Os anos vão se passando, soprados pelo bafo quase nauseabundo da inutilidade Dos sucessivos tempos de clausura - os últimos foram estes dez anos -, entre quatro paredes e a vista de grades na janela, não sobra a luz que é a réstia dos momentos bonitos que passei e senti alguma felicidade, um pedacinho de prazer aqui e ali, tão distantes, tão remotos agora também na memória.
Escrevo isto e lembro que sou escritora, quando tudo já foi escrito. Encharco-me do suor das minhas lágrimas que as minhas veias derramaram sem piedade. Tenho pena de mim e no instante seguinte refuto-me dessa auto-comiseração, só para me achar patética de novo. O quão não admirável eu sou. Sempre a cometer os mesmos erros ainda que com alguma distância no tempo e a ser imediatamente castigada. É, de novo o meu castigo foi um tanto dilacerante: não te poder ver.
Parece uma trama de um enredo doentio e intrincado só para que tenhamos futuro, mas essa é a desculpa esperançada que nos damos. Eu esperava-te mesmo sempre de alguma maneira, mesmo sabendo que era tudo uma ilusão da minha cabeça.
Às vezes, pergunto-me: quantos anos mais para algo capaz, e para o fim? Eu tenho saudades tuas por demais e acho que não era suposto. Os anos correm e transformam-se num borrão que deixa um rasto mínimo como quando a velocidade atinge anos-luz. Piscas e já está.
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