Por mais que renegue e diga que agora já chega, é por demais forte e volta-me tudo sempre, em cada poro, em cada célula, vibra este desejo maior. Sim, ela tem razão, ora frio, ora quente, eu sempre duvido e fujo para não sofrer. 

Se ao menos soubesse que também me tens como teu bem-querer.

O barco pirata

 Custa tanto admitirmos que nos pertencemos, que temos estado sim presos um ao outro, que afinal não somos livres e estamos nesta espécie de condenação, à nossa revelia, pois não queríamos mais sofrer tanto e dar cabo da cabeça com tanta confusão. Mas será possível ignorar a ùnica constante flagrante certeza? 

"Tem de haver um jeito para dar certo"

Alma

 Estive a vida inteira à tua espera

Dizem até que já nos encontrámos

Em outras vidas

Quiçá

Nada sei

Só estarei sempre 

Toda uma eternidade 

Contigo

No coração e na mente.

Rachadura

 Tu serias a única pessoa
A quem contaria a minha história
Mesmo que não conseguisse
Mesmo que a voz embargasse
Mesmo que o olhar chorasse
Mesmo que o coração sangrasse
Só para que me conhecesses
O que me fez talhar-me
E de tudo o que já sofri
E o que ainda me ficou na pele
Creio que só assim
Se aguentasses ver-me inteira
Mesmo com tanta rachadura
É que fosses mesmo tu
O tal alguém corajoso
Que poderia deveras amar-me
E a quem poderia entregar-me

 Gostava que o meu sentimento durasse

Ao contrário de todos os outros

Como se fosse uma chama do Olimpo

Que eternamente brilhasse

Mas sei que tudo o que se constrói acaba

Pois não passa de um mesmo processo

Por isso tenho esta sensação

De que tu e eu

Não sendo

E sendo como o mar e o céu

Somos para sempre

 Se quiseres amar amarás

Pois só tu podes saber

Que rio queres navegar

Já eu tenho a racionalidade

De saber que o conhecimento

Dá-me tudo o que preciso

Para terminar com o que sinto

Do Sofrimento

 Tem sofrimento que parece lixa

Raspando crostas de feridas

Fazendo-as encarnecer de novo

Expondo os poros sangrentos

Tem sofrimento que parece pedregulho

Jogado do alto para o fundo do peito

Abrindo uma cratera como um meteoro

E depois há o nosso sofrimento

Que ora estremece o chão

Ora se torna dilúvio

Só por não nos podermos alcançar

 Sinto-me condenada a penar para o resto da eternidade. Sem ti, sem ela, sem todos vocês. De que vale estar vivo assim, se já antes era tudo tão ruim?

 Contento-me em ouvir-te soar

E ver-te a emocionar

Tudo ao teu redor

Meu menino-mar

Que enfeitiças o mundo

Como cântico de sereias

E fazes com que as estrelas

Brilhem mais do que o Sol

Nesse deslumbramento no ar

Que só tu sabes propagar

Atravessando todas as camadas

Todos os muros e amuradas

Eu só consigo te olhar

E derreter e ficar mole.

Relato de como me destruíste, paixão

 Vieste de mansinho

a pouco e pouco

sem que eu te notasse

sem fazeres alarido

logo deste um carinho

e eu atenção e cuidado

cozinhei-te um prato

como uma mãe extremosa

alimenta um seu menino

e depois aqueles jogos

de quem se diverte junto

espicaçando-se

e rápido veio o facto

de que algo estava errado

aí é que vi o caldo entornado

mas aqui a perita em destruir

tudo em segundos só com um som

para poupar todos de um mal maior

explodiu com dinamite todo amor

pois a autosabotagem é um dom

#parabénsmuitoruim :D :/ "what do you do when you fall in love .. catch pneumonia.. I'll never fall in love again.."

 E ainda que o meu coração

Reverbere como astro flamejante

O meu medo de ti e de tudo

Que me renega e me magoa

Deixa-me derreada no chão

De respiração quase sufocante

E mais abafa o grito mudo

Desse amor que não se apregoa

 O Conhecimento matou-me para a vida 

A vida matou-me para a própria morte

Dos Brasis

 Dos Brasis quero saber a que sabe a pitanga,

e a que cheira araçá e também cajá,

quão branco é o lençol do maranhão,

quão terroso é o óleo de dendê

finalmente encontrar a tal rubelite

E mais do que tudo 

Escutar você

 Obrigada por me teres ajudado a querer viver e depois matado só para fazer querer viver de novo. 

Metade de mim

Minha metade de mim, 

quem tem alma de maresia

afoga-se e flutua

nunca nada

nos cantos da sereia

pois sou pirata

da ampulheta a areia

que escorre pelos dedos

do tempo que perdemos

enquanto tu fazes o caminho

que é suposto fazeres

nas marés desertas de lua

 Às vezes pergunto-me 

se quando me detestaste

desejaste a minha morte

e se tal como ela o fez

vociferaste uma espécie

de "morre, desgraçada!"

e de vazamento e bolor

rogaste-me uma praga

e tudo isto comigo assim

a amar-te desenfreada.

 Sabe bem ter quem goste do que fazemos e somos, não é?

Pois é. Isso é alimento para o ego. Daí que à semelhança do estômago, ele dilata e depois pede sempre mais alimento para preencher o espaço aumentado. É por isso que se deve ter muito cuidado, pois embora saiba bem, mais ainda de quem a opinião nos é importante, há que ter em consideração que a sustentação do ego em factores que nos irão faltar é extremamente perniciosa. 

Portanto, quando não ligo muito ao que as pessoas poderão achar do que faço ou sou, é mesmo porque há décadas que deixei essas armadilhas do ego. 

 Para mim és algo sagrado e profano

Pecado e benção

O que eu mais fiz errado

E sem perdão

 Pertenço-te

Como coração fora do peito

Extemporâneamente 

E que não bate direito

Porque não é chuva 

Nem é gente

Não temos nada?

 O que eu tenho contigo

É veneno e antídoto

É chama primordial

Num conto antigo

Que Prometeu protagonizou

O que eu tenho contigo

É vício e bálsamo e liberdade

Que tem na sua prisão

Um demónio amigo

Alimentado a saudade

O que eu tenho contigo

Quem inventou não fui eu

Mas tu que nada tens comigo

Na tua escuridão um abrigo

E na tua luz sem mim um breu 

O que eu tenho contigo

Se eu pudesse eu gritaria

Aos sete mares que existem

E ao teu que se me dissesses

Mesmo morrendo te encontraria 

 "Você nunca está sozinha, o pensamento dele nunca saiu daqui de perto, nem por um segundo"

 Promete-me que não me esqueces

Morra eu com hemorragia cerebral

Ou mesmo entre em coma

Promete-me que um dia apareces

Nem que seja para me ver numa redoma

 Sou a memória do que já está morto

Do que ninguém quer tocar

Para não cheirar o esgoto

Do que dói recordar

 Quando me renegaste

Fiquei aliviado por ti

Mas dilacerado por mim

E até hoje ainda ressoa

Aquela frase

Que nunca mais

Falarás comigo

E me fazes sentir um lixo.