O Fim

 É só uma questão de tempo agora,
Mas eu não posso correr contra-relógio
Os músculos das pernas desistiram
Tornando-se apenas pele flácida
Dependurada ansiando a gravidade

Nascer e morrer por causa de outrem, 
É coisa normal da vida diriam,
Pois eu sei que se dependesse de mim
Eu nunca teria querido existir 
Não neste mundo tão hediondo

Acumulam-se objectos e aflições
Mais tormentas e indecisões
Pontilhadas por alegrias
Que bem vistas foram só distracções
Para não se lembrarem da morte

Para não enfrentarmos todas as ilusões
Que criámos todos os dias 
Em que nos agarrámos a alguma coisa
Fosse o que pensávamos gostar
Fosse o que nos pudesse aliviar

Nunca nos confrontando com a origem
Do porquê de gostarmos de certas coisas
Do porquê de coisas nos aliviarem
E sempre a correr e a querer e a comer
E a intoxicarem-se como quem quer esquecer.

Ring-a-ling

Mania de ser bilingue
Ora na paz ora no ringue
Estou farta desse swing
Quero ser como o Sting
Equilíbrio que não extingue
Não ligar a quem me xingue
Esperar que a luz vingue
E manter o que distingue.

Sempre que me vires enfraquecido, toma-me nos teus braços,
eu homem nu, morto de cansaço,
tu mulher abrigo.

 As incorrecções com que falas
são as incorrecções com que beijas
Pois as palavras têm boca.

 Anseias pelo mar
mas sem ela irá te faltar
a enseada que é o seu corpo
para te abrigar.

O Sol e a Lua

Um ano em que eu fui sua
E ele meu
E por toda essa vida
O Sol mora dentro da Lua.

 O corpo não passa de um empecilho quando a alma se agiganta.

Obsceno

Tirando o esgoto humano que cada um tem dentro de si a peito aberto, o que é a tua essência, sabes me dizer?  Tens os bolsos cheios de idolatria e fogos de artifício e só pensas em dinheiro e em ter coisas caras enquanto o mundo inteiro morre malnutrido...

 Dentro de mim, só te tenho a ti.

Tu, que guardas o mundo

 O mundo está num grão
guardado na palma da tua mão
e sobranceira a tua alma desterrada
procura voltar ao seu chão

Trincámos o cosmos
armando-nos em deuses
brincámos de sermos nós
sem saberes o que seres 
e eu sem poder ser sequer

O amor foi tanto
que ressoa nas atmosferas
de todas as galáxias astrais
e o mundo que conténs
no teu peito e no teu sorriso
escorre para as tuas mãos
como o fluxo de um rio. 

 pele e osso: a anorexia de viver 

Deusa

 Tu para mim és tão frágil,

 tanto quanto as pétalas secas 

da orquídea que guardo até hoje 

E revisito na palma da mão 

com ternura e afagos de algodão.   

És a mais bela das flores selvagens 

E tão quebradiça 

E tão feita de espinhos 

Que só para mim não existem 

Vislumbro-te no campo 

Na floresta recôndita 

Mas também no metal enferrujado 

E no mais polido dourado  

Mas acima de tudo no Olimpo 

Com o tecido branco esvoaçante 

a envolver-te 

E a tua tiara de louro de oiro 

Qual deusa Athena sempre

Quando eu morrer voltarei ao Mar

 Meu amor, 
quando eu morrer
voltarei ao mar alto
para te encontrar 
e mergulharei fundo
só para te chamar;
pedirei ajuda às sereias
e a todas as estrelas-do-mar
contar-lhes-ei como foi profundo
o nosso eterno desejar. 

Meu amor, 
quando eu morrer
não me busques no céu
vem antes à beira da praia
e ver-me-ás quando houver lua cheia
reflectida na areia e nas ondas do mar.

Esperar-te-ei uma vida inteira
Meu amor
a nossa alma que foi a primeira
que se uniu em ardor.

 Quando olhar no espelho e te vir, vou dar-te um beijo na ponta do teu nariz, porque me fazes sempre sorrir. 

Vazio

Oco

Faz eco

Dentro de mim

 Acho que a anedonia tomou conta de mim de tal modo que perdi a noção do que é ter alma, mente e coração. Melhor assim, nunca tive direito a nada mesmo nem a poder escolher. 

"I lost myself in a cold damp night.."

 Tens a alma feita de pétalas e do teu corpo escorre a luz do teu amor

E depois vem esta mensagem ainda mais...

 "Vc tem um coração maravilhoso e isso é louvável e lindo.  Não tenta afastar as pessoas de vc.Se permita viver e e compartilhar coisas boas com quem lhe quer bem"

E mais uma vez continuo... 

Dilemas da vida não-vivida

 Sofrer porque se gosta de alguém e tem de se afastar as pessoas todas para que elas não sofram quando nos acontecer algo mau, é das piores coisas de ter de gerir e solucionar.

Eu, mesmo tendo de o fazer há anos, tenho estado em apuros com tantas pessoas que não queria que se tivessem ligado a mim e nem eu a elas tanto, porque agora é só sofrimento maior tal como eu disse desde o início. Não sei mesmo porque é que eu fui dar ouvidos a todos que disseram para continuar e não me afastar. Especialmente quando eu já sabia como as coisas todas se iriam desenrolar. 

Acho que por um lado na altura pensei que estava tudo seguro e com distância suficiente, por outro provavelmente já não dava para desligar porque já tinha havido conexão que nem eu tinha me apercebido na altura para essas pessoas, ou não queria acreditar. 

Isto de não primar por auto-estima e ego também me faz ficar sem entender porque é que as pessoas se ligam a mim e me têm em tamanha conta. 

Fazer com que eu fique na mente das pessoas como incómodo foi uma boa coisa até certo ponto e a outra abordagem de saturação de imagem e 'closure' também resultam com muito menos danos. 

Agora falta outra maneira que é o tal "longe da vista, longe do coração", essa é a prova dos nove de qualquer forma. 

Mas de facto as dezenas já se estão a dissipar. Vou mesmo avançar em 2022 com o que sempre me disseram a vida inteira e que pelos vistos é imperativo que eu o faça que é parar de ajudar todo o mundo tanto. Resta saber se finalmente vou conseguir fazê-lo de forma mais veemente. 

Só gostava que não me dessem mais complicaçőes; tipo, a pessoa está a morrer e ainda tem de se preocupar todos dias aqui com os problemas infernais dos outros e ao redor e ainda arranja mais sarna para se coçar... 

Vou mesmo de vez #aposentei como ela disse para eu fazer :-)

Como morre o amor?

Será mesmo numa morte lenta por acumuladas desilusões e desgastes, ou será algo como chegar a um dia em que já não dá mais para segurá-lo dentro, renová-lo, fazer de conta que se o sente tanto?

O amor que é supostamente o maior de todos, o eterno, o imaterial, o que nunca se dissolve porque ele vive nas estrelas e no sol e na lua, de tão cósmico que é, também tem o seu final como astro que dá a sua última explosão? 

O coração vive atormentado com questões quando deveria simplesmente sentir, mas como não consegue confiar no que sente, vira e mexe e lá está de novo a mente a questionar tudo. 
Somos seres tão cerebrais, eu e tu, tão iguais, por isso acho que o que é aquela ligação no peito nunca acaba mesmo que queiramos, o tal vazio que nunca se preencherá porque o coração nunca poderá bater lado a lado em uníssono. 

Uns poucos anos de transcrições deram-me um treino de escuta activa tal que o ouvido identifica a intenção da voz e o som é sempre mais breve do que traduzido para o papel.
 Fazer música, no entanto, permite alongar o som e encurtar o número de palavras, mas também acelerar de tal forma até caber várias palavras num só som. 
Escrever, por sua vez, permite-me fazer tudo isso e mais ainda, pois é no intervalo do som que o silêncio habita e ele sim é o som mais complexo e necessário de todos, tanto quanto a vital pausa para respirar.

 Amor é ilusão em autopoiesis.

Visão

 Removeres-te de ti como par de óculos que deixas em cima da estante e esperar que alguém pegue para poder ver com outros olhos. 

Faz parte de não existir, de não gostar ou inferir e continuar na senda da não-opção. 

 Quando és mero observador impávido e sereno, nada te pode afligir senão o próprio nada. 

Eclipse de mim
Aqui
Dentro de ti
Onde a lua nos fez sonhar

 Vive tudo o que tens para viver
Aproveita agora antes que seja tarde
Grita sim que a amas, abrindo os braços como se estivesses no Love Actually que passa todos os natais na tv, porque este é o filme da tua vida que tu próprio estás a fazer

E é lindo, mesmo quando é trágico, pois é assim que tudo acaba.

 Um amor que vive de imaterialidade, não é consumista nem superficial.

O Diabo não é tão mau quanto o pintam?

O bem que advém do mal
A luz que emerge do profundo breu
A vida que só aflora da morte
A arte que vem do desassossego
A limpeza que fica da podridão
O amor que é só carência
O tudo que vem do nada
A regeneração depois da destruição
A glória conseguida por indecência
A expiação pós-condenação
A cultura produto de má história
A riqueza porque outros não têm
A suposta cura que só provém de doença
A paz de mente de uma sociedade doente

Isso é que se acha bonito?

 Só quem é português pode saber e sentir o que é verdadeiramente a palavra saudade que ele próprio imbuíu no seu adn. 

Isso é de triste de ter verificado só agora por força de prova empírica de contrastes culturais, quase casualmente, em vez de ter absorvido esse facto quando estudei O Labirinto da Saudade há décadas atrás. 

Todos os dias são oportunidades de novas aprendizagens e esse ainda é um desafio a que nos podemos pegar. 

 A vida é fugaz, mas no segundo em que te vejo acontece a eternidade.

3 perguntas que sempre me dão jeito

- Para quê?

- O que é que está por detrás/na origem disso?

- Por que não?


(e que espero não fazer muitas vezes em 2022)

Eu não existo

Pais vêem-te como filha
Irmãos vêem-te como irmã
Amigos vêem-te como amiga
Familiares vêem-te como família

Mas tu não existes. 

A Mares

 Tantas vezes te dei a mão para te apoiar
Tantas quanto me pediste com olhar
Ainda te espero à janela, minha estrela brilhante, ao ver o luar.

Sei que nunca virás cantar-me as tais serenatas
Mas saber que estás vivo é o bastante para o meu coração se alegrar.   
Uma vida inteira não me ensinou 
O que era o amor até tu chegares 
Não sei quem antes te amou
Mas sei que só nós somos mares.

 A linguagem do sorriso é universal, mas o teu é dialecto só para mim. 

Mistério de (a)mar

 Perguntei o teu nome ao mar, 

Ele vociferou-me: vais naufragar

Disse-lhe que só assim podia amar

O mistério de amar é insolúvel,
tão indecifrável quanto nós os dois;
amar sem amar, amando mais que amar.

 Apercebermo-nos de que nunca existimos é só constatar o que de real existe. 

Olhos Espelhos

 Quem é que olha por trás dos meus olhos
Quando olho ao espelho e é a ti que vejo? 

Olhos-alma, olhos-espelho,
Olhos-chama, olhos-estrelo,
mas não sei o que escondes

Não tardo em sorrir
porque é a ti que vejo sorrir

Não tardo em correr para te abraçar
porque o mar atravessa o rio
quando a alma o chamar

O oceano é o espelho onde nos olhamos
Tão longínquos quanto nós mesmos
Mas os olhos-alma, olhos-espelho,
olhos-chama, olhos-estrelo,
só vêem um ao outro
mesmo de olhos fechados.

 

Esta história de escrever estórias a toda a hora
coisas que se sentem ou nem por isso assim,
mas nunca que se mentem, acho eu que sim...

Previsibilidade

 As pessoas, tal como o clima, 
são previsíveis de se adivinhar
em cada gesto e em cada olhar. 

O tempo passa, as pessoas também, 
só a previsibilidade nunca acaba.

Nye diria que é apenas Física...
Acho que é só mesmo hábito.

Não há remédio

 Eu vou amar-te morrendo
Todos os dias nesta vida
Porque não há cura sendo
O que eu sou tão perdida

Esta ilusão que trago dentro
Da certeza maior de um amor
Sei que é tolo o sentimento
Que às vezes gera temor e dor

A realidade é tão só tua
De mim só a fantasia
De que és a minha alegria
Atravessando a alma nua

Sei que não há maior tristeza
De um grande amor maior que tudo
Nunca ter possibilidade de se realizar
Mas pior seria o fim que a realidade traz

Por isso continua com destreza
Essa ligação que não tem remédio
Esperando pelo paraíso da delicadeza
Que a imaginação dos imortais alcança com a paz.

A Morte que tarda

 O pior da morte é ela tardar
Dar-nos o aviso de que vem
Enviar-nos notificação nos correios
Dizer que vai ser preciso mostrar BI
Mas depois não envia e-mail nem SMS
Não nos telefona a remarcar o dia
Nem a perguntar se altera-se o lugar

A reclamação que podemos fazer
É quando ela não chega e ainda pior
Vai à porta de outro vizinho nosso bater.