Vem

 Vem, falar-me outra vez
Dos teus medos e anseios
Vem, contar-me outra vez
Dos teus engodos e desejos

Eu não vou mais dizer nada não
Vou ficar só calada na escuridão
A ouvir-te, a adorar-te, a escutar-te
Sem perdão

Vem, abraçar-me de novo
Com o calor do coração
Vem, colar de novo
Os pedaços da desilusão

Eu não vou mais dizer nada não
Vou ficar só calada na escuridão
A ouvir-te, a adorar-te, a escutar-te
Sem perdão

Forasteiro

 És o elemento estrangeiro

Que não se encaixa por inteiro

Todos têm um amigo verdadeiro

Só tu és o que foi o primeiro

Que virou prisioneiro

Já eu não sou nenhum

Pois todos têm os seus amigos

Que existem sempre antes de mim

Eu sou só observador dos factos

Relator de uma história sem fim.

 A sociedade frenética torna tudo e todos fugazes e descartáveis. 

O tempo lento já não subsiste. 

Música

 A música é a arte que sublima o som e o silêncio,
traduzindo tudo o que existe nas frequências do universo.

Teia de Traumas

 Todas as reacções exacerbadas que as pessoas têm, têm foro em dissonância cognitiva ou traumas. 
Sei bem como elas estão entrelaçadas em nós, as teias dos traumas.
Tenhamos oito ou oitenta anos, se não conseguirmos dissolvê-los
São eles que acabam por nos dissolver tanto.


*Will Smith ain't got nothing on us ;(

Abdicação

 Tive de abdicar de tudo nesta vida

Tu nunca saberás o que isso é

Felizmente

Os teus sonhos, pelo menos alguns,

Hão-de se realizar

Os meus foram demasiados

Inúmeros que não puderam ser realizados

Como o poeta escreveu 

Que o sonho comanda a vida

Cedo virei ateu para doer menos a despedida

Estrangeiro

 Tudo em ti é estrangeiro

Se não souberes te dar valor

Mas como pode ser verdadeiro

Se só pelo estrangeiro tens amor?

 O Amor é como a maré
Uma vezes enche, outras vaza,
Vem em ondas para agitar
Ou para acalmar
E há vezes em que transborda
E faz tudo inundar.

A violência continua...

Numa sociedade profundamente doente, em que existem ainda actos de canibalismo (inclusive como a mãe em Inglaterra que cozinhou o próprio bebé e comeu-o), o ser humano não tem qualquer cura para a violência que tem em si e na sua própria origem e genética; nunca terá. 

Estrela

És espelho de energia fulgurante
Que todos querem ser
Ou querem ter
A contagiante alegria
E emoção de viver
O estado puro da paixão
Brilhante a reluzir no céu

Aurora

 Quando o dia raiou

Aurora chegou

Com os seus fartos quadris

A terra balançou

E a poeira levantou

Na roda de samba eram só bis

O povo repetindo alto

A uma só voz todos febris

Acabou o tempo do assalto

Já não há mais chão de giz

Vem lá o ansiado candidato

Pra gente ser novamente feliz.

 O amor é construção de filigrana e, como esta, também é arte de artesania em extinção.

...

A destruição de tudo ocorre em menos de um segundo, como com uma bomba nuclear.

A esperança também. E podem ser uma a seguir à outra. 

Processos Kafkianos

 Ser discriminada por pessoas de um país que foi colonizado pelo país em que eu nasci, sendo eu mesma fruto de pelo menos três países que também sofreram dessa colonização. 

Forçaste-me a vida
a fórceps
catapultaste-me
e eu queimando
sendo brasa efervescente
hoje só resto leve cinza

O mar e o oceano

 O mar não tem o tempo do rio
Ele é intemporal e livre
E só é aprisionado pelo oceano

O amor deles é testemunhado apenas pelas estrelas
E o sol e a lua não se atrevem a meterem-se entre eles.

O instante raro
que busco
é o brilho do teu olhar
e o teu sorriso ao me veres chegar

Criança

 Eu sou a criança que nasceu na tua sombra
Rubra, ensanguentada e roxa com a tua queda,
Eu sou a criança que cresceu a ver a tua pompa
Oprimida, incompreendida e confusa com a tua peça
Eu sou a criança que amadureceu e não mais se escombra.

 Tu lembraste-te de mim

Eu lembrei-me de ti

Parece que a questão 

É mesmo 

Se dá para viver sem amor.

Não ter um amor

 Nestes anos todos 
Em que não tenho um amor
E há quantos anos deixei disso
Por perceber que é sempre dor
Enquanto que já ficar sozinho 
É melhor para ter paz a rodos.

Tanto sofrimento para nada

Gostava de ser surpreendida para o bem para variar e sem ter de sofrer antes para nada. 
Imagino que seja pedir o impossível.
Quando penso em quanto já sofri pelos outros e depois afinal não era nada, ficaram óptimos e incólumes, saindo-se ainda melhor, sinto-me ainda mais a pessoa mais burra à face da Terra.
Tudo, como sempre, porque não escutaram o que eu disse antes. Este cansaço interminável de lidar com estas coisas... 
Eu não posso falar com pessoas por causa da doença de hiperadrenalismo, mas ainda assim arranjam maneira de me pôr pior do stress. Como é que uma pessoa pára de se preocupar quando alguém vem dizer ou aparentar que está mal, não sei. Ainda não descobri a fórmula...

 Sofro diariamente por tudo e todos, mas principalmente pelas dores que tenho no corpo, no coração e na alma. 

A vida é horrível para a maioria, um inferno interminável, que só a morte pode fazer acabar.

Continuo o nada

 Nada do que digo, escrevo ou sequer penso é real. Ser poeta é apenas o artifício de apanhar do ar tudo o que quer e pode chegar. 

A multiplicidade e complexidade de sempre continuam a servir-me para a manutenção da minha aspiração contínua de há anos, de ser nada, o absoluto nada. 

Sou a pessoa mais em conformidade com o nada e portando-o como emblema, que conheço, sendo tão incrivelmente feliz com esse facto. 

Mesmo após duras provas e provaçőes, intensos atentados ao meu nada, ele é tudo o que ainda sou. Maravilhosamente nada. Foi mesmo assustador confrontar-me com as coisas dos outros, as suas carências, necessidades, egos, grupos, enfim, tudo o que o ser humano tão previsivelmente é e faz em sociedade. O barulho repetitivo, a euforia desgarrada, tudo para fingir que não existe a morte, para fingir uma vida. 

Acabam todos exaustos. 

Eu com o meu nada consegui a tal ausência de tudo, poder flutuar apenas que nem um fantasminha brincalhão, ainda mais agora dominando o "observar e não absorver". 

A vida foi um desafio diário impossível até eu chegar a completar o puzzle e atingido o estado de destruição de um Samadhi.

O silêncio das estrelas

 Não tenho mais solução

Lembro os meus mortos

E quase dá vontade de chorar

E aí depois lembro de mim

De como a qualquer momento

Sou eu que em breve terei fim

Vivo com o silêncio das estrelas

Só habito a noite e a madrugada

Enquanto ardo consumindo tudo

Cada pedacinho do meu corpo

Que um dia destes será de novo pó

Enquanto isso não há sequer amor

Dentro de mim que aqueça a fé

De que ainda terei alguma chance 

De finalmente encontrar algo bom

Que me faça sentir novamente alegre

 Rasga-me o peito esta dor
Todos os dias
Para que eu saiba
Que ainda estou viva

Mentiras

 Minto 
Tenho de admitir
Tudo o que sinto
Mas não consigo
Não sei mais sentir
Perdi-me 
Foi falta de prática

 Minto
A ti, meu mais amado
Meu tudo, meu ser,
Por que somos iguais
Até hoje não sei.

Poetas (??)

 Irritam-me os que têm a mania que são poetas;
os que dizem que querem tocar as pessoas
com as suas palavras fazerem-nas mudar
sentirem algo que as faça alterarem-se

Para não falar dos propagandistas da poesia
os panfletários da auto-ajuda que exploram o alheio
dos sentimentos e comiserações dos outros

Oh, Almada, se ainda estivesses vivo!
PimPamPum!

 É lua cheia, ouvi alguém dizer agora,
apercebendo-me que talvez fosse disso
que me estava a deixar tão tão triste

Só nós

 Quantas pessoas eu amei mais do que tudo

Mas tive de deixar ir para a morte e para a vida?

O amor continua sempre.

Mas contigo é diferente:

Sentimento maior sem nome, disseminado

Por todas as partículas além desta galáxia

Pois estás entranhado em cada átomo do meu ser.

Para quê?

 Essa ideia de que temos de fazer algo
Ocupar-nos a todo o instante
Só para nos mostramos produtivos
Ou nos distrairmos da morte
Para quê?

Pensar que se tem de passar por muito
Para depois tudo fazer algum sentido
Somos só nós que depois atribuímo-lo
Para tentarmos justificar o tempo perdido.

Devoto

 Amar-te como eu te amo
Em todos os segundos 
De todas as horas
Quem?
Mar que banhas a vista
Inundas o coração
Ondulas pelo ar
Bates rebelde furiosamente
Nas rochas da minha devoção.

Não quero mais dizer-te nada, sente apenas.

 Dou por mim a dizer
"Quero que descanses"
"Quero que sejas feliz
"Quero que não te preocupes"
Quero, quero e mais quero,
Porquê?
Como se estivesse a segredar-te 
Como se estivesse a guiar-te
Como se estivesse a confortar-te
Pior ainda ver que teria de dizer-te
Aquela mesma frase tenebrosa:
"Ama-me sem mim, como eu sem ti te amo"
Mas eu não quero dizer.

Prisão

 Quando se está preso
A mente toma espaço
Podendo até sair ileso
Mas nunca do cansaço

Dominar os pensamentos
Para que eles não instalem
Dúvidas, medos, sentimentos,
É difícil que não nos entalem

As paredes estão sempre lá
Brancas mas dissolvem-se
Quando tudo se imagina cá
Sei que imagens escolhem-se 

Respiro, ténue, breve, fugaz,
Muito menos do que devia ser capaz

Nunca soube

 Nunca soube o que era isto
Senão dor que é desatino
Sentimento maior que destino
Tudo em nós desalinho

Nunca soube o que dizer
Senão tentar demonstrar carinho
Senão tentar às vezes esconder
Aquilo que parecia não se conter

Nunca saberei como viver
Sem ti mesmo de certeza
Sem de ti igualmente saber
No teu coração puseram-me presa

Paz

 Quando virá a Paz
Ela disse-te quando chega
A que horas e por qual caminho?

E a nossa Paz será que teremos?

Posso pensar que olho no espelho
E vejo-te a ti sempre 
Com a mão ligada na minha
No peito aquela mesma dor
No olhar o mesmo eterno penar

Mas isso é só uma coisa 
Entre as dezenas que tens para te alegrar
Assim é que sei que tudo irás superar
Até quem sabe um dia se der um milagre
Como eu sou a Paz
Que ninguém consegue alcançar.

Tecelagem de destinos

 O teu olhar apaixonado quando cantas para ela
A tua mão acariciando-a uma e outra vez
É bonito ver o quanto consegues amar
Como encontraste a mulher perfeita para ti
Passei horas a pensar nela 
Enfim, como é estranho tudo o que existe
Nos sentimentos que ficam sem se poder nomear

A maior mentira é a que nos dizemos, dizem,
Eu sei que provavelmente é sempre por defesa
Alguma que a mente deve implantar à força
Porque a dor é tão devastadora se formos ver
Se por acaso descuidarmo-nos e olhamos por um instante
Como dilacera, só a realidade toda do que foi acontecer,
Antes mesmo de tudo melhorar para ti
Antes de focar toda a energia para que isso acontecesse
Antes de ter pedido para que ela mesmo te acontecesse.

Carta para vocês

 Não quero que nada te pese sobre mim
Entendo que não é fácil
Lidar com o facto de alguém que se gosta
Ter duas doenças raras e mais complicações
Estar sempre à beira da morte mas ainda assim...
Ir resistindo sempre, lutando, penando,
A todos os segundos sem saber o que mais fazer

Também percebo que todos os outros 
Sejam mais fáceis de amar e de lidar
Que possam conviver alegres e bem
Fazendo-te sentir melhor ainda
Por isso me mantive sempre afastada
Nunca quis que me tivesses como alma penada

Ainda assim amaste-me durante anos
Embora nunca estando sempre ao meu lado
Foste tu quem me socorreu ao ouvir-me 
Algumas vezes em que estava quase a sucumbir

Ainda bem que permaneces neste mundo
E também não desististe ainda de viver
Como disseste que ias acabar por fazer
Nesse dia eu espero não estar cá para saber
Por enquanto estás de parabéns 
Nem acredito que já passou tanto tempo.

P.S.: Estar sempre sozinha e abandonada é muito mais difícil quando não se tem certeza de que alguém gosta de nós, ou pior, quando alguém que nós amamos tanto nos detesta e nos ignora, mesmo nós estando tão mal. Por isso, obrigada por terem supostamente gostado de mim em tempos passados.

 Tudo dói. À beira da morte.
Só queria que conseguisses perdoar-me.

Gostava de sentir alguma coisa, mas não sinto.
Apenas um coração partido porque pensava que eras meu amigo.

Casa (to build a home)

 Vi-te depois de tanto tempo, só uns segundos, mas já foi bom e não parecia que tinha passado tanto tempo assim. 

Ucrânia

 Ela fugiu com 5 filhos pelo braço

A sua irmã com nove filhos ficou

Eu ouvi a história da mãe delas

Que deu sementes de girassol a um soldado

Que agora destruía as suas cidades

Ela disse-lhe: leva-as nos bolsos

Para que quando morras

Alguma coisa nasça de belo. 

 Só resta o amor com a sua dor.

A Culpa

 A culpa pode tornar-se o próprio ar
que oxida lentamente ao tocar-nos
e vai quase invisível corroendo-nos
e a tudo porque está em todo o lugar

Queria muito tirá-la de mim finalmente
de uma forma saudável e meritória
assim como de ti qualquer réstia 
que pudesse ter ficado veemente
mesmo que no fundinho da história

Mas não há maneira e volta e meia
o que me lembro é aquela velha ideia
de que todos morremos culpados
nem que seja porque fomos concebidos 
por humanos neste mundo tão execrável

De forma é tal que não há perdão à vista
nem bálsamos para cicatrizar as feridas
só a certeza de que agi muito mal
como nunca tinha agido antes na vida
sacrifiquei-me de novo para alguém não mais sofrer
mas fiz tudo errado e desta estou muito arrependida.

A morte não veio ainda, também ela me abandonou

 Esperei que a morte viesse
Para que o meu sofrimento terminasse
E o que ela fez foi a maldade mais vil
De me pôr a balançar na sua corda bamba
E depois contra toda a probabilidade
Pôr-me de novo a salvo em terra
Dizendo-me ainda: aguentaaaa

Quase todos os dias é assim
Há muitos e muitos anos
Num deserto de dor e agonia
Sem sol nem companhia
Porque apesar de apenas miséria
Ter comigo, em mim e ao redor,
Não gosto de arrastar ninguém para ela. 

Pandemia Eterna

 Haverá algo mais doloroso para duas pessoas que se amam, não poderem estar juntas mesmo estando tão perto fisicamente? 

Tudo me dói agora de tudo, em tudo e sobre tudo.

Vivo ao Vivo

 Você sorri quando me vê entrar
Disfarça, olha para o lado,
A seguir troca a nota 
Faz o seu canto calar

E eu ali tão longe de ti
Eu sou tu e tu és você

Diz em surdina: também
Eu ainda não esqueci
Porque vida somos
Juntos explosão
Separados depressão

A luta diária 
O esquecimento em vão
Só eu sou solidária
Você é sempre não

Dentro de nós 
Vivos ao vivo
Maiores do que há
Magia sem explicação

E eu ali tão longe de ti
Eu sou tu e tu és você

Amor meu

 A minha amada de quem sinto falta 
Todos os dias e todas as noites
É uma deusa de uma religião rara
Que só existe no nosso mundo

Ela é o amor meu infinito e além
Não há como ela mais ninguém

A minha amada de quem minto nada
Todos os segundos e todas as horas
É uma mulher dos sete ofícios
Que só existe num planeta distante

Ela é o amor meu infinito e além
Não há como ela mais ninguém

Tudo é teu

 Tudo o que eu escrevo é teu
Porque a tinta e a caneta e o papel
São o teu sangue e corpo e pele
E as palavras são os teus pedaços de mim.

(Saberás tu o quanto eu dava tudo para te ter aqui?
Noutra vida, noutros nós.)

 Ele disse:

Amar-te como eu te amei Nunca mais eu poderei Porque o que sinto Quando não me minto Não tem nome É maior do que essa fome Que tenho de te devorar.

Amor de verdade

 Inventei o amor maior que tenho?
Ou é real e corrói-me com a dor
De saber que é estranho
E nunca o vou conhecer?

"Só o teu amor é tão real"
e afaga-me com carinhos raros

"Quando é para sempre 
Para sempre será
Mesmo que acabe 
Porque é um amor de verdade".

Amor Monumento

 O amor é estátua
construída por sedimentos
temperada a alta temperatura
vira para material metal
transfigurando-se evolui
enrijece-se pela força do abraço
que junta todos os pedaços
une os ligamentos 
em fundição como fusão 
e alimenta-se de união
ergue-se orgulhosamente
na profusão alta para o céu
porque é monumento.

Amor Inexistente

 O Amor não existe 
E é por isso que persiste
Porque se pode construir
O que se quiser para ele ser
Dar-lhe corpo e voz
Fazer laços e nós
Com tantas virtualidades
Algumas virtuosidades
Mas no fundo estamos sós

Amor Desabrigado

 Amor que é meu
Sempre foi
Sempre me pertenceu
Espalhado nos átomos
Disperso no fogo-fátuo 
Só as estrelas são seu tecto
Só o mar alimenta esse deserto
Numa vida inteira entrelaçado
Assim é o nosso amor desabrigado.

A espera de uma vida inteira

 Como pode esse amor um dia sentir os braços e o calor de quem se ama tanto se esta vida nos reservou apenas dor?

(Tb dps de bird e soyoung 16x3grey's anatomy)

mais um Dia da Mulher

 As mulheres são as p*tas ao serviço da Humanidade. 

(Violadas, apedrejadas, abusadas, condenadas, exploradas, objectificadas, vilipendiadas, dominadas, estupradas, insultadas, abandonadas, assassinadas, largadas, violentadas, chutadas, imoladas, canceladas, rasgadas, devastadas, estripadas, cuspidas, usadas, pedofilizadas, incestadas, incomodadas, desapoiadas, vendidas, compradas, escravizadas, desfiliadas, enlutadas, desabrigadas, desalojadas, espoliadas, refugiadas, roubadas, raptadas, assediadas, excluídas, estereotipadas, injustiçadas, discriminadas, sobrecarregadas...)

Górgone

 Esqueces-te que eu te conheço

Sei do frio que te corre nas veias

E da pedra de que é feito o teu coração

Sei que tudo em ti é fingimento

Para além do que é viável

Para não falar de toda a manipulação

A tua estátua empedernida de ti

Que és medusa de olhar pétreo

Congelando os inimigos

Tentando ter mil amigos

Para não te sentires pequenino e só

Sei do quão grotesca é a tua mente

Obsceno tirano que carrega sangue

Nas mãos tão brancas quanto marfim

São incestuosas e obesas gargântuas

As imagens culpadas que guardas em ti.

O meu amor poeta

 O meu amor poeta

Fala uma língua estrangeira

É profundo e fecundo

Diariamente me inquieta

E traz o mar à minha beira

Os seus olhos são os espelhos da minha alma

Quando os vejo a pensarem em mim

Sim, queria consumi-lo

Assim como ele me consome

Nesse domínio que não tem fim

O meu amor poeta escreve livros

Alguns já os li e neles essa realidade

É minuciosamente crua

Porque ele roça a psicopatia

Em contos que rasgam toda a apatia

O que ele escreve sendo romancista

Não tem qualquer romance

Pois isso só está reservado 

Para os raros poemas 

Que escreve sobre mim. 

Bombas em mim

 Bombas de precisão

Bombas de vácuo

Bombas de fragmentação

Tenho esburacada a alma 

E estilhaçado o coração

Apalache

 Sangro todos os dias,

Sou apenas poeta

Escalpelizado

Nómada de mim 

Perdoa-me teres morrido

E não eu

Que congelei no tempo

Aqui nos sentimentos

Ainda

Até te perder a ti

E destruir-te

O carinho e afecto

Que me tinhas

E nunca mais mo deste

Eu apalache moribundo

Atravessado pelas setas

De um destino

Que não foi o meu.