Beija-Flor

 Nunca me tinha acontecido antes: vi um beija-flor na minha janela, tão lindo. 

Rarezas

 Quando eu era ninguém, quando eu era nada, fui tão eu contigo. Os nossos pequenos detalhes, tudo bem, tudo certo, meu amor. 

Amámo-nos de um jeito tão aflito, mas tão bonito, que era exasperante, vida maior que vida, uníssona, sem falarmos sequer, tu adivinhavas tudo, porque era o que sentias também. Esse encaixar que era tão grande, saltava aos olhos do mundo, mesmo quando negámos, quando nos irritámos e assustámos com essas possibilidades impossíveis. 

Não é suposto uma pessoa ser vista como perfeita pela outra, mas sim se as suas imperfeiçőes forem como as do outro, rarezas que só eles partilham, afinal. 

As tuas cores

 Mudas de cor

Tens 7 distintas

Nesse teu arco-íris

Fazes que choves

Quando mostras que sofres

E fazes sol muitas vezes

Porque és riso, a céu aberto

Mas trovejas também

E aí não tem para mais ninguém

Relampejas amiúde

Com clarőes de informaçőes

Flutuas como nuvem clara

Com criança querubim a tocar alaúde

Mas acima de tudo congelas

E pőes fogo no verde da Terra

Consegues imaginar?

 Viver num sítio bonito que gostes, que seja como queres, com direito a tudo o que achas bonito e te faz sentir tão bem, com uma atmosfera belíssima, não somente qual o sol cai. 

Tudo o que quis nunca pude ter nesta vida, senão podridão e dor, um sofrimento interminável que tive de fingir ao máximo que não existe a matar-me aos poucos, a tirar-me toda a vida e matéria pouca que tenho até à minha inexistência. E tudo o que queria era mesmo um cantinho só meu para poder pintar e viver em paz sossegada. 

"Ter uma casinha branca..."

O caminho até agora

 Desde 2017 a desconstrução do ego, depois a reconstrução com as coisas poucas que interessam mesmo para ficar com mais consciência boa e leveza com rapidez de resolução de retrocessos. 

Ser monge existencialista näo é pêra doce.

 É no céu da minha boca o teu paraíso...

 Já só me interessam as pedras preciosas forjadas em vulcőes.

 Será que também já sentiste

Que a água é nossa

Mesmo quando se esvai pelos dedos

Ou inunda o nosso olhar?

Não é bonito o transbordar

Mas é o que de mais belo temos.

 Ventre . Fazedor de mundos . Paranóico e profundo

O ventre é a minha mente.

Nada chegou

 Visto a minha pele como roupa
Não ando nisto à toa
Nunca nada me chegou
Este mundo, este universo,
Talvez apenas uma galáxia
Talvez tu por um triz
Tuas certezas em riste
Apagaram tudo de mim
Tornei-me noutra
Serás feliz
Fui muito pouca
Para ti
Que és completa vida
Na tua intensidade perdida.

 ... os gatilhos do que já é morto eu mesmo posso desarmar" - Igor de Carvalho

ou do que se finge morto.

Invisível para o visível

 Como se transforma o invisível para visível?

Enchendo-o de palavras, linhas e rabiscos de tinta?

Não, só com sangue, lágrimas e suor.

 Sou o que precisas

De mau para te chocalhar

De bom para te reavivar

A memória do que é direito

Antes que a morte tenha o seu leito

O vento

 O vento transformou-se numa voz;

Primeiro cantou-me baixinho,

Depois gritou comigo

E na penumbra do seu gesto

Vislumbrei o teu rosto

A vir de mansinho

Unir os seus lábios aos meus.

Caroço

Num mundo de plástico

Onde tudo é falso

Prefiro ficar com a minha oliveira

Que plantei eu mesma num vasinho

A partir do caroço da azeitona que comi.

Tu desprezas o caroço

Mas dele é a semente

De que se fez brotar vida

Quebrados

 Tu acreditas que alguém pode tirar a dor existencial de alguém? Lembro-me que quase pareceu que sim, naquele abraço de irmãos da mesma dor da violência materna, que nos fazia desmanchar em pranto e afagar-nos o corpo como se nos puséssemos a comprimi-lo para amparar e empurrar os cacos para dentro. Era a tal da mágoa que cura a mágoa, dois despedaçados já não tão perdidos nem largados, ou pelo menos já não sós. Será que foi mesmo dor partilhada, dor aliviada? Que guardarás tu dessas alturas? 

Eu podia ser tu se não me segurasse, se não tivesse juízo, se não te tivesse como exemplo para me acautelar. Era o que eu pensava. Ainda acho que sim, que era isso mesmo, que também eu tenho vigiado com alguma atenção essa minha tendência para me deixar ir sem querer saber, porque lá no fundo, bem lá recolhida, está essa incabível mancha de desespero perante o horror e o terror e a raiva e o nojo e o ódio e a maior dor que se for acessada receia-se que seja bomba nuclear. 

Pus-me em posição de bailarina como no filme com o Patrick Stewart, mas não acessei, mesmo que me garantam que não quebro, eu sei que sim, porque um dia já quebrei e não há visão mais triste do que a de um corpo insustentado porque tudo por dentro está quebrado. Por isso, sim, pus-me em posição, mas só deixei que o sol me atravessasse e eu continuasse mais um pouco sem ainda ter de atravessar. 

A luz azul

 - Tenho saudades de tirar fotografias. Há uns dias foi o dia mundial da fotografia. Esta é uma das minhas favoritas das que tirei na cidade onde nasci, mas cortada um pouco aqui.

 Pedaços da eternidade que não escapa por entre os dedos, cabe na mão e capto num segundo de conexão entre o olho e o dedo. 

O meu coração azul está apenas alumiado por essa escassa luz de candeeiro nocturno que tens no olhar doente e profundo. 

O discernimento não fala a língua da razão quando se trata de sentimento. 

Um dia, quando for o derradeiro, a luz azul mostrará de novo a tempestade e a serenidade do que foi estar apaixonado e amar outrora alguém. Tudo desmorona. Quem está irremediavelmente quebrado não importa.

Por enquanto, passeiam as memórias com as suas esporas a espicaçar a alma destruída e ausente. Todos estão contentes. Eu continuo inexistente e à espera, a cada segundo, que a vertigem final não se esqueça de me fazer cair nalgo macio e, quiçá, acolhedor como essa meia-luz de tango e dor. 

 Flutuar antes de mergulhar

Tentar não afogar

Depois vem o naufrágio

Tentar não sufocar

Ouvindo das sereias o adágio

De que se vai morrer no mar

Folha

 Sou folha desagarrada no vento

Não me cabe qualquer pertencimento

Nem quando tive aqueles abraços

De alguns braços que foram só meus

E isso é a força que tenho

Mas também é triste

Como uma fraqueza

Que um dia foi delicadeza

E agora já só é folha seca

Pisada por todos transeuntes

Sempre gostei do som que faz

Quando se pisam as folhas secas

Talvez porque eu e elas somos iguais

Pur(o) Amor

O amor assim "global" é tão cabal que move mesmo moinhos contra os ventos mais tempestuosos; pelo menos foi sempre o que eu consegui fazer com que todos fossem afectados por ele em ondas sísmicas. Demorou o filme a se rever o desenrolar, mas na realidade não. 

Pensar também que todo este tempo eu tenho me prestado a ser vista de certa forma por muitas pessoas que crêem que eu me sinto de determinada maneira, só para cumprir com o propósito inicial de habituar a pessoa à dita fama e aumentar verdadeiramente a sua força, determinação e autoestima, já durante tanto tempo. De facto não estava à espera que eu mesma durasse tanto, mas ainda bem que finalmente agora sim posso dizer que as missőes maiores estão encaminhadas (não sei se verei a mudança de um para RJ e o encontro deles dar-se finalmente, nem o restante das glórias dos outros dois). Pensei até que já estavam há uns meses, mas só agora senti mesmo. Foi uma experiência e tanto, um todo povo como nunca tinha encontrado antes nesse aspecto de não ter autoestima estruturalmente mesmo. É muito bom saber que tudo lhes vai melhorar. <3 (Não, não vou dizer "já posso descansar em paz", porque queria mesmo ver de facto o desenrolar dessa aurora que depois mudará o mundo também)

Mas vou descansar sim. :) Tanto carinho, afeição e amor, foi bonito sim, mesmo tendo sido tão custoso e me ter arrancado o couro :D Valeu muito a pena os bens maiores. Inshallah, amén, maktub, está feito caro migo Magnus, rip tb.

(Deve ter vindo por causa da história do discernimento)

Caravela

 Caibo abrigada no teu corpo

Metade dele sou eu

Esqueleto meio oco

Mas somente teu

Para guardar e abarcar

Meu porto de atracação

Meu cais e bússola de navegação

Tu a caravela, meu galeão,

Mão que segura com doçura

E certeza e fortaleza

Para mim a melhor invenção.

 Preciso lembrar-me desta sensação

E não esquecê-la jamais

Nem quando vem o tufão

Da dúvida do que sou capaz.

 Porque é que mentimo-nos tanto? 

Daí eu preferir o silêncio também. Tu magoaste-me tanto desde o começo e eu nunca fui capaz de te dizer que eu precisava apenas da tua ajuda e que não fazia ideia de que tu eras apenas alguém que estava muito mais fraco e indisponível do que eu. 

As fortalezas ruem.

 Sou feita da melancolia do canto dos pássaros ao sol se pôr e da esperança com que eles cantam a cada aurora. 

Long story short é isto mais ou menos

 Eu nunca gostei muito de ti

Tu nunca gostaste muito de mim

Eu teimei em ajudar-te

Tu apenas me detestaste. 

 Teu corpo de aurora

Tua pele de manhã

Nunca te vais embora

Tua manha nunca é vã

Insultas o amor

E a própria língua 

Só ferves com ardor

Quando outros estão à míngua

Nada és senão sádico folião

Das mulheres que arrancaste

Sem piedade o coração

Nunca mais te recordaste

 Os nossos corpos

habituaram-se a nós

e chamam-se

como polén à abelha

produzindo fluído mel

 Sim, guardarei as fotografias que tirei de ti, não te preocupes, elas também são de mim; sim, éramos jovens, perfeitos um para o outro e provavelmente nunca mais seremos de novo felizes assim. 

Oblívio

 Esqueceste-me num cantinho escuro,

como se faz aos esqueletos no armário,

Vou ficando aqui, descartada e obsoleta,

enrugando e desaparecendo em mim

Talvez um dia te lembres de tirar o pó

aos objectos largados e abandonados 

Que um dia foram o teu brinquedo favorito.

 A diferença entre ti e quem mostras ser é como a diferença entre as flores falsas e as flores secas. 

O que se sente

 Nunca soube muito bem o que sentia por ti, a não ser que é maior do que tudo. Já lhe apelidei de muita coisa, tu inclusive já insultaste demasiado esse sentimento, por palavras, actos e omissőes, tentando à força mostrar-me que não era nada, que era "apenas ilusão de alma penada", como diz a canção, mas fizeste bem, tens sempre razão em tudo o que vês para ti mesmo, é bom que "ele esquece rápido, amiga", é o que vale a juventude do coração. 

O que se sente, no entanto, vieste dizer-me, é saudade. Do quê exactamente poder-se-ia perguntar. Enviei-te mensagem de áudio, só para isso de parar ou minimizar a saudade e nela disse que estive a ver as muitas fotografias que tirei de ti, que já não me lembrava de que tinha tirado tantas, mas que sabia que das fotografias que já tirei algumas eram as minhas favoritas. 

Será que de tão parecidos nós confundimo-los connosco? Ela é a versão de mim mais perfeita para ti. É. PARABÉNS, "obrigadinha, de nada".

(Isto pode virar uma série)

 O silêncio só  não é melhor quando as palavras contêm verdadeiros sentimentos.

 Gosto quando se vai ao húmus da questão, pois os sumos pontífices de tão superficiais nunca chegam à humidade do coração.

 Não dei espaço para que sentisses saudades minhas. Fomos tão aflitos. Um sentimento assim não tem maneira de existir, teve sim de ser negado por duas vezes, insultado, vilipendiado, até rebentar com as entranhas para que não doesse tanto no âmago, para que a angústia não nos sufocasse. Sufoquei-te o sentimento, até ficar associado a asfixia em vez do ar que éramos um para o outro. 

Nunca ninguém saberá. Só as almas de Chernobyl.

 - Vó, tenho medo de morrer. Não queria morrer antes de mergulhar no mar de novo.

Conheço a Tristeza

 Conheço bem a Tristeza

Os ramos da sua árvore

Que se estendem no peito

De quem perdeu após ter

Conheço bem a Tristeza

Das nuvens que choram

Na tarde cálida derramam

As lágrimas que chovem

Conheço bem a Tristeza 

Das ondas que batem nas rochas

Que machucadas vão sumindo

Na erosão que a água leva

Conheço bem a Tristeza

Do arco-íris de sorriso falso

Sem pote d'oiro no seu final

Nem mais chuva nem mais sol

No entanto..

 . . se eu soubesse que realmente me amavas, aí faria tudo o que estivesse ao meu alcance e mais, morreria tentando, se fosse preciso.

Conselhos sábios

 Esse teu sorriso ateu

Fez de mim crente

Devoto dos teus lábios

Sonhando o beijo teu

Dessa boca inteligente

Saem conselhos sábios

 O facto de não existir ninguém no mundo para mim agora até me deixa mais tranquila, não só pelo meu actual estado, mas mais por causa de que essas coisas do amor romântico só existem mesmo nas criaçőes das pessoas. 

Esse homem que é o meu, que só existe enquanto critérios da minha cabeça, é o homem mais incrível que alguma vez me amou. Já está de bom tamanho para o que é. Quem diria que eu conseguiria imaginar alguém que é um upgrade de todas as pessoas que já conheci, inclusive da pessoa que um dia achei ser um upgrade de anteriores. 

O pior mesmo é o amor que se instala sem motivo, esse não há o que possa fazer.

Os romances de Jane Austen

 Saberás tu como me tornei numa Jane Austen que chora pela fatalidade e impossibilidade que nos acometeu? 

Todas as histórias que ela escreveu tiveram um final feliz porque ela não pôde ter o dela.

 Moribunda

Sem nada

Mas completamente tua

O que quer que isso valha

 Viemos da água

Como amantes marinhos

Que tiveram de se tornar anfíbios

Para não se afogarem no amor

Amo-te como...

 Amo-te como Poeta

Que busca o poema perfeito

E tem no mar o seu último leito

Amo-te como Pedra

Que cristalizou dentro da terra

E foi expelida pela paixão de um vulcão

Amo-te como Flor

Que arrancou um a um os espinhos

Só para merecer o teu amor

Amo-te como Deus

Que tem todas as minhas preces

Com toda a devoção e temor

 Nunca pude acreditar que me amas, porque só me trataste como lixo, como se eu nunca existisse. 

Da vida

 O pior desta vida foi não ser amado nem protegido pelos que eram suposto terem-me feito isso e não terem me abandonado, agredido, feito tanto mal ao ponto de eu ter querido morrer quase em todos os dias da minha vida desde os 12 anos que eu me lembre. Quando se passou uma vida inteira sem amor de verdade, nem carinho, nem possibilidade de se ser feliz, apenas violentada e espezinhada, no que é que nos vamos agarrar para pensar que a vida tem algo que valha a pena perante tanto horror? 

Ainda passei a vida a tomar conta de quem nunca me protegeu, apoiou, cuidou nem quis saber de mim. "PARABÉNS, obrigada, de nada."

"Não consigo, é mais forte do que tudo"

 Como é que não sentiste senão essa coisa tortuosa e torta, como me vês morta, sem te lembrares de mim sequer, esqueces-me à tua porta, o nosso beijo no nosso destino, Lara e Yuri, uma força tamanha que não dá para explicar por mais que busque racionalizar, como não crer e parar de ser invadida por isso que parece que foi toda a vida?

Decreto do Exagero

 1. O facto de eu exagerar não compromete em nada a realidade.

2. Que o meu exagero abra os olhos de quem não consegue escutar e os ouvidos de quem não sabe observar.

3. Foi graças ao meu exagero em exagerar e em não exagerar que tu tens a mulher da tua vida agora. PARABÉNS, "obrigada, de nada".

 Fiz um poema ao céu

chamei-o de mar

Ele o quis para ele

então pôs-se a chover

Deixou o sol brilhar

a água salgada aquecer

Ela pôs-se a evaporar

e assim foi ser dele

 Se me tivesses enxergado a essência terias sentido também esse tão imenso sentimento e confiado em mim.

Obrigada, amor

 Obrigada por não me teres dado valor nem me teres querido na tua vida. Nem imaginas o alívio que me dás por saber que não irás sofrer quando eu morrer. 

Obrigada, amor. Por me teres deixado completamente só e por te teres silenciado até eu virar pó. Acima de tudo obrigada por nunca me teres entendido nem o que sentia por ti e teres-me abandonado como sempre te dizia. 

 As pessoas que eu amo tornaram-se muitas. Depois existes tu, que eu na verdade não amo, é outra coisa o que sinto por ti, maior do que o universo em si. 

 Assim que eu morrer e tu sentires aí longe, agarra-me, não me deixes ir, puxa-me para dentro do teu peito, guarda-me contigo para sempre de onde eu nunca devia ter saído, da substância palpável que somos unos nesse nosso amor que foi tanto e é tudo.

 De que serve continuar viva se tive de desprezar o amor mais lindo só para que ele pudesse ser feliz? Ah, está bem, ao menos quem eu amo está feliz, mesmo que a detestar-me. 

"Obrigadinha, Deus."

 Gostava de não saber o quanto eles me detestam, talvez fosse mais fácil continuar. 

Ananases não têm alma

 Minha alma inacabada

Sem ti não sou nada

Vivo mas não respiro

Será que me sentes em ti

Como eu te sinto em mim

Metade do mesmo fim

Sou alérgica a ananás

Frágil

 Tu és terra e eu sou nuvens

Apenas meu como ninguém

Apenas tua e mais além

Na quentura de penugens

Seres alados esvoaçando

Mas acima de tudo 

Estrela-do-mar 

"Só a ela obedeço, só ela me conhece
Só ela sabe quem sou no principio e no fim
Só a ela sou fiel e é a ela quem me protege
Quando alguém quer à força
Ser dono de mim"

Frágil mas completamente tua

 Como é que posso aceitar que haja destino, se todos os dias são violadas e mortas milhares de crianças?

 Derrubo as muralhas 

da dor

Desconstruo as ruínas da casa 

abandonada

Dispo-me dos descobertos disfarces

desconhecidos

Desligo do bulício

ininterrupto

Distraio o vento respirando

desatento

E de repente regresso

ao meu mais puro amor

o Silêncio

Eureka de não querer saber de ninguém

 Ninguém quer saber de ninguém porque toda a gente não consegue sequer saber de si. 

Eureka da alma

Se "tudo vale a pena quando a alma não é pequena", então quando nada vale a pena, faz mesmo sentido que não exista alma. 

Todos os dias dói

 Todos os dias sofro desta hemorragia 

No estômago de pensar que me odeias

Que sentes raiva de mim

Que te fiz sentir assim

E definho

Pele só e osso

Em tremendo desgosto

Por favor alguém me diga

Que um dia terá fim

E apenas o amor ficará na lembrança.

Eternidade

 Há momentos que, de tão intensos, têm o sabor da eternidade. Como diz numa das mais belas músicas "que seja eterno enquanto dure". 

Gosto de falar de eternidade não por causa de querer atingir a imortalidade, estar à procura de alguma fórmula para isso, ou mesmo acreditar nessas alquimias. Mas porque gosto dessa sensação de ter a eternidade num momento, de repente, pausado na mente, apagado o tempo, langoroso e sublime num segundo, breve mas perfeito. Pelo menos sentido assim então.

Agora pensei que talvez sentiste quando soou a meia-noite e beijaste-a na praia ao som dos foguetes de ano novo. 

Eu já não me lembro, senão do último breve beijo antes de eu entrar no autocarro há 8 anos atrás. Como se fosse quase uma vertigem. Isso são só feromonas e demais químicos hormonais do beijo, que provavelmente também sentes por estares apaixonado.

Agora quando penso em ti, só tu me dás essa sensação de eternidade maior do que toda essa descrição romanticóide que fiz acima. É, só de imaginar-te perto, ou só de pensar em ti, já sinto a priori que tu és a minha eternidade nesse vínculo atemporal que só nós temos.

O teu sax

 Ainda há pouco tempo pensei que se fizesse uma lista de quem ouviria horas a fio nos três instrumentos meus favoritos vivos, seriam o cello de Morelenbaum, a voz do meu intérprete favorito e o teu sax. 

Culpas a lua de te desencaminhar. Eu também. :)

Gostar

 A verdade é que eu gostava que tu gostasses de mim, não só de mim mas também dos elogios que te tecia, do carinho que te oferecia, da devoção com que zelava por ti. Simples assim. 

Esse sentimento sempre

 Tudo sempre acabou

Mas não quero que nós

Também se acabe um dia

Por mais agora achar

Que tem medida da eternidade

O que sinto tão cá dentro tanto

E é de verdade

Seremos sempre etéreos

Vivendo no pensamento um do outro

Mesmo que às vezes pareça danoso

É só o sentimento maior do mundo

Que alguma vez existiu no universo

Tão sólido e concreto e totalmente irreal

A dar-nos o sopro de vida e afago

A companhia plena de estarmos sós

E sermos só nós, uma só alma.

Será - Pedro Abrunhosa

Será que ainda me resta tempo contigo,
Ou já te levam balas de um qualquer inimigo.
Será que soube dar-te tudo o que querias,
Ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias.
Será que fiz tudo que podia fazer,
Ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer.
Será que lá longe ainda o céu é azul,
Ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul.

Será que a tua pele ainda é macia,
Ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia.
Será que ainda te posso valer,
Ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer.

Será que é de febre este fogo,
Este grito cruel que da lebre faz lobo.
Será que amanhã ainda existe para ti,
Ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri.
Será que lá fora os carros passam ainda,
Ou as estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda.

Será que a cidade ainda está como dantes
Ou cantam fantasmas e bailam gigantes.
Será que o sol se põe do lado do mar,
Ou a luz que me agarra é sombra de luar.
Será que as casas cantam e as pedras do chão,
Ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão.

Será que sabes que hoje é Domingo,
Ou os dias não passam, são anjos caindo.
Será que me consegues ouvir
Ou é tempo que pedes quando tentas sorrir.
Será que sabes que te trago na voz,
Que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós.

Será que te lembras da cor do olhar
Quando juntos a noite não quer acabar.
Será que sentes esta mão que te agarra
Que te prende com a força do mar contra a barra.
Será que consegues ouvir-me dizer
Que te amo tanto quanto noutro dia qualquer.
Eu sei que tu estarás sempre por mim
Não há noite sem dia, nem dia sem fim.
Eu sei que me queres, e me amas também
Me desejas agora como nunca ninguém.
Não partas então, não me deixes sozinho
Vou beijar o teu chão e chorar o caminho.
Será,
Será,
Será

Reavaliação

 Depois de passar a vida inteira a não gostar de fazer anos e também sempre alguém falecer à volta da data, só agora ultimamente é que fui saber pelas pessoas do outro lado do Oceano, que existe a possibilidade de um fenómeno chamado Inferno Astral. O meu défice de crença e a minha ampla abertura de mente, como sempre mantêm-me um bocado à margem como observadora. Porém no meio disto tudo, dei por mim a pensar e a reavaliar tudo. 

Também decidi hoje que vou tentar ao máximo não amar mais ninguém, visto que todas as pessoas que eu mais amo não me amam nem querem saber de mim e isso é claramente algo horrivelmente destruidor da minha saúde ainda mais. A falta de amor por quem me devia ter amado e acarinhado deve ter sido mesmo a razão de todas as minhas doenças, inclusive as raras, de sequelas. 

Acabou. Só não consigo deixar de amar a tal pessoa que não existe pois ela é a minha vida e tudo para mim. Percebi finalmente. 

 Não gosto de desnaturados, desertores, cobardes, traidores, metem-me asco. Também por isso a espécie humana, que até a água da chuva estragou, me mete nojo.

 Tivesses tu olhos bondosos ao olhar para mim e todo o teu carinho alojado neles como eu esperei que os teus braços tivessem. Ainda te aguardo tanto, que é quase como se existisses mesmo e pensasses também em mim quando consigo ver a lua. O amor tem destas coisas.

 Abismo

Onde caio

Só para ti

A boca abro

Estilhaço-me...

Estilhaço-me a cada morte, porque me lembra de todas as outras e da minha própria sorte. Os meus cabelos que perderam vida, mas basta o sol para fazer com que brilhem, é como o meu coração contigo. Sei que sou feita da maior escuridão que existe, a devastação dos desgraçados, os que são pele e osso e desgosto. Por isso também não falo com ninguém. Só contigo. 

 Nunca pude ficar, nunca pude deixar-me ir, nunca quis arrastar ninguém para o meu mundo de ruína e dor. 

Talvez seja então por isso que tanto amo fotografias de casas abandonadas, talvez só elas sejam como eu. 

 Tenho tantas saudades tuas que só tenho vontade de te pedir que me digas algo de carinhoso. Sim, sou muito tonta e desgraçada, eu sei. No fundo eu nunca quis fazer nada do que fiz para te magoar. Tu adivinhaste que eu era em grande parte como aquela personagem do Anna Karenina, nunca ninguém viu isso em mim antes assim. 

Se foi maior que tudo

 Se não se suscitou em ti o maior amor de sempre como se suscitou em mim, essa invasão descontente, então realmente não vale a pena. Mas se foi tudo então é só o que vale a pena.

Tudo o que eu queria agora

 Saudades de quando os mãos do mar invadiam o meu areal. As únicas vezes em que me senti mais feliz foi com o mar, estando ele atrás de mim, dentro e por todo o lugar, vejo as fotografias em que o meu sorriso é o mais aberto e alegre. Tudo o que eu mais queria agora era mergulhar nele e deixar-me levar. 

 Olhando uma pedra em forma de pequenino punhal, depois dela de novo, o ódio de tudo e depois da vida toda, da falta de condiçőes, de todo o horror, todo o mal que me fizeram, deu-me outra vez vontade de morrer, o que foi bom pois assim voltei a já não me entristecer tanto com a minha iminente morte.

A morte

 Sinto agora a tua falta e mais uma vez culpo-me por não ter podido estar ao teu lado quando mais precisávamos. A verdade é que nada importa, nem ninguém se importa realmente, já estão todos inseridos nessa banalização da morte, especialmente depois de tanta frequência dela nos últimos anos. 

Eu quebro sempre. Estilhaça-me tudo de novo. Dói muito. Lembra de todas as outras que não estão esquecidas e que se amontoam no meu doloroso vazio dentro do meu tronco. Não está oco mais, mas preenchido de tanta dor que parece sangue coagulado a sangrar na mesma. 

Ninguém se preocupa com a dor de ninguém. Ninguém faz nada de apoiar e acarinhar o outro sem ser a alguém do seu círculo mais próximo ou por outro lado alguém que desconhecem, como caridade a uma instituição. 

Eu que nunca pertenci, que nunca encaixei, que nunca fui de ninguém, senão de umas duas pessoas mesmo por algum tempo, tendo tido tantas que apoiei, nunca tive quem me apoiasse e estivesse do meu lado quando eu mais precisei. 

Fugi, vagueei, algumas pessoas estranhas acolheram-me por momentos, mas nunca pude ficar, nunca pude deixar-me ir, nunca quis arrastar ninguém para o meu mundo de ruína e dor. 

Talvez seja então por isso que tanto amo fotografias de casas abandonadas, talvez só elas sejam como eu. 

Mais um Verão passado

 Esqueci que é Verão, que vou fazer anos... 

Tu invades o pensamento todo o segundo. Deve ter sido mesmo uma praga que nos rogaram. Mas tu importas mesmo tanto para mim. Gostava que também eu importasse para ti. Como a beleza das flores, mas sem espinhos. 

Tu vives no frio e eu aqui no calor, incêndios pelo país, chega a ser um horror. 

Parece-me que nós oscilamos entre lume e queixume, chaga e chama, cruz e luz, escuridão e paixão. 

Não cheguei a ver nenhuma estrela cadente, estou com uma dor tenebrosa no pescoço, que me deixou bem ausente. Mas vi a lua, não tão grande quanto esperava, porém muito brilhante. E, claro, pensei em ti, meu menino das marés cheias e vazias. 

Será que alguma vez vou voltar à praia?

Uma vida inteira

 Às vezes, parece que já te amo há uma vida inteira e há um cansaço também porque nunca nos tivemos nos braços, imagino. 

Talvez virá de outras vidas a ânsia do meu corpo junto ao teu. Mesmo sabendo que na intemporalidade do nosso enlace isso é impossível de acontecer. 

Mas nada impede que a nossa maresia não nos involva, que as gotículas se venham colar ao nosso corpo como se o nosso magnetismo se sentisse no universo. 

Porque seremos o ar sempre do outro, os nossos pulmőes gémeos, o nosso coração em chamas no peito em brasa, pela vida inteira.

 "Desesperadamente"

 Será que ainda vou a tempo de curar tudo o que é mais urgente antes de eu morrer? Espero que sim.

 Amo-te com a força dos oceanos, dos terramotos, dos vulcőes e explosőes solares. 

Como pagar o impagável?

 Quando eu estava completamente destruída e era nada, tinha perdido tudo e todos, tu foste tudo para mim, meu pai, minha mãe, meu irmão, minha irmã, todos os membros da família e amigos. 

Mas acima de tudo foste quem ajudou a retornar à vida, sopro de vida em mim, o que numa pessoa moribunda quer dizer muita coisa. 

Eu, estúpida e horrivelmente, com o meu sistema de auto-sabotagem e defesa, mais a mania de que podia ajudar-te a dar o salto e enfrentar certas coisas de traumas que minavam a segurança, etc., magoei-te de forma irreversível para que se aniquilasse qualquer hipótese de apreciares uma pessoa moribunda e sofreres com isso.

Também é por isso que é tudo impagável, para não falar de toda a beleza da arte que me mostraste. Por isso, se há qualquer coisa que possa fazer e contribuir para que fiques melhor eu sempre tento ajudar. 

Não sei de outra maneira, uma vez que tenho esta dívida eterna para contigo. 

 "Eu estou onde sempre quis estar: ao lado de uma mulher rara, linda, a mulher da minha vida", frase que escutei agora numa série e que me emocionou um bocado :D tonterias :)

Tristeza de nós

 Será que esta tristeza vai sempre existir dentro de nós por nunca podermos realizar os sonhos que tivemos sobre nós? Esta dor no estômago, este vazio no peito, esta falta constante nos braços meus. As nossas viagens juntos serão só imaginadas. Tal como aquelas visőes tão reais que espero não esquecer. Que nunca a memória me falhe quando for para ver o teu olhar, o teu sorriso, especialmente o sorrisinho que fazes, as preguinhas no teu narizinho, o teu "sempre" e o teu "também". 

Tu serás quem não ouvirei dizer que me amas, porque na verdade, no fundo, eu sempre quis mais do que amor e é isso que temos, mesmo que eu tenha tido de estragar em bastante tudo, é um sentimento maior, que não há maneira de nomear até mesmo para duas pessoas como nós, amantes das palavras. Só o silêncio não tem limites como o nosso sentimento e só ele nos pode abarcar. 

"When I fall in love it will be forever" no rádio e de certa forma parece embalar-nos a tristeza agora neste frio, o teu invernoso, o meu colado ao osso. 

Nada do que eu possa dizer traduz.

Agreste

 Há um sentimento agreste

que está enraizado em mim

contaminado pelas poeiras

sufocantes e censurantes

da língua que fala o meu coração

O meu corpo arrasta-se

carregando esse chão de pó

calcando-o com desdém

querendo que não se levante

Meus pés chatos

de vez em quando assistem-me

reclamando dos dias tortos

que passam sem andar

persistem no calor abrasador

sem água para se refrescar

 Continua a cuidar de mim assim

Como eu sempre cuidei de ti

Com todos os S que sou.

 Não liberto o amor da prisão do coração

Não, ainda não,

Porque já o soltei nos dias sem fim

Nas noites em que ele vive sem mim

Com todas as outras gentes descontentes

E inconsequentes como eu não fui

Pois nunca escolhi para tudo poder ter

E nem uma pitada ter de perder

Mesmo assim, não chega

O mundo inteiro e o que ele oferece

Para o meu maravilhamento constante

Freio emoçőes ilusoriamente

Enganando-me e sentindo tudo

Levito quando retiro de mim o fardo

Quase encontro-me num celebrar

Gostei do que em mim fui apaziguar

 Talvez devesse oferecer a mim mesma um prémio (de consolação/glória lol) por ter conseguido de forma tão eficiente, diria, afastar todas as pessoas e mais ainda as que realmente são quem mais amei. 

Vou pensar em qual será o meu prémio, o mais rápido possível, não vá a senhora dona morte aparecer já por aí. Não vale ser só chocolate escuro :D

Peixe Macho

 Hoje resolvi apagar de vez

Com tudo o que me tem afligido

Com tudo o que me roeu a carne

Até sobrarem os chupados ossos

Resolvi cortar com as preocupaçőes

Os amores, os ódios, as indecisőes

Sempre fui um arrasa-coraçőes

"É só estalar os dedos que elas voltam"

Foram tantas obcecadas por mim

Sou o macho cobridor e elas as éguas

Que pus cabresto, inventei o espartilho,

O <i>wonderbra</i> e as <i>skinny jeans</i>

Mais saltos e tudo o que salienta

Só para satisfazer as minhas necessidades

Fantasias, tão <i>manly man</i> que eu sou

Com os meus olhinhos pequeninos

Que são como no aquário os dos peixinhos

Lua de Grãos

 Este amor não acaba nunca

Porque eu e tu somos grãos

Alagamo-nos, inundamo-nos

Secamo-nos com o árido sol

Germinamos nos mesmos chãos

Brotando do invisível lençol

Só para ir beber numa espelunca

Somos poetas atormentados

Por essa lua que resolveu nos cegar

Pelas emancipadas ninfetas

E artistas mancebos ilustrados

Iluminados mas tão a atrapalhar

Tudo o que precisa de estafetas

É colheita tardia predestinada

Quando a seara amadurecer

E o brilho do luar enternecer

Com a sua ansiada chegada

Com o passar dos anos a voar

Hoje haverá estrelas cadentes

As Perseidas irão chover

Para que nós de Agosto doentes

Possamo-nos finalmente perder

Elas cairão como grãos brilhantes

Lá do alto do negro pano do céu

Flamejantes desejos de quem sofreu

Pediremos que continuemos

Vivos e que um dia diremos:

«Sempre e para sempre, amor meu»

(Próxima "super lua", última do ano, tb chamada como Lua de grãos"

Encontrar equilíbrio

 És o dono do teu destino

Nesta frase a contradição em si

Ora vês-te perdido

Mas parece teres intuição em ti

Por vezes vem em ondas

Uma tal sensação

Que te faz sentir um epaminondas

Guiado por um genial coração

Mas hoje em dia tens de parar

Porque está avariado o teu radar

Não encontras o equilíbrio

E sofres com o teu juízo

Não podes afastar-te de todos

Mas também não te podes entregar

Os malefícios estão aí a rodos

Para quem não se acautelar

Sabes bem o que é ser triturado

Até ao tutano ser sugado

Mas vês egoísmo como algo errado

Não queres neles te transformar.

Lengalenga do Amor

 Fiz do amor o meu único sentido

Caminho sem retorno

De pedras e flores 

Como daquela vez em que fiquei

Suspenso em espinhos

Por horas e picado por mosquitos

Mas o amor foi remédio para mim

Passou álcool pelo meu corpo

E a seguir mais tarde

Um vírus deu-me por morto

Por uns padecentes três meses

Tempos passados 

E abandonaram-me

Naquela "longa estrada"

Dois dias seguidos a chorar

Com essa mesma música 

Deixada para me explicar

Muito mais tempo decorrido

Depois de já ter desistido

Lá fui eu ceder e deixar

Que o amor viesse de novo

Para me suplantar

Mas é sempre um jogo

Que eu não quero jogar

Porque a mentira existe

E eu só quero a verdade

Por isso sou tão triste.

 Agora dei por mim a pensar que devia mesmo haver uma maneira melhor de fazer com que as pessoas retirem aprendizagens fortes para as suas vidas sem ser eu me sacrificando no processo... Mas não, não me vou desafiar a encontrar melhor maneira, não, só estou a constatar. Toda aquela história do exagero continua a ser comprovada. O que é uma pena, ainda assim. 

Podia amar-te a vida inteira

 Vou amar-te a vida inteira

Só assim

Sem te ver cara a cara

A não ser no espelho

E nos teus retratos

Mas sem cheirar o teu cheiro

A não ser numa amostra

E sem escutar a tua voz

A não ser quando mostras

Para acabar com meu anseio

Vou-te amar a cada dia

Só mesmo assim

Sem te poder enxergar

Nem levar com queixas

Adorando-te a cada segundo

Como a mais amada das gueixas

Vou-te amar por todos os dias

Com sentimento mais profundo

Que nunca se poderá rebelar

Porque não conta com o mundo

Só eu e tu, tu e eu, para nos amar.

Alma nua

 Tenho saudades de ti por inteiro

Meu grande amor

Menino meu

Dono de mim

"De saber que posso nunca mais

Estar contigo dói"

 Génios reconhecem-se

Maus-génios detestam-se

E os que não são, agradecem

Isto quando não invejam-se

 Era como se fôssemos duas crianças

A vermo-nos pela primeira vez

Com o espanto e a ternura

De quem tem tudo guardado

Para finalmente entregar num abraçar.

Lentamente

 Regressar

Lentamente

Com passos certos

E certeiros

No caminho dianteiro

Vamos em frente

Agora crescidos

Mais curados

Juntos

Lentamente

Para sempre

O preencher do coração

 Sentir desprezo das pessoas que tanto gostamos e nos preocupamos é o que nos faz sentir a pior das pessoas e querer morrer o mais rápido possível. 

Por outro lado, se houver quem nos ame como somos é das coisas mais raras e mais salvadoras do coração. 

É triste precisarmos dos outros para nos preencher o coração, porque a maioria só nos causa danos e nem está aí para nós. Daí que para suplantar esses malefícios, seja necessária uma quantidade/intensidade de amor que mesmo assim não chega para apagar a marca da ferida causada pela indiferença e abandono.

O coração vazio não sei se é pior que o pisado; pela minha experiência não é, tê-lo tão destruído e espezinhado é mesmo o pior.

"#VamosEmFrente" #QueAtrásVemGente :/ lol 

 Às vezes pergunto-me o que teria sido feito de mim se eu não tivesse sido tão mal cuidada e maltratada desde sempre. Mas nós não nos damos a "ses", não é verdade? Não vale a pena. E tudo é demasiado horrível e triste mesmo, não há salvação nesta vida, só danação. 

 Crescer ou curar

Karma ou alma

Eu não sei de nada

Eu não entendo

Quase nada

Só quero

E sempre quis

Paz.

Semear Música

Planto cançőes

Onde havia traumas

Para que em vez

Floresçam coraçőes

Reverberem almas

Nos olhos que vês

Desfalecer

 Hoje quase desfaleci de vez,

Já há algum tempo que não acontecia

Pelo menos desta forma

Embora todos os dias

Ande na corda bamba

E em vez de apagar lentamente

Ardo nas chamas da hiperadrenalina

Até quase ocorrer a combustão

A água e o sal consumidos

Pela energia gasta numa conversa

Em que até nem quase falei

Mas emocionei-me um bocado

Não repus a tempo

E de repente veio a quebra

Como um lento fechar

De uma luz gasta

Que já estava acesa há demasia

Devia ter-me lembrado

Que não posso arriscar

E que o meu destino

É ficar ostracizado

E sem um lar

 A Arte arde em mim

Desde os antepassados

Desde criança literata

Desde jovem rebelde

Desde sempre 

E para sempre

Saudades

 Escrevo-te para te dizer que tenho saudades tuas. Aqui. Sabendo muito bem que não me entendes, pois não sentes como eu, por mim, o que sinto por ti. Não é somente uma sede ou uma fome, não, pertence a outra categoria, tem outro nome. É coisa que habita imediatamente debaixo da pele.que não tem explicação, nem razão, nem motivo sequer, senão este constante buliçar, crepitar de poros, pulsar ininterrupto de veias; o fogo que arde sem se ver. 

Não, já nem coloco entre aspas e tu sabes porquê. Talvez. Sei lá. 

Achas que estamos demasiado gastos? É, somos os toros chamuscados nessa lareira que arde há tempo demais. "I've been loving you, for too long, to stop now", agora sim, as aspas. Mas nunca estamos tão cansados que não consigamos já sentir esta coisa dentro de nós, que fizemos tão complexa e tão contraditória e ao mesmo tempo tão congruente e persistente quanto nós. 

Somos a maior festa, mas triste,,,, as canas dos foguetes, quase. E a dor, sempre a dor, daquele verso que nos diz que não nos veremos, que não nos vimos, que somos tudo e tão inteiramente, porque só comigo e contigo assim nos sentimos. 

É trágico... e, ao mesmo tempo, estamos sempre juntos, demasiado, pele no osso, carne na pele, una medula óssea. "O abraço que não desgruda mais", sim de novo as aspas. "Saudade, que saudade".

 Todas as dores e todas as alegrias se confundem com as nossas.

 Tenho me apercebido de tanta coisa no último ano - não sei se pela idade mais ou pelas circunstâncias -, que por exemplo agora assim de repente constatei que já sobrevivi a vírus que quase me matou em 1998 e a uma bactéria fulminante em 2006. Tanta coisa a que já sobrevivi e a tanta gente, até parece inacreditável mesmo, até para mim.

 Que o meu coração tenha o que verdadeiramente deseja, sem estar à espera de algo e que simplesmente o círculo se complete com a naturalidade do seu ser. 

Osmose

 Nós, os homens indefinidos, somos os mais perigosos; assumimos várias formas, somos camaleónicos. Mas eu sou coerente, rara vez absorvo a personalidade do outro e aí descaminho-me. Esse desencaminhar faz-me pecador maior, vândalo que já não é apenas artista, mas capaz de tudo sem se aperceber.

 Ser a Poeta de alguém é um grande elogio, não achas?

Excepcional

 És uma pessoa excepcional. Eles esquecem o que têm de fazer, ignoram as pessoas, descuidam afazeres, mas tu não. Tu és quase uma máquina em termos de produção; isso é bom, necessário e nunca escutes nem por um segundo os recalques de quem diz o contrário. Tu tens momentos enormes e intenso mas também levíssimos, de acção, de lazer, de silêncio, de inacção e até de pontual (como deve ser para maior sentir) prazer!

Tu não pretendes ser deusa, nem omnipotente ou presente, mas estás em estado inteiro em cada preciso momento, imersa de coração de boa vibração. Célere, tão célere, para que haja todas as hipóteses e chances possíveis. Tu não tens auto-estima, porque nunca precisaste realmente de ter, pois a única coisa que é preciso é fazer, depois o resto acaba por se desenvolver pois contra factos não há argumentos. 

É, afinal, és mesmo muito excepcional e isso apesar de não ser "normal", é uma coisa extremamente boa.

Semblante aflito

 Tento disfarçar e distrair a mim mesma do facto de estar preocupada com outras pessoas, mas não faço um grande trabalho nisso, pois é tão evidente o meu semblante aflito que o meu rosto recentemente desistente de lutar contra a gravidade e entregue à flacidez do vazio existencial, enruguece, escrevendo nas linhas tremidas da testa os seus pensamentos em carruagens de comboio desgovernado. 

 Quando a gente ama alguém, especialmente a arte de um artista, queremos que ele seja tudo o que ele é, sem traves, voando livre e tomando o seu lugar no mundo. 

Eu amei a Arte.

Meu Bem

 Precisei de ti para me lembrar de quem sou, de quem eu era e para ser de novo alguma coisa que se possa dizer que existe. 
Tu que és vida e sangue em mim, pecado mortal, rasgo do mal, minha vitória e glória sem fim. 
Meu Bem, meu bem, meu Bem.

 A Língua é uma preciosidade mas tem os seus preciosismos...

eim ?

O que será de mim 
Não sei
Vivo sem lei
Esboço de mim
Sem rei
Sofro assim
Não gostas de mim
Eu já sei

 Se o que dizes
Não é o que fazes
Como ficarás
Com a consciência
Com os gestos
E farás as pazes?

Sete mil vezes - Caetano Veloso

 Sete mil vezes eu tornaria a viver assim

Sempre contigo transando sob as estrelas
Sempre cantando a música doce
Que o amor pedir pra eu cantar
Noite feliz, todas as coisas são belas

Sete mil vezes, e em cada uma outra vez querer
Sete mil outras em progressão infinita
Quando uma hora é grande e bonita assim quer se multiplicar
Quer habitar todos os cantos do ser

Quarto crescente pra sempre um constante quando
Eternamente o presente você me dando

Sete mil vidas, sete milhões e ainda um pouco mais
É o que eu desejo e o que deseja esta noite
Noite de calma e vento, momento de preces e de carnavais
Noite de amor, noite de fogo e de paz

 Se antes já era difícil viver, imagine-se agora. Sabendo que se vai passar o resto do tempo assim e que ele vai passar, as coisas vão acontecendo e eu continuarei vazia com esta sensação de que só tu és tudo para mim. Tudo vai ser e já é uma estupidez sem sentido. Porque é que tu não existes?

Mea Culpa, mea maxima culpa

 Nem mil mea culpas chegavam para o quão horrível eu fui com ele, essa é que é essa.

 Mais uma que só agora é que me apercebi... só eu para fazer de tudo e mais alguma coisa para uma pessoa ficar forte inclusive contra mim mesma.(e a acharem-me insuportável) . ai ai lol será que isso também faz parte da não auto-estima e auto-sabotagem? Claro que não pode ser, porque se tratou dos meus irmãos amados. <3 Realmente que mania idiota, ainda bem que acabei com isso e aprendi a lição. 

Aquela velha canção

 Como é que é possível que sejas eu, se não por que és tantos outros distintos? Não precisas mais de mim? Será que precisaste tanto assim? Para quê exactamente? Para te sentires vivo,, para conseguires escutar, para conseguires sentir? 

"Eu não sei bem porquê, só sinto na vida o que vem de você"

 Consegues imaginar a tua vida sem a outra pessoa? 

Fiz

 Do que fiz, arrependo-me de ter sido sempre crédula e ter deixado que abusassem da minha bondade, também de ter sido teimosa com os meus princípios e inclusive fazer tudo o que fiz a mais de tão demasiado para as pessoas que fiz. 

Isto de poder morrer a qualquer momento fez-me lidar e gerir da maneira que me deu, agora é tarde demais.

O nosso amor insone

 Tiraste o sono que ainda tinha

Deste cabo do nosso sonho

Com teu ar de desespero risonho

Destruíste-me no que restava

Insultaste-me quando já era nada

Ofendeste-me a torto e direito

Em cada oportunidade vistosa

Condenaste toda a nossa prosa

Fitando-me com olhos de lobo

Que quer estraçalhar-me toda

E ainda assim esse amor agora

De novo me parecia mais forte

Que a luz ofuscante da aurora

 O nosso poema

não tem palavras

é feito do instante

antes do beijo

levita como pena

mágica de abracadabras

desejo constante

segredo que se guarda

 Vejo o tempo escoar

Com o coração escravizado

Arrastando correntes

Num sentimento de lar

Que não é sonho alado

 Eu a ver tudo preocupado com o "qual o sentido da vida?" (inclusive já me vieram perguntar lol e imagino então, pela inquirição frequente, que deve ser por isso mesmo que o ser humano sempre se virou para os céus/crenças em divindades, etc.), devia ter mandado ver os Monty Python sobre o assunto que tão genialmente satirizam tudinho, mas sinceramente, sendo eu pessoa que está a largos passos a caminhar para o fim da vida, inclusive tendo passado grande parte dela ciente de que ela não tem qualquer sentido e que nada faz sentido (senão o que tão forçosamente lhe damos, seja o que for, no que for), até chega a ser irónico também, triste, como tudo.

Amanheço-te em mim

 Amanheço na noite sem fim
Dos dias que passo sem ti
Olhando as andorinhas bailar
Como é belo o seu voar!

Raia a aurora ascendente
Com a música das tuas mãos
Foste meu luar e meu sol
Hoje ainda és o meu guardião

Céu azul que és meu mar
Sonho que nunca tive
Nublado e ventoso
Surdo e mudo
Mas tudo para mim

Surpreendo a luz
Guardo nos braços a madrugada
Recolho o orvalho da mágoa
Tu que eu nunca quis conhecer
Mas que nunca conheci mais ninguém

 Engoles-me
Mastigas-me até
Sou o esqueleto da dor
Da tristeza sem fim
Mas o teu amor é tudo
Como som para um mudo.

 Escavo luz na escuridão

Gemas nas profundezas

Mundo raro de coração

A beleza das delicadezas

O amor da minha vida não existe

 O amor da minha vida não existe,

Mas danço com ele nos fins de tarde

Na praia no areal

Com o pôr-do-sol como sinfonia

Acompanhando a maré a bailar

Guardo as fotografias dele

O seu cabelo ondulado

O seu olhar delicado

A sua barba por fazer

Uns poucos dias

A esculpir-lhe o rosto

Suavemente

E o seu corpo a enrodilhar o meu

Vivemos debaixo do céu

A contar milhőes de estrelas

Passamos noites a vê-las

O amor da minha vida não existe

Mas é com ele que estou todos os dias.

 Perguntaram-me sobre o que é que eu escrevia. Respondi que sobre tudo e sobre nada. Porque quando se é poesia só se existe assim. 

 Respirar gotas de alívio

Suspirar ondas de paixão

Inspirar marés de início

Expirar tsunamis de tesão

Impotência

 Quando um ente amado está mal é muito pior do que quando nós estamos mal. 

Falta-nos o ar, dói-nos o estômago, os nossos braços viram vazios e imprestáveis; tudo parece virar cinzento e inútil.

 Se te quiseres sentir vivo, é só falares comigo e dizeres o que tanto queres. Escutar-te-ei de novo e te soprarei vida pelas veias.

 A madrugada é só o dia para nós, poetas do silêncio.

 Estamos todos ainda vivos, mas a sufocar completamente neste ar poluído.

 No fundo não passamos das mesmas meninas e meninos. 

Eu só queria salvar o mundo, mas nem a mim posso salvar da morte.

 Não quero mais ouvir-vos falar

A mentira é o vosso lugar

 Deixa o amor descansar

Do cansado caminhar

Do embaçado olhar

E o silêncio habitar

Como magma a incendiar

Nas profundezas a borbulhar

 Compreendo-te como um búzio ao oceano

Escutando o teu eco dentro de mim

 A verborreia mental só existe porque não é vociferada. 

Pára! Não dá. És a Yayoi Kusama das palavras agora. E eu detesto-te, quando precisava tanto de amar e curar-te contra ti mesma.

 Se é suposto eu morrer nos próximos tempos, por que puseste esse amor sem pés nem cabeça, que não tem que ver com nada, que é só armado em materialidade quando eu já sou só mais espiritualidade de alguma maneira e só queria ter paz e sossego antes de morrer?

Sentimento extropiado

 A bem ver, acho que tu foste a pessoa que mais me insultou a mim e ao sentimento que nutria por ti, depois de tanta proximidade e confidência. Já passei do tempo de te largar a mão, mas é tal como a minha data de expiração, passou mas continuo volta e meia. Um dia será o (meu) fim, porque tudo acaba não é? Até o amor infinito de uma alma penada. 

 Quase que me ri agora por eu (detentora de défice de crença) ter pensado: I'm gonna be so pissed off if there's nothing after death! 

LOLOLL

Corpo guarda memória, eu raiva de tudo e todos.

 A verdade é que teria medo de te ver, porque o corpo guarda memória e quando se teve um amor tão forte, tendo dito e sentido tudo o que se sentiu, o apaixonamento era sempre o procedimento mal nos reencontrávamos de novo. Não se encontra duas vezes um amor assim, que fala a mesma língua e se entende tão bem em quase tudo.

Passei a vida inteira a gostar de pessoas que foram quase tudo mas não eram exactamente tudo o que pensávamos, nem eles mesmos de si. O que me leva de novo a ver que não só não houve a pessoa mais corajosa, como também a mais forte. 

De que vale dizermos que ainda gostamos muito um do outro se é tudo memória forçada pelo que foi bom e já não se tem. 

Espero que lhe tenhas dito a ela agora que ela é a mulher da tua vida, e não eu, como me disseste que eu era naquele ano em que estavas com a "linda" ninfeta nórdica masoquista. 

Não, tu não gostas de mim, acredita. E se gostas, como dizes, também não fizeste nada que não fosse abandonar-me enquanto a morrer. Nem devia ter atendido a chamada, assustei-me e por isso atendi. :/ 

PS,: pior q c a porcaria q t disse, tu ainda dizes gostar muito de mim. nos últimos anos tem sido assim, o tal "gosto muito de ti, mesmo com o mau feitio". enfim..., eu ainda expliquei porque é que não tenho respondido nem dito nada. Que raiva é de mim, por ser sempre a compassiva, compreensiva, etc., mas o que vale é que já estou melhor, passa-me rápido hoje em dia, questão de minutos :)

Poeta filósofa, não tanto

 Não sou uma poeta amada, nem tanto amável já. Não me dou a entreter o desejo de ninguém, a atiçar paixőes, a ser apenas mais um objecto. 

Chamam-me de filósofa, sim, também é o que sempre fui, amei muito o conhecimento, hoje em dia não tanto. 

Ter-me finalmente assumido como sendo poesia, o estádio mais almejado, bastou-me. Miller invejaria e Kahlo se orgulharia.

 O tempo só passa para quem não se lembra dele.

"Coração, mente e alma" já não são mais meninos

 Todo o carinho que te tive, o cuidado, o "amor puro e imensurável", relembro agora e não te preocupes que serás sempre meu para te guardar; a promessa que vos fiz nunca hei-de quebrar. 

Sempre dizia que esperava que o mundo não amargurasse com o tempo os coraçőes puros, mas sei que tudo muda, poucos são os que ficam inocentes, remanescendo só em amor. 

Vi todos quebrarem-se com o tempo, contaminarem-se, e tu amor meu, lindona do meu coração, também viste e cedo bem desististe. 

Eu nunca desisto de ninguém, teimosia minha, por mais que isso que sangre, um dia mais tarde verei como já vi, tudo o que estava na essência da pessoa para pequenotes florir. Deve ser porque também estou habituada a sangrar e a continuar, observando o tempo desenrolar-se como vi antes tudo acontecer. 

Afinal o que são todos senão a repetição de todos os outros de coração, mente e alma?

Meu mar

 Estou sempre contigo

A sentir-te em ondas

A cuidar das sombras

Para que se iluminem

E possas estar seguro

Enviei-te pássaros

Com os seus cânticos

Ao nascer do sol 

Mostrei-te estrelas

A rodear o luar

O seu brilho sedutor

Só mesmo para te animar

Porque é o que te faz pulsar

Vibrar o sangue e coração

Essa necessária dose de emoção

Mas com ventos violentos

Para poderes sentir a canção

O Amor não existe

 O amor não existe

O que existe é a beleza do fogo

 que arde sem se ver

Racismo em primeira-mão/voz

 Desde criança que sofro violência (incluindo física) por causa da minha cor de pele, por parte de várias pessoas no meu próprio país. Fui feita para acreditar que o que era bonito era ser branquinho de olho azul. A minha própria progenitora sempre demonstrava carinho maior - e dizia coisas que eram horríveis para mim - para com os meus primos brancos e mais gordinhos e perfeitinhos do que eu. Queria que eu tivesse tido olhos azuis como os meus avô ou a minha tia paternos, zangava-se comigo quando eu enquanto criança punha os joelhos no chão porque iam ficar escuros, ou apanhar sol e ficar mais escura ainda. Magoava-me ao mexer no meu cabelo diferente e insultava-o. 

Não sei quantos dias foram em que a ouvi chegar a casa e contar num tom racista que me enojava coisas que tinha visto na rua, ou mesmo sempre a referir-se a todos do próprio país em que ela nasceu (estado de Goa, a dita antigamente Índia portuguesa) - que não foi o meu, Portugal - das castas menores, etc. Sinceramente, às vezes parece que foram todos os dias mesmo da minha vida inteira, de uma forma ou de outra. 

No ano de 2020, fiz um teste de adn de origens, que surpreendentemente e ao contrário do que eu queria deu 100% de uma só origem, algo que é extremamente raro, visto que somos todos seres humanos misturados mesmo. Se todos fizessem o teste acabaria essa palhaçada, ou senão do jeito que as pessoas são mesmo horríveis é provável que ainda emergissem facçőes puristas de eugenia rara, ou outra qualquer estupidez que inventassem para se sentirem melhores acerca da porcaria que são.

Hoje, ao ver notícia nestes dias de que uma tipa nojenta branca reaccionária foi violenta verbalmente com crianças africanas brasileiras cá em Portugal e foi presa, pois racismo é crime, fez-me lembrar de quantas vezes avisei e disse à minha mãe sobre isso. Ainda me parece ter sido poucas vezes. Pensei em como se a minha mãe perpetrasse de novo semelhante crime, assim como fez no ano passado segundo me relatou chegando de ter andado num transporte público (ao dizer a alguém de aspecto africano que usasse máscara que aqui não era como no país de onde viera), fosse sujeita à justiça dos tais 5 meses ou multa pela leI instaurada, eu ficava maioritariamente bastante contente.

Esse é o tipo de monstro que ela me tornou.

 Desaguo

Como oceano de tristeza que sou

Com o perfeito coração que teria

Se não fosse deixada pequenina

Menina-pássaro que um dia voou

 Se a paixão é fósforo

E se o amor é sossego

Então o que eu sinto por ti

Nunca existiu

Não consta em nenhum dicionário

É feito rio

Não pára de correr

(Improviso no insta ao ver aurora chegar, pela janela)

Lugar

 Queria poder estar num lugar contigo

Onde os céus fossem intermináveis

Onde os nossos braços fossem abrigo

Onde os impossíveis fossem alcançáveis