Estava convencida de que tínhamos sido os dois culpados pela força de quem éramos. Mas agora vejo que não. Eu nunca quis nada daquilo que aconteceu. Cruzarmos foi um dos piores eventos da minha vida em termos da personalidade que me fez ter. O problema, vejo eu só agora, é que os nossos subconscientes são tão entrelaçados e eram tão doentes, que se atropelaram um ao outro e estavam sempre a falar mais alto. A nossa gémea génese era o que fazia afinal eu pensar que me estavas a imitar e a investigar, enviando as tuas pessoas cercarem-me. Eu caí na armadilha de os amar a todos. De me colocar no lugar deles. De ter a tal da compaixão e amor total. Era urgente amar, ou não era? É, acho que sempre é, no fundo, dadas as circunstâncias.
Sempre tive uma forte sensação de que estava a reconhecer o que estava a acontecer, como se já tivesse visto aquele filme antes. Mesmo assim doeu tudo tanto, sentiu-se tanto, amou-se tanto, como se fosse todo o segundo o último.
A vida nunca mais há-de ser assim e ainda bem, não só pela insustentável intensidade e insanidade alheia contagiante, mas porque nós só somos o outro, eu e tu, iguais na semente da criança consciente, e isso, por mais que o mundo na sua extensão espácio-temporal fale muito alto e me perturbe - apenas a mim, que estou já consciente -, o mundo humano fala mais alto porque é nele que tu vives completamente.
Germinámos em tanto lugar. Não sei como foi. Mas deve ter havido muitas vezes bonitas, com direito à nossa Primavera e ao nosso perdão para quem tanto chorou.
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