Das coisas mais difíceis para mim é ter de me afastar de propósito de quem gosto só por causa do bem deles e os poupar a terem de sofrer. Desta vez, éramos três amigos, pensei eu, mas pelos vistos não. Pior que eu queria muito que continuassem a ser meus amigos. Parece que é uma sina idiota. Porque é que eu não posso ter um amigo que não passe a querer ser mais do que isso? De preferência que só um que goste de mim e eu dele e não os dois?
Tudo isto suscitou a que examinasse casos no passado e de facto já tinha acontecido pelo menos umas três vezes antes na minha vida: dois amigos/primos/tipo irmãos passarem em pouco tempo a gostarem de mim mais do que era suposto. Sempre complicado. Fico sempre surpresa e chateada, depois confusa e triste, por também ter de os deixar. Inclusive porque eu fico sozinha sem nenhum dos amigos. Ainda se espantam porque é que eu estou completamente celibatária há mais de doze anos. Pudera! Quando me aparece alguém é só gente complicada, incrivelmente pior do que eu no que era necessário para se ter uma relação, embora eu não tenha também grandes condições para nada.
Mas confesso que não estava à espera, de novo. Especialmente de ser instigada tanto quanto fui ao ponto de me avaliarem como mulher a porem-se a comparar coisas. Ainda por cima tendo acabado de fazer anos e de já há décadas ter noção de que estou muito doente e que o meu corpo é como é.
Outra mulher ficaria extremamente ofendida por ser avaliada como um objecto. Eu fiquei mexida com isso, mas como sempre entendi o que estavam a querer dizer que era para eles mesmos. Porque nunca é tanto sobre nós mas mais sobre eles, pelo menos da maior parte das vezes.
Cada um de nós dá a desculpa que dá, cada um de nós tem a noção do que podemos fazer ou não, cada um de nós defende-se como dá. Pusemos hipóteses, sim, isso é que foi o pior. X. "desbloqueou" Y. como este disse, mas a mim também um bocadinho no sentido de voltar a formular hipóteses.
Somos artistas, fascinamo-nos de repente, deve ser isso e não deve passar disso. Talvez no fundo eu e Y. estejamos ainda demasiado traumatizados para sequer pensar em hipóteses e X. com a sua jovialidade e omnipotência de quem tudo pode, não podendo, fugiu também à questão. Ou não. O amor, ou os seus simulacros, hoje em dia é tão moderno e fugaz. Mas também ele era ciumento, pelos vistos e com outra, ainda por cima. O nosso fofo amorzinho fugaz de amigos honestos palhaços, com eles sempre ébrios, foi um bocadinho marcado, sim. Eu vi todas as fases e nuances só nesses poucos breves encontros ao acaso.
Eu não me permiti derramar um par de lágrimas pela tristeza que já estava misturada e acumulada com as restantes destes últimos dias. Por isso, não permiti que puxasse essa linha dos acontecimentos, mesmo com pesar. Talvez no meu âmago eu saiba e esteja a fazer o melhor, mas conscientemente eu não sei de nada e não consigo decidir nem saber. Talvez seja uma cobardia profunda, embrenhada tão fundo que me congela e sabota com essa espécie de apego evitativo.
Ou talvez não seja nada disso e, simplesmente, como disse X. não encontrei ninguém que estivesse à altura mesmo. É o mais provável, sim, infelizmente.
Adeus, amados.
(raio de eclipse, hein? mas, pronto, tá feito 😟💔always)