma vez
Arranquem a minha foto da parede da vossa memória
Rasguem tudo o que é meu
Queimem os objetos
Triturem os meus ossos e dentes até serem pó 
E espalhem-no aos quatro ventos como nunca tiveram dó




Saturday, April 03, 2021

O Homem-Acumulado

 O que é o Homem senão o acumular das suas contas, dos seus discos, dos seus instrumentos, dos seus livros, dos seus dias transviados e oblíquos, que se empilham na poeira das horas e nas estórias que esqueceu de contar?

Com o tempo tudo se desvanece na mente do Homem-Acumulado, excepto aquele momento em que mais amou ou foi amado. 
Já ao seu redor, jazem sós todos os objectos.


Obs.: este acaba por vir assim fazer parte então do que pode ser uma série de textos (é só pesquisarem aqui) - Homem-Nada ; Homem-Tracejado ; Homem-Inexistente ..

Friday, April 02, 2021

 Podia amar-te com a força de oceanos 
e de mil redemoinhos de vento
em tornados infinitos de paixão,
que ainda assim não importaria
se tu mesmo não te desses ao teu perdão. 

Thursday, April 01, 2021

quando a mundividência
se dá à consciência do real,
a aceitação da visão
se torna mais clara
mesmo nos meandros 
das pardacentas profundezas