Monday, August 01, 2022

Racismo em primeira-mão/voz

 Desde criança que sofro violência (incluindo física) por causa da minha cor de pele, por parte de várias pessoas no meu próprio país. Fui feita para acreditar que o que era bonito era ser branquinho de olho azul. A minha própria progenitora sempre demonstrava carinho maior - e dizia coisas que eram horríveis para mim - para com os meus primos brancos e mais gordinhos e perfeitinhos do que eu. Queria que eu tivesse tido olhos azuis como os meus avô ou a minha tia paternos, zangava-se comigo quando eu enquanto criança punha os joelhos no chão porque iam ficar escuros, ou apanhar sol e ficar mais escura ainda. Magoava-me ao mexer no meu cabelo diferente e insultava-o. 

Não sei quantos dias foram em que a ouvi chegar a casa e contar num tom racista que me enojava coisas que tinha visto na rua, ou mesmo sempre a referir-se a todos do próprio país em que ela nasceu (estado de Goa, a dita antigamente Índia portuguesa) - que não foi o meu, Portugal - das castas menores, etc. Sinceramente, às vezes parece que foram todos os dias mesmo da minha vida inteira, de uma forma ou de outra. 

No ano de 2020, fiz um teste de adn de origens, que surpreendentemente e ao contrário do que eu queria deu 100% de uma só origem, algo que é extremamente raro, visto que somos todos seres humanos misturados mesmo. Se todos fizessem o teste acabaria essa palhaçada, ou senão do jeito que as pessoas são mesmo horríveis é provável que ainda emergissem facçőes puristas de eugenia rara, ou outra qualquer estupidez que inventassem para se sentirem melhores acerca da porcaria que são.

Hoje, ao ver notícia nestes dias de que uma tipa nojenta branca reaccionária foi violenta verbalmente com crianças africanas brasileiras cá em Portugal e foi presa, pois racismo é crime, fez-me lembrar de quantas vezes avisei e disse à minha mãe sobre isso. Ainda me parece ter sido poucas vezes. Pensei em como se a minha mãe perpetrasse de novo semelhante crime, assim como fez no ano passado segundo me relatou chegando de ter andado num transporte público (ao dizer a alguém de aspecto africano que usasse máscara que aqui não era como no país de onde viera), fosse sujeita à justiça dos tais 5 meses ou multa pela leI instaurada, eu ficava maioritariamente bastante contente.

Esse é o tipo de monstro que ela me tornou.

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