segunda-feira, fevereiro 26, 2024

O aparelho fonatório da vida

 O gira-discos que inventou o teu destino tem a agulha estragada, sim, vai riscando todo o som, desafinando-o em politons estridentes, que nem os teus tampões nos ouvidos conseguem abafar e põe-nos doentes.

De vez em quando, uma dor de garganta lembra-te que tudo ficou entalado e sem conseguires expressar, porque desististe de fazer com que, quem querias, te fosse escutar.

Apenas num mundo que é um hospício em que todos falam até ficarem sem voz e ninguém se escuta a si próprio e ao outro, é que vivem matando como se nada fosse e até fazem disso uma festa.

Os barulhos ensurdecedores do ser humano: os tiros e explosões, electrocussões, matam-se uns aos outros e às baleias e comem os seus pulsantes corações. 

(2023)

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