Adeus

 Desculpa se te magoei

E se te fiz sentir medo até

Eu vou parar de te escrever

Poemas e tudo mais

Que tu possas imaginar. 

Fica bem, fica a salvo,

Nunca quis que sofresses,

Amo-te muito,

Adeus, meu amor.

Meu menino orvalho de sua menina neblina

 Meu menino orvalho de sua menina neblina

Quem te fez marinheiro em terra

Não te deixou voar albatroz

De fúnebre partida e reza

Esvaziou a tua voz

Enchendo-a de ilusória delícia

Deixou-te sozinho e na espera

De voltar apenas o suficiente

Para não te soltares dos nós.

Meu menino orvalho de sua menina neblina

Não deixes que te prendam 

Senão à memória daquela esquina

Em que nos dói o pensamento

Numa e noutra frase

Que um dia nos deu alento

E hoje só custa 

Porque nos matámos por dentro.

Meu menino orvalho de sua menina neblina

E agora que só fazemos o que tem de ser

E já não vemos a aurora amanhecer

Que nunca nos esqueçamos 

Do que nos faz doer 

E nos lembremos

Que é porque existe o maior amor

À espera daquela lareira

Quando tudo nos for uma brincadeira

E nada mais houver a fazer.

Pássaros

 Se ao menos fosses terno como eu pensei que fosses e vivêssemos eternamente embalados pelo trompete de Wynton Marsalis naquela música, baloiçando os nossos corpos unidos pela dança naquela cena de cinema. 

Teu calor e embaraço ainda comovem o meu cansaço, fazendo com que o desejo de me aninhar em ti persista, ou não fosse eu o pequeno pássaro de ti, meu pássaro da envergadura maior. 

 Um corpo quer pulsar

Um coração quer vibrar

E eu que me componho de silêncios

Ora vácuos ora densos ora vazios

Já há algum tempo que só quero descansar 

(fui)

 Eu sempre fui o que eles nunca gostaram:

questionadora e filosófica

iconoclasta e contra-corrente

criadora e demolidora

dos ditadores e opressores

dos oprimidos defensora

motivadora das gentes

factual jornalista ética

escarrapachadora da notícia

acarinhadora da carícia

não-atleta atlética

independente e neologista

Não faz mal, eu não podia ser outra mesmo e todos os que amei nunca me amaram de volta. 

 Promessas e segredos são sagrados

Como o pôr-do-sol nostálgico

Ou a aurora esperançosa

Não precisas de ter síndrome de Stendhal

Para cumprires o que é teu

Basta que te seja natural

Um sentimento de amor

Por mais que pertença ao passado 

 Meu coração mora fora do peito

deu-me vida e depois matou-me

e ficou comigo cá dentro na mente

mas longe para viver mais contente

e sem mim que pareço não ter jeito

de deixar de o amar como ensinou-me

a força da rejeição e da indiferença

o meu coração mora fora do peito

e aqui no meu leve e pequeno corpo

só habita o eco do vazio que ele deixou 

 Neste mundo não há nada que haja para todos. 

Nem o sol chega a todos, nem o ar, nem mesmo a terra, nem muito menos a água; quem dirá então o que os humanos fizeram para escapar, como o carnaval ou simplesmente dançar.

Por isso, fica a saber que o que te falta não é nada, porque tu nunca quiseste nada para começar.

 Ele jamais poderia gostar de mim

Do meu corpo esquelético

Porque com ele não é "love to the bones"

E eu que estou tão in love com stones

Tudo o que sou e faço é tão patético

Como é que ele gostaria de mim assim?

 Quando eu perdi tudo

Tu chegaste

E deste-me algo

Que até agora não entendo

Porque é que se tornou

Em tudo o que eu sou...

 Talvez só a morte me possa separar de ti e fazer acabar esse apego, mas também me disseram que já nos encontrámos em vidas anteriores. Eu gostava de acreditar nisso porque ao menos assim não seria tão triste que nunca nos vamos encontrar nesta.

Esse amor que é fogo e arde sem se ver

 Quis que fôssemos um do outro 

Como a água é da terra

Mas o meu primo zarolho

Já me tinha avisado da seca

Que é o amor que é fogo

E arde sem se ver

Como dentro do meu peito

Transborda esse amor ausente

Que sabe que sou do vento

Da terra, raios e tempestade

E minha alma se pôs doente

Com o corpo abandonado 

Fica triste e aqui a padecer

Houvera a verdade do amor

Que eu soubera de verdade

Que ele me quer bem

Mais do qualquer outrém

E eu me entregaria eternamente 

Meu amor

 De tanto te amar sem saber

Te perdi

E de tanto te oferecer e dar

Enlouqueci

Pela ilusão de um amor eterno

Que só eu senti

 Passei por tanta porcaria nestes anos todos, que eu nunca mais tenho vontade de ver ninguém e não quero mesmo ver ninguém que me desprezou e me fez sentir tão mal e me trocou por toda a gente toda a hora. 

Acho que nunca mais vou gostar de alguém tão a sério como gostei deles os três.

 Não consigo ultrapassar aquela canção...

 Qual é a única verdade? A que não quer calar? 

É, a de eu te amar.

 Nunca te preocupaste em falar comigo para nos ajudar a ter uma boa solução para ambos conseguirmos ficar juntos vá, para ficarmos bem, para tirarmos as coisas a limpo sem mentirmos, se é que isso era possível. 

Nunca te preocupaste em ajudar-me a responder às questões que eu tinha em relação a nós. Nem em conversarmos sinceramente para nos conhecermos melhor. 

Os homens riem de nervoso perante a verdade, ou calam-se. 

Eu só quero a verdade, sempre, mas ela nunca é mesmo a verdade, pois não?

Cada vez

De cada vez que fico assim à beira da morte, volto a ti e àquela sorte de ter podido ouvir-te um dia. 

É um misto de carinho, pena, dor e alegria. Imaginar-te-ia de novo aninhado defronte a mim e até mesmo eu a poder abraçar-te o corpo deitado, repousando a cabeça no teu amplo peito. 

Mas sei como tu que existes detestas-me e eu que amo uma pessoa que não existe, não presto, daí que num instante desvanece-se tudo e fico aqui como sempre a morrer devagar. 

(Novo tratamento ontem, está a matar-me, virou-se contra mim porque mais uma vez fortaleceu-se o sistema imunitário, voltei a sangrar, mas estou a insistir para matar a infecção)

Façam de conta que morri, como já fazem

 Façam de conta que morri nestes anos que não me disseram mais nada e me deixaram abandonada aqui neste inferno, mesmo vivendo a quinze minutos de mim, ou podendo ligar em segundos. Não voltem nunca mais. Acabou. Faz de conta que morri das vezes todas que quase morri com infecções, como ainda agora. Nem sequer gosto mais de vocês, depois de tantos maus tratos. Vão-se embora. Prefiro morrer sem-abrigo como já estive quase do que lidar com humanos.

Eles conseguiram

 Quis à força gostar deles, mas de tanto me mostrarem como eram tão horríveis, conseguiram fazer com que não goste mais deles. Não sobrou ninguém para contar história. 

Irmandade, o caraças

 Desculpa-me por te ter tratado mal. Tu entretanto desististe de mim como eu sempre imaginei e receava que fizesses. Afinal, toda a gente é assim: quem se sente em desacordo e maltratado vai-se embora e só quando se sente bem tratado é que fica. O problema é que as coisas não são sobre as pessoas muitas vezes. Por isso é que se vê quem realmente nos ama a nós de verdade como somos e não só porque se sente bem tratado. 

Mas isso só sou eu, não é? Porque todas as pessoas que eu mais amei desde que nasci sempre foram as que mais me maltrataram. Por essas e outras tu pensas que eu nunca soube o que é o amor nem amar. Como sempre, tal como andaste a investigar-me desde o início, tens sempre razão, não é? Tu e as tuas fontes e referências bibliográficas. 

Parabéns, muito ruim.

Conselho

 Único conselho que eu posso dar nesta vida a alguém jovem é de nunca estragues a tua vida por causa de crianças ou adultos, não te sacrifiquem por causa deles, ainda para mais quando não te dão valor e te maltratam, nunca, como eu fiz a minha vida toda por dois adultos e duas crianças que não me valorizam e me maltrataram ao ponto de me porem a querer matar-me por causa do que eles me fizeram. E agora ainda passar o resto da "vida" a tentar melhorar-me desses traumas todos. 

Abraçados

 Se no fundo, o que sempre houve entre nós, foi amor do maior que já existiu, então voltaremos a estar juntos como nas tais outras vidas e vai ser tudo como sempre devia ser: nós os dois a finalmente pertencer sem nada ter de fazer. "Se tu és meu e eu sou tua, leva de novo o sol para a tua lua", pois o que é quer ser o que sempre tanto foi e sossegar nos nossos seres abraçados.

 

Eternamente triste porque o amor não existe

 Tens uma voz madura

Tudo mudou no teu corpo

Só a tua expressão de dor 

Não se alterou.

 Não te preocupes, meu amor, a nossa vingança será ficarmos juntos e quebrarmos essa história cíclica do cosmos finalmente.

Infinitamente

 Não existe algo infinito senão tudo o que há em tudo e não consegue jamais ser visto, nem ao microscópio de electrões. 

 Quando eu for embora deste mundo, se conseguires comer come algo bom de que gostes muito, lentamente, toma o teu tempo, come à mão se der, lambe as pontas dos dedos, especialmente se tiver sal. 

Traumatizados

 A paixão traumatizou-nos: tu a mim e eu a ti. Nunca mais dá para ser feliz, eu, mas tu sim.

É só o que conta para mim e pensar que estás bem já está bom. 

Fenómeno

 Fenómeno estranho este

Ou nem tanto

Como uma mãe e um filho

Se virmos

Este sentir liberdade longe

Mais leveza e tranquilidade

Mas nunca conseguir tirar

Esta sensação de cordão

Vermelho umbilical

De dentro

E é por isso que eu sinto

Esta dor e esta falta

Que por vezes me mata 

Abuso

 Tu que foste abusado pela tua irmã

Tu que foste assediada pelo teu tio

Tu que nunca pudeste contar 

Não te esqueças de vomitar

Para a dor de cabeça parar.

 E embora eu saiba que devia deixar-te ir e ver-te também era algo problemático para mim, continuo e continuarei sempre à espera que voltes para mim e que eu possa apenas ver-te e ouvir-te de novo. 

O Homem-Nojento

 O Homem-Nojento é um homem como todos os outros. Começou desde pequenino a levantar as saias das meninas na escolinha e a tacar beijinhos e apalpōes nas priminhas. Mas tão glorificado o menino "encojonado" a recortar das revistas maminhas e visto por todos como engraçado. Claro que as suas pobrezinhas mãezinhas não lhe faltavam com o peitinho e todo o tipo de miminho para o seu príncipezinho. Porque elas amam-nos incondicionalmente e mostram o que é o amor de uma mulher a quem podem fazer tudo, porque quem manda é sempre o varão, lá para os seus cérebros latentes.

O Homem-Nojento não é doente, pois ele sabe o que está a fazer e quer fazê-lo sempre. 

Deus, "quem fez o mundo fodeus"

 Não querendo ofender ninguém, mas já ofendendo com certeza, o vosso Deus de barbas e o vosso Jesus loiro de olhos azuis não existem. 

 Nem o tempo cura

Nem o que aperta segura

Nem as fridas ardem

Nem as aftas idem

Nem nada dura

Nem os burros urram

Nem as vacas mugem

Só a raiva é capaz

 Reparei que não era teu o meu sorriso, nem o olhar emocionado, naquela manhã seguinte e, assim, tive a certeza que estavas a pensar que ela era o teu grande amor, com quem tinhas estado na noite anterior. 

Nunca saberás quanto me dilacerou, tudo. Nunca saberás ou sentirás uma dor parecida e tão intensa. Nunca verás o que eu vi. 

Quando um dia o vento soprar mais forte, como jamais soprou aí, diz a verdade que eu nunca te ouvi. Pode ser que já saibas então a verdadeira razão de tudo de nós. 

 Talvez a terra tenha de tremer e o chão precise de abrir para engolir todos os males do Mundo.

 Um comboio não pára em todas estações quando está com pressa.

 E eu, morrendo de ansiedade, à espera que me dissesses a verdade e se realmente me amavas, nunca pude acreditar que era quase tudo para e por causa de mim, porque antes também me negaste e snobaste sem fim.

Porque é que tínhamos de fazer tudo assim? 

Trancar

 Pegar na peónia

Pegar na onda

Pegar no céu

Pegar o sol e a lua

E trancar