terça-feira, julho 22, 2025

Do inferno

 O inferno é na Terra, onde todos os dias violam crianças, matam, estropiam, e fazem tantas outras coisas horrendas. 

Fazem uns aos outros e a si mesmos. Aos animais, aos habitats, aos elementos da natureza. 

O ser humano tem deuses falsos para justificar a sua existência idiota e ele próprio é o diabo dos animais. Neste inferno que criámos e para o qual eu nunca quis vir, todos os dias da minha existência tive problemas físicos. Tive esperança várias vezes que o meu inferno pessoal terminasse, que eu finalmente morresse e não tivesse mais de sofrer todos os minutos com a barbárie que me faziam. Não tive ainda essa sorte. Pior, ainda me meti em mais trabalhos. E agora vivo todos os dias a sentir-me culpada e a não entender completamente como me deixei afectar e até contaminar por tantas pessoas, ao ponto de ter imitado os seus comportamentos por tempo suficiente para fazer muito mal, especialmente a mim. 

Com tantas mortes de pessoas da minha família, lembro das pessoas famosas e não só que se suicidaram. Sempre tive um bocado de inveja delas. Sempre queria ter tido a coragem ou a falta da hiperconsciência que me trava sempre nos momentos mais desesperadores. Já vi e vivi tantos horrores para mim. Mesmo assim, digo-me sempre: pior estão as crianças estropiadas, etc., e as que são obrigadas a casar com homens velhos.

É, a merda do inferno na Terra, só fica mais e mais quente ultimamente. Ele é de tantas estirpes e locais, mas é um todo que infelizmente tem como cúmplices os ditos normais. 

 Não olhar

Não ter medo

Não acontece

Não penses 

 Se for agora que é de vez, com a úlcera ou o que for, quero que saibas que não foi nada bom, senão te conhecer. E lamento por tudo o que fiz de errado, claro. 

Tom

 Ele tem o mesmo tom desiludido com a vida do que eu. Às vezes surge um tom mais doce, algo paternal, outras vez um tom mais assertivo e final. Também tem aquele tom de quem ri. Mas também o que faz graça sem se rir ao mesmo tempo, só depois. Esse tem um tom também de chalaça. Há um tom de desgraça: esse é fundo no pesar, ou então é sonoro gritar. Tem o tom maroto acompanhado de jeito afoito. Tem ainda outro tom, que me faz ficar num oito. Há o tom que me atravessa, me devassa, o que me devasta e o que me despedaça.

Todos acompanhados de um olhar quase de cada vez diferente. 

Quase me esquecia do seu primordial tom de espanto. É tão basal quanto o seu tom de pranto. 

Música

 A música está mais acelerada 

Como os indivíduos e os tempos 

Em síncope e sincopadas

Ritmos curtos e ofegantes

As mensagens mais endiabradas

Reflectindo o inferno que vivemos 

Somos o que ouvimos e o que lemos

Mas mais o que fazemos

Nessa vida toda errada

 Abrir os olhos 

Tirar as lentes rosa dos óculos 

Enxergar até o veneno nos ósculos

 Quando toda a gente que mais amaste deixou-te para morreres sozinha, é que finalmente acordas, partem-se as lentes cor-de-rosa com que vias tudo e todos e vês como é que são mesmo as pessoas, e desistes de esperar que elas sejam melhores do que na realidade sempre foram. 

 Quando és completamente honesto 
Ficas inteiramente nu
Tudo o que é funesto
Deixa de ser tu

 Não esperes que eu deixe de te amar
Eu esperei, antes tentei e até lutei
Mas hoje dei por mim novamente 
A sentir-me condenada irremediavelmente 
Apaixonada por alguém que me detesta
E que eu só vejo este sentir como doença 

segunda-feira, julho 21, 2025

Um amor de nós pretas

 Como com todas as coisas, ninguém precisa de acreditar no amor, porque ele existe se existir e pronto, um dia há-de vir. Como volta e meia vem em ondas que ninguém tem, mas que todos sabem sentir quando vêm. 

O amor não salvou quem tanto o teve à sua volta. Embora enquanto ela esteve por cá se sentiu salva por ele. Em tantas formas que se viu, que se sentiu, que veio em ondas bater. 

Estar ligada nessa grelha de afectos com o coração, ainda não me desligou mesmo passado tanto tempo e tanta desilusão. Ainda somos todos o mesmo, com pequenas variações. Sentimos e levamos com as mesmas ondas de rádio. A cura também era assim. Um oásis na dor era feito de amor, não tenhas dúvidas. Fui sim amor infinito em alma penada, sei, mas nunca quis nada. Aconteceu e eu fui também a ele subjugada. 

Entre o amor e o ódio

 Entre o amor e o ódio, está o medo. No início e no fim. É sempre o mesmo enredo. 
Medo de amar e até odiar por medo. Medo de ser ridículo, de ser enganado, medo de estar perdidamente apaixonado, medo de estar condenado, medo de ser ultrapassado, substituído, ultrajado, medo de amar e ser amado. Medo de não ser amado, medo de ser controlado e vilipendiado, medo de ser injustiçado. 
Entre o amor e o ódio, um rio que chove.
 Tanto barulho 
Não há paz
Tanto entulho
Não se é capaz
No meio da pressa
Quem dá não leva
Ninguém se interessa
Por quem fica atrás 

 Da sublime subtileza de passar entre os pingos da chuva. Eu sei. Eu fui a vida toda. 

sábado, julho 19, 2025

 Só se pode amar verdadeiramente alguém se aceitar a pessoa como ela é, gostando e acolhendo-a; esse é o amor incondicional. 

Os cantores românticos e as suas musas

 Eles não são do tipo romântico 
Só cantam as canções 
E põem as moças com ilusões 
E um coração frântico

A mim fundiram-me o fusível 
Fizeram de mim a mais terrível 
E nem me perguntaram opinião 
Não ganhei nada nem um tostão 

Todos eram afinal actores
De uma peça que comandaram
Eu andei alheada a todos factores 
Enquanto me ludibriavam

Fui um peão manipulado por reis
Um daqueles que não chega ao fim
Para ter a devida dignidade das leis
E ser rainha por justiça a mim

segunda-feira, julho 14, 2025

Não posso dizer o mesmo de vocês

 Eu sempre te defendi 
Não posso dizer o mesmo de ti 
Eu sempre estive lá para ti
Não posso dizer o mesmo de ti
Eu nunca te deixei para morrer
Não posso dizer o mesmo de ti
Eu sempre te alimentei
Não posso dizer o mesmo de ti
Eu nunca te ignorei
Não posso dizer o mesmo de ti 
Eu sempre te amei
Não posso dizer o mesmo de ti 

domingo, julho 13, 2025

Esse amor que esqueço

 Esse amor rarefeito 
É nuvem passageira 
Nem se vê direito 
Numa vida inteira 

Nem é como o outro 
Que foi densa neblina 
O meu amor é d'ouro
De tolos ele se ilumina 

Mas não há eternidade 
Nesse amor que foi festa 
Tão bonita como o luar
Agora só a saudade resta


Amputação

 Foste arrancado de mim
Amputou-se uma grande parte de quem sou
E hoje em dia vejo crianças desfiguradas
Com as suas partes amputadas
A tentar sobreviver num cantinho em Gaza
Mas com vontade de morrer na sua casa
Depois de tudo o que se passou 
Já nada de nada sobrou
E este buraco gigante no meu peito
Agudizando e me encolhendo de dor
Sabe que um dia fui mais só amor
Mas que rapidamente se tornou 
Na pior coisa que já senti
E de que não tive controlo 


sábado, julho 12, 2025

Ilusão, o silêncio das estrelas

 Às vezes sinto-vos à beira do precipício 
São raras vezes mas vem-me a sensação 
Do vosso aperto no coração e estômago 
É de ti, dela e dele que me acontece
Como se o céu escurecesse e chovesse
Como se a agonia fosse coisa líquida 
Que nos banha mas não nos lava
Meus outroras mais-que-tudo nesta terra
Eu não sei mais o que vos falasse
Por isso apenas tenho silêncio nas mãos 
E nada dou porque esgotei tudo o que dei
Afinal vocês tinham razão e tudo passa
Ao contrário do que eu acreditava 
Naquele infinito intenso palpável 'monolito'
Também graças a vocês aprendi que não 
Que era e sempre foi minha a ilusão 

A verdade mais simples de todas

 Basta dizeres a verdade mais simples de todas: eu amo-te e não quero que te vás.

Simão

 Deixei-te cair
Deixei-te morrer
Não consegui mais segurar-te
Não consegui mais dar a mão 
Quis largar-te
Perdão 
Não aguentei que acabasse
Sempre soube que ia acabar
Não tolerei o tormento de não saber
Quando é que ia acontecer 
Mesmo que tu me cantasses
Que o nosso amor não ia morrer
Eu quis acreditar de cada vez
Mas no fundo não consegui
Eu nunca tenho direito ao amor
A doença me agarrou pelo pescoço 
Me sufocou
Eu só quis respirar 
Só queria tudo terminar 


Ada

 Vivia abilolada
Estava apaixonada
Tão envergonhada 
Foi humilhada
Gozada e desdenhada
Pensou-se acabada
Condenada 
Amaldiçoada 
Eternamente atormentada
A culpada
Até que um dia do nada
Viu-se libertada
Deixou de estar enganada
Viu que foi mal passada
Um rascunho e rasgada
Pior que foi queimada 
Censurada e cancelada
Bloqueada e esnobada
E agora que está acordada 
Ada já não é dominada
Do dono que a tornou resgatada
Quando foi por ele buscada 
No canil onde estava abandonada 

sexta-feira, julho 11, 2025

Já não tenho saudades de ninguém

 Esgotei as saudades 
Porque tive-as diariamente 
Sem parar
Sempre a jorrar
Como cascatas todas juntas
E às vezes alagavam tudo
O peito doía tanto
Que a água saía pelos olhos 
Agora já não as tenho 
E ainda bem 
A dor e as decepções 
Sempre aniquilam tudo
Pela acumulação do sufoco 
Nunca foge à regra
Até já tinha perdido esperança 
Mas finalmente acabou a dança 
Entre a dor e as decepções 
Apagaram-se as ilusões 
Voltei a ser pura feliz criança 

 vivo distante 

mergulho no Outono dos dias

já não olho as suas sombras 

apenas as minhas maresias 

e vem a tal da melancolia 

que vive de escombros

de tudo o que foi alegria 


(no insta a 10-07-2023 c música arabesque de debussy por tomás wallenstein) 


quinta-feira, julho 10, 2025

 Onde puderes, planta árvores
Mesmo que na volta do caminho 
Encontres um pardalito morto
E fiques instantaneamente frio
Enregelado pelo assombro
Dos fantasmas regressados

A honra importa 
Mas mais ainda a educação 
A bonomia do ser
Que veio para a imperfeição 
E melhorou-se para viver
Não numa falácia feliz
Mas com audácia desde petiz

Porque amar é plantar 
Mais ainda do que semear
Mais ainda do que colher
Eu e tu somos tanto
Homem ou Mulher 
Tanto faz
Somos do Clube do Espanto


(dps de ter ido visitar a Sandra, o Faria, o Nuno e a Elisa ao novo metro)