Serás meu amigo, irmão, esconderijo,

Mesmo quando te lembrares de mim

Apenas uma vez por ano ou nem tanto?

Rendição

Entrego-me a ti
Armas depostas

Queria não ter mais língua

Para não desejar o sabor do teu corpo

Nem mãos que possam tocar-te com gosto

De nada me serve ter pernas

Se não vou entrelaçá-las na tua cintura

Nem pés que se cruzem com os teus

Ou ombro que te sirva de encosto

Nem braços para se ligarem e enroscarem em ti

Nem sexo que nos eleve a Deus

Ou mesmo boca para que me respires a mim

Queria não ter mais olhos

Se não posso fechá-los

Contigo a meu lado

E principalmente

Não quero mais ter coração

Se ele vive a sangrar

Com tanta desilusão

O que fui para ti

 Que fui eu para ti

Senão água quando tinhas sede

E fogo quando eras só cinza

E terra quando o furacão vinha

E ar quando faltava respirar?

Somos o lugar onde pertencemos

Sem nunca termos estado sequer.

 Há um tipo de amor tão denso e gigante, que não conseguimos nem mencionar porque já dói demais. 

 Se eu morrer agora

Sabes que te amei

Mais do que tudo

Dentro e fora

De tudo te desejei

O melhor do mundo

 O que me interessa é a profundidade

Mas ela é sempre escavada

Do buraco da dor

Eu flutuando e mergulhando

Atinjo-a

Como sou com o meu amor

Amor modernista

 Nunca poderás sequer imaginar

O tanto que eu te amo

Sempre que dançamos 

Essa canção imaginária

Na minha cabeça Ponteio

E a imagem de nós

Bailarinos no vento

Pois só ele é modernista

Como nós.

 "Possibilidade sim, expectativa não".
Quando algo que era completamente impossível de acontecer acontece mesmo sem nunca termos sequer posto essa possibilidade, além de a própria impossibilidade de nós estarmos vivos continuar a concretizar-se, tudo fica ainda mais confuso. 

 Parece que em tudo o que faço

Meu subconsciente pőe-te a ti

Seja numa palavra ou som

Seja num sem nada ou com

Pois metade de ti está em mim

Não há como desfazer esse laço

 O que eu te quero dizer e consigo verbalizar em relação ao que aconteceu escreverei melhor numa carta. Quem sabe um dia entrego-ta. Coisas impossíveis também acontecem. 

(O Eddie por ex tem me escrito)

 Entre a angústia, a agonia e o desespero agudizante, vem o sol iluminar o teu caminho mesmo quando não sais do lugar.

 Nunca perder de vista:

A palma da tua mão

Os teus olhos

O teu coração

É intrínseca esta impressão
Gritante por todos os poros
De que só o nosso coração
Pode afagar as nossas almas
E ninguém mais de coros

 Fui ceifada pela metade
Corpo inerte cortado
Estraçalhado
Perdi a amizade
Sou ser acabado

Dei-te o meu ar
A minha força vital
Foste meu ar
Minha vida normal
Hoje envolto-me
Em arame farpado
Sou ser mal amado
Não alegre solto-me
Abano-me louco
Culpo-me mouco
Pela persistência
De um teu olhar
Sou triste
É genése
Alguém que não existe
Deixei a arma em riste
Num canto largada
Vira e mexe
Foi disparada

 Desnudando camadas
O lodo espesso
Pantanoso
De areias movediças
Corpo mais leve
Alma a clarear
Disparando feixes 
Em impulsos de luz
Estelar
Mergulhados no breu
Abraçando as trevas
Só tu e eu
Dás-me agora 
O que me levas

 Um homem só se torna num ser humano quando deixa de ser um homem, ou seja, quando deixa de apenas cumprir o seu papel de homem, imposto pela sociedade.

 Não escrevo o óbvio

Nem tanto dou uma

De decifra-me 

Ou te devoro

Espero sempre

Por ti

De manhã na janela

De noite ao meu lado

Enquanto te afago

O cabelo de carinho

Porque sempre foste

Sim

O meu menino

Homem e Mulher

 Queres-me casta

Pura

Translúcida até

E eu que sou pele e osso

Que um dia lambeste

No intervalo algo longo

Entre as tuas ninfetas

Tenho de te querer assim

Sacana, torpe e até vil

Ditador, manipulador

Meio tarado, pornógrafo,

Psicopata meio senil

Mas sim, sei quem somos

Pois todos descendemos 

De ancestrais tribais homicidas

Tudo

 Tu és tudo para mim:

Guerra e paz

Tormento e alimento

Consagração e derrota

Glória e consternação

Vida e falecimento

História e momento

Calma e tempestade

Palavras e silêncio

Princípio, meio e fim

Maior e menor

Grandiosidade e detalhe

Simplicidade e complexidade

Amor e dor

Indescritível e visível

Saudade e piedade.

(mother brought pietá and st rita)

 Ser escolhida, como uma planta, dentre milhares. Isso sim, era especial e verdadeiro.

Interestelar

 Por mais que as circunstâncias doam, saber que só há uma pessoa no Mundo com quem se tem esta ligação toda é algo ao mesmo tempo incrível e de explodir o cérebro. As mesmas coisas até encaixar tudo. Estranhamente interestelar. 

 Deixas-me meio zonza

A tua incandescência 

Queima o meu interior

Corpo morto de silêncio

Levando numa onda

Da reverberação da essência

Tudo o que é o amor

( à Anais Nin)

Redenção

 nunca acreditei que gostasses de mim

pensava que era coisa da cabeça dos outros

e que eu era só um incómodo para ti

Todos nascemos e morremos culpados

mas só tu podes absolver-me do meu pecado

Na hora da despedida

 Ele achou que se tivéssemos vivido juntos teríamos continuado; já eu achava que era precisamente por não o termos feito é que continuámos até onde deu.

 Tivesse eu te amado

Amar-te-ia cada centímetro

Como se fosse consumir-te

De adoração e desejo

Quase seria incomportável

Apenas sequer um beijo

 O meu orgulho e os meus princípios mataram-me para a vida. 

Maltratantes

 Ele amou-me ; eu maltratei-o

Eu amei-o ; ele maltratou-me

 Que não nos queiramos como troféus

Como na verdade quisemos os outros

Mas sim porque não passamos assim

Um sem o outro perto como estamos

Sempre no coração e no pensamento

Mãos entrelaçadas quando há vento

Eu e tu flutuando nas águas do rio

Voando pelas nuvens altas do céu

Entranhados no corpo ao léu

Eu e tu viajando no mel da voz

Que a sós lambemos de nós

Só para acabarmos em ciclo de fricção

Como é sempre essa nossa rivalização.

 Não temos nada a ver

Os nossos corpos

Disformes, desproporcionais

Mas no entanto

Há um lado oculto em nós

Em que somos só os dois

Assim

Irmãos

Gémeos

Fetais aninhados frente a frente

Museu das Maravilhas

 Será que tu exististe há décadas atrás, ou mesmo ainda irás existir no futuro? A única pessoa que me podia amar e que eu podia amar. A verdadeira minha pessoa e eu dele.

As crianças que se salvaram uma à outra sem se falar. Ambas surdas para o mundo. Fugitivas criando um mundo só delas. Desejando-o. Mas não existe presente.

 Passei do chão

Décadas lentamente

A afundar-me

Nas areias movediças

De não ter coração

Que tivesse mente

E levantasse-me

Pelas suas delícias

 Se tu sabes, diz-me.

A morte final

 A morte é final e derradeira, não existe outra vida, mas nós enquanto seres humanos com consciência disso não queremos acreditar. Preferimos digladiarmo-nos e crer num além, numa vida ainda melhor. 

Pois o contrário seria insuportável de se saber, tornaria a vida completamente vã e desesperante. 

Ora eu sempre tive a presença dessa consciência demasiado perto, daí a minha impossibilidade de viver. Ainda mais quando entendi que viver à séria é só entupirmo-nos de experiências que depois nos deixam com o pico contrário dessas euforias angariadas e só servem para fugir da inescapável morte ilusoriamente. 

Mas "cada um é como é". Eu não desejo a minha sina a ninguém. Almejo por sossego e paz como água no deserto e vou ficando enquanto dá. O que deu só me aconteceu. Já foi tudo demasiado. Passei a vida a querer ser normal como as outras pessoas. Nunca aconteceu até hoje e quando me esforcei parecia que era como sempre só eu a ser aquilo que as pessoas precisavam de mim. 

Isto de não ser nada é o fim. 

Não querer, nunca foi só porque me condicionaram a isso, ou por falta de condiçőes; foi porque não sabia o que querer, porque nada me faz sentido.

Nada sou

O objectivo de nada ser

Para que tudo ficasse aberto

No reino das possibilidades

Fez-me atingir o nada supremo

Ser a pessoa que nada é

E que por isso podia ser tudo

Mas escolheu não ser 

Porque nada do que foi

Foi suficiente sequer.

Hecatombe do Amor

 O mal que reside em mim

É histórico e catastrófico

Como hecatombe apocalíptica

Fez-me não poder amar

Nunca amar verdadeiramente

Porque o amor é simples

E bonito e saudável

Eu pensei que o tinha contigo

Naqueles bíblicos anos

Mas a verdade é que não podia

Porque sou o homem desenganado

O que só ama quem não deve ser amado

Vibra o sangue

 A tua mão na minha cria vida

Vibra o sangue nas veias

Os tendőes ficam a tinir

Os nossos coraçőes em uníssono

Independentemente de tudo

Vou estar sempre aqui para ti

Podes contar comigo 

Quando precisares.

Promessas que nos fizemos

 Disseste que estamos juntos sempre e eu queria agora pedir-te que nunca me abandonasses. Tenho tantas saudades tuas neste tempo todo, apesar de te sentir sempre comigo, no meu pensamento e no meu coração. Só queria de novo escutar aquela nossa canção. 

Medo, tanto medo

 O coração taquicárdico

Não pára de gotejar

Tenho terror do que possa acontecer

Faltam poucos dias

Não sei se terei forças para tudo

Só o medo me tem agora

Até ao último fio de cabelo

O corpo acossado de pavor

Enfrentar o perigo

A noite aberta

O medo do fim

 Afundo-me

Sabendo que estás com outra pessoa

Que não sou eu o amor da tua vida

A pessoa que precisas para sentir

Para respirar e acalmar

Como flutuámos um dia

E me seguraste o corpo no oceano

O teu corpo altivo sempre meu farol

Ciúme

 Tenho ciúmes. Tenho ânsia. 

Isso é amor, paixão?

Para quê, coração?

Tudo é ilusão.

O ciúme é apenas tristeza.

 De todas as narrativas que criei tu foste a mais mirabolante, com certeza. Deve ser mesmo efeito também de eu estar a morrer e ser imprestável.

 Porque é só contigo que tem significado.

 Destruo tudo

Porque tudo é nadasó

Porque é tudo destruível

Pecado original

 Os momentos em que te desejei foram quase como se estivesse a cometer um pecado de incesto ou até pedofilia, daí ter-me debatido e condenado tanto. Esse desejo de te guardar comigo sempre como se fosses pequenino, de te consumir, de seres meu e eu tua, cúmplices como sempre. Será esse também o pecado original? O que não tem princípio nem fim. 

Dicotomia

 Falo quando não quero

Quando quero não falo

Canto a pensar em ti

Mas a ti só espanto

Vira e mexe regresso

Como se fosse fatalidade

É íman para recomeço

Só pra acordar pra realidade

De uma estrada dividida

Que nunca se cruza

Em vida de quem chora dor

Só usa e deita fora cuspida

Quem foi o seu maior amor

Constatação da "condenação da alma"

 É, pior que não tem que ver com estar longe, com ser físico, com ter de ver para tirar dúvida ou quebrar-se qualquer encanto, não, é pior que isso tudo, é a tal porra do amor puro que nada o ultrapassa ou contém. Se ao menos ele também tivesse sentido e entendesse, tudo teria sido evitável no estrago que me impeliram a ter de fazer.

É como da outra vez o sentimento de alma. 

Amparo

 Falta-me o teu amparo

Assim como o meu a ti

Desejo o teu carinho

Só mais uma vez 

Perto de mim

Agradeço tudo o que vivi

Contigo era tão aflita

Só eu sei tudo o que sofri

Fizeste-me querer ser bonita

Como poderias tu gostar

De alguém como eu

Que não existo 

Senão no breu

A exaustão que sinto

Só quer desmaiar

No teu peito

E ficar a escutar

O bater do teu coração.

De novo

 Quando há dúvidas não há dúvidas.

Oculto

 Hoje sei que o oculto que nos move é mais poderoso que nós que só nos conhecemos a nós mesmos uns 5%. 

De vez em quando surjo em ti como tu em mim, naquela memória doce aconchegante de quem diz "tudo bem, tudo certo". Como era raro e bonito de se ter. Deixei que me transformassem no pior para terem todos o melhor menos eu que só agora voltei a mim mesma. 

Finalmente, sou eu mais de novo, com o meu silêncio e quietude e inexistência.

 Será que vais detestar-me para sempre?

Se ao menos eu não tivesse escutado tudo o que me disseram...

 Ontem queria ter me despedido convenientemente de vocês. Hoje lembrei de que não gosto de despedidas.

 Estes últimos dois anos estão a ser tão horríveis que eu envelheci uns 20 anos e quis morrer na maior parte dos dias. Eu preciso desligar de vez. 

Pőe isto na cabeça antes que morras

 Eles não estão aí para ti, não querem saber de ti, não te amam, não te querem com eles, poe isso pára de morrer ainda mais rápido por causa deles. Tu aprendeste a amar pessoas que não te amam porque foste feita assim em criança com quem era suposto amar-te, infelizmente. 

Obrigada, de nada...

Redenção ho'oponopono

 Perdoa-me, desculpa-me, eu amo-te, obrigada. 

Moribunda

 E mais uma vez quem disse "pode contar comigo" não estava mesmo a falar a sério. As pessoas nunca estão lá para mim assim que sabem que estou a morrer. Torno-me nalgo pesado demais, já não conto, é como se já tivesse ido desta, ninguém gosta de entrar em contacto com a morte, só nos querem para fazê-los sentirem-se vivos, ou melhores pessoas por estarem a ser piedosos, ou até mesmo para se aliviarem das suas próprias vidas relativizando com a minha. É sempre assim, uma tristeza maior para mim quando ingenuamente acredito feito a pior burra que sou.

Se eu tivesse sabido

 Se eu tivesse sabido que me amavas de verdade, tudo teria feito para que não fosse só saudade e o nosso sentimento se unisse na realidade.

Se eu tivesse sabido que também sentias o mesmo, antes mesmo de eu começar a senti-lo igualmente, tudo teria feito para que nos encontrássemos e nunca mais nos largássemos. 

Se eu tivesse sabido, não teria rezado para que encontrasses alguém para não sofreres e que eu pudesse saber para se acabar tudo o que imaginámos. 

Afinal o fim do mundo só aconteceu para mim e eu sempre soube que ia ser assim, daí que se eu tivesse sabido que eras tu quem me amavas de verdade eu jamais teria te julgado.

Aprendizagem de anos de amor

 Ela é perfeita para ti em tudo

Assim como ele foi para mim

Parecerá que é para envelhecer

Juntos até morrer

Só verás que ela é a tua pessoa

A que te preenche tudo em ti

A que tu tanto desejas e adoras

Assim como ele foi comigo

Mas depois passados anos

Finalmente terás de admitir

Que foi mais paixão e engano

Cegueira de quem tinha quase tudo

Porque há um quê que não bate

Que sempre esteve lá no fundo,

E só depois é que se revela

Quando os olhos enxergam o mundo

E depois maior que tudo isso

Quando pensas que o amor acabou

Que ele nunca existiu sequer

Pois amar alguém é construir ilusão

Acomodar-se, conformar-se e mentir-se,

Vais entender que só há uma força

Que te une a alguém verdadeiramente

E que é a maior que existe eterna

E nem sempre é assim tão boa

Tão saudável como esse amor foi.

Eu também preferia não ter descoberto

Mas só o que está fatalnente ligado é certo.


(acrescento a 26/02/2024: só existe eu e tu, coisa da alma eterna e condenada, não sei se alguma vez mais entenderemos de vez)

Meu tudo

 Meu irmão, meu tudo, minha alma,

Meu castigo, meu perdão, minha calma,

Onde andas tu que não me levas contigo

Ou melhor, levas sempre dentro de ti

Como eu te carrego dentro de mim

És o meu abraço e eu teu regaço

És o meu sono sagrado e eu teu aço

Meu amor maior, minha raiz,

Meu senhor, amo, guardião e meu petiz.

O tempo

 O tempo brincou connosco

Fez-nos perder de nós

Choro ao lembrar 

Como dói agora

Nunca mais te encontrar

Amar-te como te amei

Continuarei com isso

Guardado no peito

Coração dilacerado

Por esse amor 

Desencontrado

Não sou Sónia do Crime e Castigo, mas...

 Estou em crer

Que o que me impede

Estupidamente de morrer

É mesmo porque te fiz sofrer

E não me consigo perdoar

Por todo o mal que te fiz

Enquanto também sofro

Porque apenas o bem te quis

Talvez se conseguisse a paz

Entre nós que tu não queres

Mas assim continuo a definhar

Porém sem ainda por fim terminar

Para que todos possam ter alívio.

Meu crime e pior castigo.

A noite sangrenta

 No vácuo da noite

Escutei os teus passos

O céu vermelho de testemunha

A chuva aumentava

Seco ar que se alastrava

Até à humidade aguda do grito

A faca que cortou o silêncio

Alertou o olhar aflito

E tu apenas um vulto

Uma sombra que reconheço

Mas que nunca quero ver

Quem és tu agora?

Outubro irás morrer.

O sonho italiano morreu

 As pessoas que eu mais amo presentemente são as que me ignoram porque eu assim fiz para que tudo fosse. Sangro todos os dias, o meu coração esvaindo-se e vez em quando ainda com taquicardias, como começaram desde que a nossa mamã iniciou a sua passagem para o outro mundo. Entretanto tive aquela visão, ou sei lá, dela num sítio que me parecia a Toscana, feliz ao lado do seu pintor. Agora que me recordo, talvez fosse só o meu subconsciente a querer acreditar naquele momento que é possível duas pessoas que gostaram muito uma da outra mas não puderam encontrar-se em vida, se reunem ao morrerem poucos anos depois. 

Eu sei que estou a definhar aceleradamente nos últimos dois anos, estando num estado extremamente debilitado e já bastante impossível de ter uma vida normal. O sonho de ter ido para Florença estudar luz e sombra ficou em 2020 impedido, mas nem sei se eu teria arriscado o vôo e tudo mesmo, não falo só da possível hemorragia interna. 

Ontem apercebi-me de que fiquei 7 anos antes sempre sem quase sair senão para as consultas médicas mensais, por causa de ter de cuidar do meu pai que nunca queria sair e também não dava muito para ele, mas também não o podia deixar sozinho por causa de todos os problemas que ocorriam. 

Depois com mais este pesadelo da pandemia tudo se agravou para mim, como se os piores pesadelos se tornassem realidade ainda pior. Por isso, tenho mesmo de acabar com a porcaria da esperança, dos sonhos, de ficar melhor de saúde que só piora, do amor, de tudo o que ainda só me traz mais dor e dor todos os dias. 

Antigamente estava mais resignada. Agora estou cansada de ter tido tanta esperança activa de novo em vão para sonhos de Arte impossíveis. Para não falar de tudo das pessoas, que nem sequer estiveram cientes e foi mesmo melhor que nunca me tivessem amado muito como eu as amo. Só me resta admitir que o sonho de Itália acabou. É bom que a minha mãe vai lá já pela segunda vez. Desta vez eu sabendo e mais com a frase que meu irmão disse de que ainda posso ir um dia, fez-me entender a minha realidade funesta e poder chorar sinceramente sobre a sua verdadeira admissão e de tudo a que não tive direito. 

Isto, claro, buscou muitas coisas de mim que já não pensava há um bocadito. 

Eu mereci todo o desprezo com que me trataram, penso sempre, porque eu sempre detestei estar viva e odiei-me por me sentir a pessoa mais horrível do mundo e a sofrer e a querer morrer todos dias por causa de quem me pôs no mundo. 

Hoje, mais velha, com os anos de desconstrução e também a terapia de 2018-2020 e 2021-até agora, consegui observar tudo ainda melhor e mais aprofundadamente, ver todo o estrago irrecuperável pela falta de condiçőes que eu tenho para poder reconstruir-me como algo mais sarado de todos os milhentos traumas. 

E chego à mesma conclusão de que ao contrário do que disse quem me proferiu "você merece ser amada" (e também não me ligam nenhuma na verdade se não for eu a dizer algo lol), eu não senti que mereça e por isso nunca aceitei plenamente, pois ninguém me fez acreditar o contrário com o seu "tão grande amor" que só me abandonou como todos.

Piano piano non sono andato lontano.

 Gostava de te ter amado mesmo

Mas nunca se escolhe quem se ama

Lamento que nunca tenha visto

A ti com olhos cegos de paixão

Já a Lua só brilha pelo Sol

Ela própria não tem a sua luz

Talvez se fosses realmente decente

Aí sim eu teria te amado sempre

Escombro

 Tu agrediste-me

Perfuraste-me a mente

Arrombaste-me o coração

Aniquilaste-me o espírito

Sugaste-me o sangue

Mastigaste-me a pouca carne

Chupaste-me os ossos

Tudo isto depois de me dares vida

De me lamberes a pele

De me encheres a alma

De me soprares riso

De me beijares no ombro

...

Agora sou só escombro

Essa é que é essa

Pessoas que estão habituadas a serem amadas por muitos desleixam-se e estão a lixar-se mais facilmente para as pessoas do que as que tiveram pouco amor nas suas vidas e dão muito mais valor a ele. 

 O Amor é a maior falácia 

que a sociedade criou

centralizando o fellatio

como foi Deus que mandou

Mais do que nós

 É como se houvesse 4 de nós:

uma que fala contigo 

não dizendo coisa com coisa

e tu sempre a contestar

e outra que nada te dizendo

não precisa nem falar 

para te dizer a verdade

que tu sabes escutar no olhar

e só quer nos teus braços repousar

nesse outro tu que me sabe embalar.

Talvez assim eu me entendesse

 Como seria bom que os sentimentos fossem escritos em pedra para sabermos exactamente quais são e durarem tempo suficiente para serem efectivamente. 

 Encontro-te quando não virmos mais o corpo um do outro

E só formos tu e eu

Lembranças

 Hoje percebi que todos os amigos que mais amei como irmãos, exceptuando umas duas amigas na infância/adolescência, fiz sempre o melhor que pensava para eles, às custas de rebentar comigo mesma e com a nossa amizade. 

Não sei se hoje em dia ficou algum carinho por mim da parte deles, apenas sei de alguns que sim, mas não dos casos piores, esses nunca mais tive exacta noção embora cá dentro de mim também tenha sentimentos contraditórios. 

Dizem que a idade e o tempo passando vão atenuando tudo, esquecendo muita coisa, mas há tanta coisa forte, que ainda me lembro dessas pessoas, apesar de ter ideia de que elas não se lembram. Pode ser que seja só o meu sistema de autodefesa a falar. Na verdade, as coisas de que os outros se lembram maioritariamente connosco nunca são as que pensamos, por acaso já pude comprovar com algumas pessoas. 

De modo que é tudo mesmo incerto e relativo, visto cada um ter a sua própria perspectiva e memória do ocorrido.

Eu gostava que ele se lembrasse de mim com carinho, apesar de tudo e que eu também mantenha sempre este mesmo sentimento que era o mais bonito.

Era uma vez uma tonta

 Porque é que tenho saudades tuas

Se não te conheço mesmo

Se dizes que não és real para mim

Se não existes sequer no que sinto

Porque é que há esta força maior

A puxar-me e já estou dentro de ti

Sem os olhos abrir

Corpos tão desiguais

O meu apenas velhice e ossos

Por isso também não quero que vejas

E guardes só aquela memória 

Meio ébria meio iluminada

Meio embaraçada sem ser eu

Apenas mais uma tonta que te aconteceu

Como me puseste nessa categoria

Em que me encaixei a ver se te ajudava

A ensinar o que era preciso que visses

E parasses de fazer como me contaram

Mas no fundo se eu escolhesse hoje

Não tinha feito rigorosamente nada.

Todos os dias

 Todos os dias e todos os momentos, eu penso em ti  ou tento não pensar (o que acaba por dar no mesmo, até quando é suposto estar distraída). 

Ficas aqui alojado na nuca, muitas vezes no estômago, mormente no coração, mas corres pelas minhas veias também e por vezes quando estou deitada repousas no meu peito. 

Regressar a ser Samadhi

 O bom de ser Samadhi é poder apagar tudo. O mau é que todos os dias se tem de o fazer. 

Quando já não se sente nada, finalmente, entra o vazio. Aí é que se decide verdadeiramente se quer voltar a preenchê-lo. Eu tenho de parar mais vezes para lembrar, pois nos últimos dois anos deixei-me regressar demasiado à humanidade sem a observar e só a absorver.

 Passei a vida à espera de alguém que não existe que seria a pessoa que me faria sentir verdadeiramente amada e que fosse como eu, assim sem nunca me fazer sentir sem ninguém no mundo, completamente só e única. Nem com as pessoas que mais me disseram amar, depois abandonaram-me também, apesar de sentir como a mesma alma provavelmente por reconhecermo-nos numa dor similar, uma necessidade de momento que é criada e satisfeita, senti plenamente (embora tivesse aqueles momentos de pensar que nos pertencíamos tanto que podíamos morrer naquele abraço).

 E enquanto o meu corpo dá sinais de estar a decidir-se entre matar-me com uma hemorragia interna ou com uma crise de Addison, eu só penso em como (não sendo algo físico) eu te amei mais do que tudo nesta porra desta vida (e como era contigo que eu queria só estar do lado para sempre e nunca te disse exactamente) mas tu não. "O Sol não pode viver perto da Lua"; eu errei quando juntei minha alma à tua.

 Para a próxima vez, se eu ainda cometer a estupidez de maltratar a pessoa que parece gostar de mim para afastá-la, podem dar-me um tiro. É um favor que fazem à Humanidade. Obrigada. 

 Não bastava a crise existencial mensal desde criança, mais as crises de Addison nos últimos anos, tinhas ainda de arranjar uma crise de meia idade para completar o pacote emergencial. Parabéns, obrigada, de nada.

Esse amor

 Esse amor que maldisseste

Maltrataste e renegaste

Insultaste e invalidaste

Zombaste e jogaste no lixo

E tudo porquê?

Morrer é só não ser visto, já dizia Pessoa

 Não existe ninguém no mundo que seja como eu uma gata borralheira ao contrârio, que acorda às doze badaladas.

 Hoje ao ver uma cena ficcional na tv de uma mulher que recebe uma notícia e vai se jogar no mar para se deixar levar, mas é salva pelo marido que chega a tempo enquanto ela está a afogar-se, chorei. E voltou tudo de novo: o mesmo "é doce morrer no mar".

Têm sido anos de guerra comigo mesma, sim, eu sei, as doenças autoimunes, elas predispőem para o suicídio, mas eu sinto que não quero viver nas condiçőes em que vivo desde os meus 12 anos ou antes até. Por isso, não sei se é o ovo ou a galinha, neste caso. 

É tudo tão terrivelmente confuso e até contraditório no que diz respeito a querer morrer mas a lutar tanto para continuar viva e achar um bocado afrontoso os amigos que não aguentaram e se suicidaram, enfim. Nem nisso tenho claridade suficiente. 

A minha racionalidade extrema e a minha sensibilidade imperativa digladiam-se toda a hora, embora a minha racionalidade tenda a ganhar, talvez só mesmo para me poupar a mais sofrimentos. 

Tudo em mim está derrotado: este corpo cada vez mais amassado, pele e osso agora como nunca amarrotados, a mente obliterada e apenas obcecada em compreender o que está por detrás de tudo o que se passou, porque é que eu fui agir assim sem pensar na dor que me ia causar a mim perdê-los. Não pode ser que a tal da autosabotagem de outrora me tenha levado a tal defesa, pode? Provavelmente sim, tudo para que ninguém sofra por minha causa, pela minha morte lenta e agonizante. 

Enfim, não há remédio mesmo porque não consigo sequer querer ter o direito de recuperar seja o que for e mesmo depois de já me ter consciencializado e mantendo poucas pessoas em contacto, permitindo assim, continuo a achar mau eles aproximarem-se ou apegarem-se, habituarem-se, porque depois dói mais. Mantenho este difícil dilema dentro de mim. 

Morrer é só não ser visto, já dizia Pessoa, e na modernidade das visualizaçőes isso toma ainda mais veracidade, de modo que também notei e já fiz por isso. Gradualmente, pensei que me esqueceriam completamente. Ainda não aconteceu, no entanto, com todos, mas como esperado mais com quem sabe da minha condição, e eu continuo viva ainda quase. Só espero não chegar a um ponto em que comece a ter convulsőes como li ser um dos sintomas das crises piores e fatais. Não queria sofrer ainda mais do que já sofro e sofri, como é óbvio, com tanta porcaria na minha vida inteira de dor e calvário, além de sempre desapoiada. 

Continuo tão cansada, a exaustão e este arrastamento, fazem também desejar às vezes que acabe logo todo o tormento.

Casamento

 Não te tenho serventia

Nem ao Mundo

Sou apenas inútil Poesia

Mas ao contrário de antes

Se me pedisses casaria

(Faltam 20dias pro casório d W&F <3)

Cego

 Não conheço a tua cor

Os teus olhos de menina

Estou preso em areia movediça

Num pântano onde ninguém entra

Não há quem me tire de dentro de mim

Talvez os teus braços fossem fortes

Talvez as tuas mãos me puxassem

Talvez a tua água límpida me lavasse

Mas não te sei enxergar vendo-te

Não consigo vislumbrar se és belo

Senão pela beleza da ternura de te sentir

E só a tua voz soube apagar-me de mim

O que sobra?

 Como dizes o que sobra?

Como desenhas o som do mar?

Nenhum navio chega para trazer

Tudo o que querias que viesse

Não há vento, nem ondas,

Não há tempestades,

Não há sorrisos,

Não há olhares.

 Há algo que fala mais alto

Rasga o peito

Explode a mente

Porque o coração é papel

E a cabeça uma bomba

E da tua boca só sai fel

Das tuas mãos uma escrita

De ataques, cardíaca

Acabou-se o mel

Já não se descansa à sombra

E eu, que toquei nos teus lábios

Nunca te ouvi senão os traumas

E a mentira em que fiz para ti

Quereres

 Não fui a tempo de fazer tudo o que queria ter feito. Sei que eram milhares de coisas para as quais a saúde e a falta de condiçőes me falhou desde criança. No entanto, com alguma teimosia, pus-me a fazer mais do que podia sofrendo com as vis consequências disso. Dizem muitas vezes que mais vale viver a arder intensamente do que viver sem saber o que é viver. 

Mesmo assim adaptei-me de tal modo ao pouco que consegui com a minha mente e coração activos. Foi o que deu. Darwin havia de aplaudir certamente hehe

Claro que tive pena de não viver em Florença uns tempos para aprender a técnica de chiaroscuro à renascentista; de não ter podido embalar nas palmas das mãos uma peónia; de não visitar os lençóis maranhenses, a cueva de los cristales, o salar de uyuni, a blue lagoon, Madagáscar e tantos outros sítios lindos da maravilha natural deste planeta com praias e cachoeiras, etc. Tantas coisas que tirariam o fôlego, me lavariam a alma e outras tantas que me preencheriam o espírito como Kyoto e Okinawa, como Ladakh e Varanasi.

Tudo o que os meus sentidos queriam ter consumido, desde os movimentos dos tsurus nos seus rituais de acasalamento até aos perfumes feitos pelos mais antigos artesãos, as massas delle nonne, as sobas, a feitura dos tachos de ferro das castas em extinção, a seda mulberry, os sabores puros de Jiro, brincar com belugas, surfar nas ondas ao pôr-do-sol.

...

Ter ouvido a tua voz sem modulação. Ter escutado o teu coração.

Contra-argumentar

 Tens alguém que te ama mesmo sabendo-te a maior peste que és LOL o que queres mais?

Se eu soubesse que somos mesmo nós... Pior que eu sei, por vezes nem eu consigo contra-argumentar. Mas lá está, isso não quer dizer nada em termos práticos e possíveis. Ah, pronto, lá estou eu a contra-argumentar. Fica mas é com a tua delico-doce perfeita que te fui arranjar, obrigada, de nada.

The queen is dead, long live the queen, só que não, mas sim porque já foi muito tarde que durou; o meu luto é pelo outro assumir, mas é. Monarquias esclavagistas, em vez de potenciarem e munirem o povo todo para progresso ainda maior de todos e para todos.

Enfim...

Hipocrisia

 A hipocrisia abunda na tua língua

Fazes o contrário do que pregas

Aldrabas meio mundo

Mandas passear o outro meio

És dos que trazes e levas

Manipulando as hostes

Fico a observar com asco

A tua mentira que semeias

Fazendo infértil todo o pasto

Continuando incólume

Nessa psicopatia disforme

 Entristeço-te?

Tens esse incómodo

No estômago

Quiseste ser louco

Mas todos os melhores são

Já dizia a Alice das pessoas

Embora ingénua e perdida

E eu ... guardo o teu sabor 

Da pele de pôr-do-sol e sal

Na minha língua sequiosa

 O que é pior: ter um amor platónico por alguém moribundo, ou amar alguém que não existe?

Amores

 Sou a pessoa que encontrou amores tão intensos e bonitos como é raro. 

Ultimamente, esses que encontrei também são muito bonitos e leves, apesar de me pesar tanto a minha circunstância. 

Agora estou a ficar mais conformada e a não achar que foi a pior coisa que me podia acontecer nesta altura da vida. 

Aliás, o amor maior do que tudo e que é idílico, será assim sempre meu, afinal. Sempre que eu me lembrar de certas coisas que ocorreram, poucas, poderei sentir a sua plenitude. Ele é só meu, tão completa e inteiramente meu, todo meu. Até porque ele sempre foi meu e eu dele, através dos tempos.

Querer _ mais uma epifania, obrigada

 O que eu quero

 nunca existiu tal e qual

Senão eu havia de querer

mesmo

E quero, só que não há 

e de quase perfeitos 

que não são afinal

e que tudo acaba e passa

e etc., também não ajuda...

(Só para ficar registado mesmo)

Maravilha

 O que me maravilha nele 
é a forma como me insulta
e tantas vezes me exulta
no que digo e no que sinto
seja por imitação ou condenação
por agressividade ou maldade
tanta questionação
e a sua brava teimosia 
que esbarra na minha irritação
e a dele que choca 
com a minha persistência
e a raiva e o ódio que me tem
e a minha luz funde e a água entorna
fora esses besouros de mil martas mortas 
que me têm andado à volta
e eu tenho resistido mas não
já que tudo conseguiram então
mas tudo aconteceu como previsível
excepto por um senão
que até é um bem visível
nessa aprendizagem diária.

Cuando tú te hayas ido / Me envolverán las sombras

Sou quem quis buscar silêncio,
sossego, paz, tratar os traumas,
amenizar as dores, as mortes,
todos os horrores dos Homens,
as loucuras e absurdos,
as inúteis palavras,
os vácuos barulhos,
os assassínios,
as violações de crianças,
os canibalismos das mulheres,
a poluição dos seres humanos
a destruição da Natureza.

Mas não consegui
Todos são feitos do mesmo
Lixos produtores de lixos
Com raros actos de entreajuda
E ainda mais únicos de altruísmo.

Olhos de mar

 Curioso pensar que me amas agora pelo mau feitio que me fizeste ter. É verdade o que dizes, que não quero visitas, mas queria sim voltar a ver os teus olhos de mar que são só meus para guardar. 

 Quando peneiras a realidade

Ficam só os grãos da saudade

Sinto a tua falta

 Sinto a tua falta

Mar da minha vida

Sem ti nem vivo

Nada vale a pena

Tudo perdeu a graça

Se ao menos soubesse

Que também sentes

Saudades minhas

Que sou quem amas

Mais do que tudo 

O que já existiu

Num sentimento maior

Que o próprio amor

Sinto tanto a tua falta

...

nestas sociedades modernas, é difícil morrer ...

7 anos no amor

 7 anos é quanto dura o meu amor

Uma e outra vez

Nunca mais estarei com ninguém

Não sou o amor da vida de alguém

 Um amor feito de música

Transborda pelo universo

Em ondas de rádio sibilante

E chega à sílaba silente

Eu só escuto

E mergulho no silêncio

Vai-se lá perceber...

 Hoje decidi por diamantes azuis. Mas fui sonhar supostamente com as tuas batatas que alguém estava a fazer. 

 Só queria voltar à altura antes da pandemia e de tudo ficar ainda pior.

Nunca amei antes assim

Choro ao escutar-te

Porque fui cobarde

Como nunca fui antes

Nem soube amar-te

Ao contrário de todos

E ainda não entendo

Como foi me acontecer

De tão "estranho e forte"

Um amor maior antes da morte

Parabéns, obrigada, de nada.

 Querer morrer por causa do que uma pessoa nos faz a vida toda é o maior inferno em que se pode estar. 

Fora tudo o resto de mau que me fustiga. 

Lutar todos os dias para estar vivo para nada é uma coisa estúpida, sei bem. 

Se eu antes não importava, agora que estou a envelhecer ainda mais e a definhar é natural que ninguém me cante mais os parabéns.

 Tudo o que eu faço tem um destinatário desconhecido, esse amor que me consome.

 Atravessaste o Tempo comigo

e eu só agora dei por isso

Só resta um amor

 Algo se quebrou em mim

Quando eles me atraiçoaram

Uma desconfiança sem fim

Foi só o que me deixaram

Não pude mais acreditar

Com tamanho bloqueio

Nem me deixei abraçar

Um corpo afasta de medo

Deixei de poder confiar

Porque me mentiram

E depois me abandonar

E ao que sentiram

Mataram tudo por dentro

Ora que raio de amor é

Se não fica como centro

Em que não se perde a fé

Esse outro que continua

E que é a excepção

É rochoso como a lua

Mas com lava de vulcão

Dói

 Dói-me a barriga

Parece que nem contrariar pensamentos

Contrapondo e interrompendo maus

Funciona já para acalmar o que vem

Em anunciada tempestade

Enxurrada que chega e leva tudo

Num aluimento de terras

Que o meu coração com palpitaçőes

Não aguenta também

 Eu não sei

Eu não gosto

Eu não compreendo

Mas deixo-me ir

Porque é mais forte do que eu

E do que tudo que já esqueci

 Mostra quem és

E a quem ficar

(Se ficar alguém)

Não vires as costas

 Não tenho tempo a perder com quem não tem coração

Porque sangro todos os dias

Pelo meu irmão

E a violência do olho por olho não me interessa

A perpetuarem séculos de sangrias

 Transformei a dor em arte

Dizem

Eu não sei

Talvez tenha sido forçada

Porque senão não sobrevivia

Só sei que eu sou a dor 

E a arte

Líder da minha cabeça

 Não acredito em ditaduras da mente

E isto inclui essa mesma crença

No entanto a excepção está presente

Porque tu és a minha sentença

O pecado que não é expiável

O corpo que não é desejável

A vida que me é impossível

A definição única inatingível

Saltas de pouso em pouso certo

Fazendo tremer o antes chão seco

Com a humidade do teu ser esperto

De líder do povo alegre que antevejo

Não, esta não é a minha despedida

 O pior é que eu sei que o meu fim aqui está perto, é bastante óbvio para mim há algum tempo, por mais que queira por vezes contrariar tudo e acreditar que não, que ainda vou durar, que ainda vou durar... Não faltou que lutasse todos os segundos, a cada vertigem, a cada sangramento, a cada desfalecer, mas nunca nada é suficiente, mesmo tendo tentado tudo um pouco, todas as ciências e todas as crenças. Acontece aos melhores. É. Aos piores também, imagino. Gracejar pela graça da graça ou somente pela ligeira beleza da dança das palavras sempre foi uma actividade assaz aprazível. 

Talvez nem chegue a conhecer a Laura mesmo e tenha sido mesmo como se pensou inicialmente e ela me tenha vindo substituir. Ao menos ainda tive a alegria de saber disso, de vê-la a chegar ao Mundo. Ela há-de ter tudo o que eu não tive e me faltou, ela continuará o bom plano para a humanidade e ser simplesmente imenso Amor. 

Continuo com pena de me ter envolvido com tanta gente nova que provavelmente sentirá, mas espero que lhes passe muito rápido a tristeza que lhes causarei; tentei muito para que se desligassem, ainda assim, mesmo tendo pessoas a aconselharem-me a não fazê-lo. Não queria preocupar ninguém. Às vezes parece que não acerto uma para a caixa. E sem falar nele então, que nem há palavras. É, o que fiz não merece perdão, é o que tenho dito. Ele é tão teimoso e forte que dá a volta por cima rápido, também, espero. Além do que, se tudo se deu assim, é porque também permanecerá sempre aquilo que eu tinha lhes dito. Quem sabe, não é? Ninguém voltou para contar, pois não?

Acima de tudo tenho saudades. Sim, meu menino.

Não te contentaste com o meu coração

Entranhaste-te nas minhas veias

Num sentimento maior

Que não conhece fronteiras

E se eu quiser falar com Deus

Hoje sinto que ele está connosco

De alguma forma a zelar por nós

 Viver cansa

Ensaia-se a dança 

Improvisa-se o caminho

Perde-se no labirinto

Até onde a vista alcança

Há quem caia do ninho

E julgue o tempo infinito

Mas eu, eu vivo só aflito.

 PÁRA DE TE PREOCUPAR À TOA "C°RALHO"

(É, mais ou menos isto mesmo)

Corpo Celeste

 Esses olhos teus

Buracos negros

Que sugam os meus

A ti entrego-os

Como quem enlouqueceu

E já só vê estrelas

No teu olhar

Cometas delas

Fulgurantes

Aos meus rasantes

Planetas flutuantes

Que tenho nas mãos

E no teu tronco

Mapeio toda uma constelação

Mas é na tua mente

Que nos encontramos

Numa galáxia distante

Ela a nebulosa

De mil cores fascinante

Faz-nos explodir airosa

Em mil pedaços delirante

Numa febre que ecoa

Em labaredas cósmicas

Dessa dança ondulante.

Todo esse sentimento

 Queria ter para mim a beleza do amor idílico, em que nada é maior ou mais denso, nada é mais enorme e mais intenso, do que todo esse sentimento.

Tristeza dos Dois - Salvador Sobral, Bernardo Sassetti, Luísa Sobral

 Teu, inteiramente teu,

Sei que morri de amor

Eu, que sem pensar,

Quis em teus braços repousar,

Vivia pra viver nesse lugar

Eu, desfeito mas teu,

Acreditei

Eu, eternamente teu serei,

Amor, eu sei,

Que eu, perdido mas teu,

Só posso ser plenamente eu

Se o teu amor quiser ser

Também somente meu.

 Quando estamos bem um com o outro tudo corre melhor, não era assim? Mesmo que nunca verdadeiramente fisicamente. Aquela história de o universo ficar satisfeito, parecia mesmo, ao menos não andava a entornar-se água heheh 

Elogios para recordar para sempre das msgs deste 41º aniversário

 Marcaram-me muito mesmo, nomeadamente estes pedaços lindos e generosos para comigo:

"Tem um monte de gente que consegue nos fazer sorrir, gargalhar até. Mas há uma classe de pessoas, te incluo nela, que consegue nos fazer sorrir a alma.

Muito obrigado por você!!!" 

"Você é de uma excelência absurda"

 MarceloCardoso

"Incrível ser sua amiga, estar em contacto contigo, tu és uma pessoa sensível, criativa, venero tua vida e a tua existência" RenataPaloma

 Sou-te firme
Como o Sol 
É para a Lua
No céu vago
Em raios atravessado
Como chuva nua



(ao ouvir O Sol de Carlos do Carmo e Bernardo Sassetti)

Crianças

 Amo-te desde que éramos crianças, quando os campos eram verdes e havia animais neles. É mais do que amor, na verdade. Um dia soubeste-o também. 

Esperarei o tempo que for e se não vieres, não faz mal, fico eu aqui e tu aí, porque o amor move montanhas e as flores nelas aguardam por nós como tomilho silvestre que balança no vento.


(depois do filme Wild Mountain Thyme)

Rui

Ligaste para me dares os parabéns.

 Tentaste animar-me. 

Disse-te hoje que não és meu amigo, que foste meu melhor amigo muitos anos, mas que perdi os meus dois melhores amigos, tu e a Rosa, no mesmo ano e que não tenho amigos, graças a deus, que amigos são entraves para a morte. 

"Entradas para a morte", disseste. Antes fosse, porque nem sequer pagam-me o bilhete, disse. 

Como gostas tu do meu mau feitio de hoje em dia e é só mais ou menos por isso que ainda dizes algo. 

Acho que se algum dia voltar a gostar de alguém o suficiente e confiar para deixar chegar perto, certamente não vou querer ser alguma coisa, porque estou muito exausta de ser algo sempre que tenho de lidar com alguém. Deve ser por isso que já não falo nem estou com ninguém há anos. 

Tudo em mim simplesmente rui e ainda bem que é assim que é para ver se eu aprendo a não deixar que alguém construa.

Laura

 Ainda estou aqui. Estamos todos. Esperamos por ti. 

Hoje eu nasci há muitos anos atrás. Tu vais nascer agora, falta pouco, eu estou nervosa, confesso, são tantos problemas mas nós somos capazes. Creio muito que vai dar tudo certo. Vem Laurinha, que os meus priminhos têm muito Amor à tua espera.

"And in this horror show, I've got to let you know, oohhh Laura, you're more than a superstar"