quarta-feira, setembro 17, 2025

 Estás exausto? "Descansa", dizem.

Não consegues descansar? Um dia, o corpo há-de parar. E a mente? Essa há-de fritar até esturricar, ou liquefazer-se. Explosão, combustão, falta de combustível, curto-circuito, acumulação, congelamento, depressão, esgotamento, inacção. 

"Tu mereces tudo do melhor, quem te ame e todo sucesso do mundo, desejo que sejas muito feliz", mas - atenção - não contes comigo para nada, especialmente quando precisares. 

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Eu tive um professor que me dizia, certo dia, que as pessoas, a sociedade, o mundo, são uma fossa séptica a céu aberto. Apesar de ele me achar uma pessoa extremamente lúcida, eu devia ter-lhe dito que eu não guardo ressentimentos das pessoas, apesar de acumular traumas perpetrados em mim por elas e que continuo sempre a amar até os meus piores inimigos. Muitos acham que eu sou totó assim, mas entretanto gosto mais de mim. 

domingo, setembro 14, 2025

Hermetismo

Olho tanto para o céu 
Lá reside a esperança 
E porque falo com as aves
Tenho medo do breu

Não sei os acordes
As partituras, as oitavas
Mas sei o som que fazes
Quando me mordes
Tiras-me um pedaço 
Do meu coração 

Sei como ele batia por ti
O seu som desenfreado 
Hoje voltei a não dormir 
Recordando o amor danado

Pedra que no rio medra
E toca o som do entrave
Que impede o fluir 
O soltar da mágoa 
Só te quis ver sorrir
Quando te dei água 

Se houver alguém 
Algum dia
Que me ame como te amo
Sabendo quem eu sou
O destroço que ficou
Que me leia eu poesia
Na música que tocou
Deus sabe o que eu daria

(rip Hermeto Pascoal)


 Sou o nevoeiro que restou
Depois da tua neblina 
Que em mim se acumulou
Quando a tua voz emudeceu
Na névoa do meu céu 

Essa dor que se espalhou 
Como um tesouro numa mina
Que alguém arrombou
E explodiu dolente 
Não é objecto nem gente

sexta-feira, setembro 12, 2025

Setembro

 44 anos de inverno 
mas não deixes que as lições 
sejam apenas de canções 
arrependimentos e ilusões 
e esmiuça o teu interno
antes de embarcares em acções 
de que te podes arrepender 
para o resto da tua vida

neste período de outono 
de folhas amarelecidas 
caídas no chão que pisas
desejo que o ar te dê o sono
que é o que tu tanto precisas 

setembro é o teu nome 
viagem é o teu sonho
de searas florescidas 
ou mergulhar na água 
que ainda está aquecida
lavar essa mágoa 
de quem tem fome
e só viu a despedida 

Desconheço

 Há tanta coisa
Que tu e eu
Não sabemos 
E temos por certo
O que lemos 
Como Tomé
O que vemos
Da letra o pé
Nem apuramos 

Pois aprumemos
Para nos afinarmos
E questionarmos
Tudo o que sabemos 

Senão qualquer dia
Vamos já é tarde
De nos arrependermos
De tudo desconhecermos
Nas suas origens 

Histórias são complexas
O Mundo anda às avessas
As pessoas lêem às pressas 
Todos em vertigens 
E eu já não os conheço 


 Disseste para eu nunca parar de escrever 
Brigaste um bocado a brincar por mim
Disseste que eu era bonita de se ver
Que tinha um corpo afim
E que gostavas do meu cabelo cinzento 
Que era bonito assim
E não acreditavas na minha idade
Perguntaste se de outro tinha saudade
Eu gostei logo de ti mal te vi
Meio alheado bebido trocado
Lá em cima e cá em baixo 
Com as rimas improvisadas para mim
Chegando mesmo na minha cara
Emocionaste-me 
Com o teu sonho igual ao meu
Ambos bastante perdidos
Eu mais no breu
Mas tu eras solarengo
Puro bronze e mulherengo 
Mas feminista, atenção 
Dizias tu que eras bom irmão 
E que também me protegerias
Eu acreditei nessa doce ilusão 
Até vocês me dizerem porcaria
E terem-me deixado na mão 

Sem ti

 Sem ti
Noite virou dia
Dia escuridão 
Não há mais alegria 
Pesa o coração 

Sem ti
Cometas passaram
Mas eu não vi
Estrelas brilharam 
Nem me apercebi 

Sem ti
Nunca mais ri
Nunca mais te li
Nunca mais te ouvi 
Nunca mais te vi

quinta-feira, setembro 11, 2025

Fazer Poesia

 Um dia 
Uma senhora 
Disse que dei alegria 
Outra sentiu-se
Vingada
Outra teve paz
Um senhor 
Disse
Que a sua alma sorriu
Outros tantos choraram
Isto tudo 
Só com a minha poesia

quarta-feira, setembro 10, 2025

O espaço entre as coisas

 O espaço entre as coisas 
É como um corredor 
Que há do silêncio ao som
Da escuridão à luz
De um falhanço ao outro 
Do tédio ao que seduz
De um sucesso ao outro
É uma espécie de amor
Um flutuar suspenso
Movimento até ao dom
É como o toque que saltou
Entre duas batidas 
Agulha que no disco derrapou
Ausência que deslizou
Entre a chegada e a despedida 

terça-feira, setembro 09, 2025

Coisas de que desisto a partir de hoje

 A vida toda eu quis ter um amigo que fosse como um irmão mais velho para mim, que me protegesse e acarinhasse de uma forma saudável. Infelizmente, depois de décadas, tenho de me render à evidência de que nenhum rapaz consegue ser amigo assim de uma rapariga sem ficar com outras ideias e complicar tudo. Admitir que já não tenho essa necessidade que acabou por me pôr em alhadas, hoje é muito bom e liberta-me de todas essas complicações. 

Também desisto finalmente de me preocupar com a saúde dos outros, especialmente feliz por isso já que nem os próprios foram alguma vez capaz de o fazer cabalmente. Inclusive desisto inteiramente de tentar entender pessoas bêbedas.

Tendo desistido de relações amorosas há mais de 12 anos, hoje eu decido conscientemente desistir também de toda a ideia do amor de que sempre fui tão apologista. 

Chegou finalmente o dia de encarar a realidade e deixar de ser a poeta romântica iludida. 

O amor não existe, afinal. Nenhum, em forma alguma. Porque não é possível enquanto substantivo independente.

 Parece mesmo que o ser humano só foi feito para contar nascimentos e mortes, e viver tudo do entremeio zombificado. 

domingo, setembro 07, 2025

Nunca houve um amor como o nosso

 Aos domingos bolero 
E a nossa última noite 
Nunca existiu mi amor
Porque Sol e Lua
Estão condenados
À eternidade 
Juntos e separados 
Vindo em auxílio 
Da nossa alma penada
E do nosso coração partido 

Acercate um poquito más
Vuelvo al Sur

Esclarecimentos de um coração partido

Desisti de escrever isto, porque era muita coisa para revisitar e esmiuçar. Mas começou por ter pensado que se eu tive vontade de morrer quando aos 17 anos fui traída pelo primeiro grande amor, ele deve ter sido quem eu mais amei. Só que depois pus-me a avaliar que a capacidade, intensidade ou a forma de sentirmos amor vai variando com a idade e com os acontecimentos. Daí que também isso faz com que seja mais difícil quantificar seja o que for. Até porque a maneira como fiquei tão agarrada/dependente há poucos anos a alguém também me fez pensar que tinha sido a pessoa que eu tinha sentido um sentimento tão forte que seria, independentemente do carácter esfomeado e hiperactivo dadas as circunstâncias agravadas do tempo pandémico, um amor maior do que tudo. 

Bem, a verdade é que tudo serviu para eu me melhorar e aprender o que não é saudável e o que é, o que é amor possível e não é. 

Eu sempre fui destinada a estar sozinha e ser abandonada. (tal como disse a Margot Robbie num trailer de um filme que já quero ver)

Eclipse

 E dezenas de luas cheias e eclipses não te eclipsam do meu coração e agora que tudo piora à minha volta e um dos meus piores traumas é mais uma vez activado e volta a vontade de morrer, é só em ti que eu penso. O meu maior arrependimento. A seguir a ter continuado viva desde criança violentada. Quando te disse que nada em mim é bom, parece que exagerei mesmo como disseste, posso estar de facto podre por dentro mas foi sim verdadeiro e bom naquele pedaço todo por ti e pelo resto o meu sentimento. Dos melhores (e piores para mim ao nível de desgaste físico) que já tive. Nunca nada apagará isso, pois é facto ocorrido. Só esse amor é real. 

Das coisas mais difíceis

 Das coisas mais difíceis para mim é ter de me afastar de propósito de quem gosto só por causa do bem deles e os poupar a terem de sofrer. Desta vez, éramos três amigos, pensei eu, mas pelos vistos não. Pior que eu queria muito que continuassem a ser meus amigos. Parece que é uma sina idiota. Porque é que eu não posso ter um amigo que não passe a querer ser mais do que isso? De preferência que só um que goste de mim e eu dele e não os dois?

Tudo isto suscitou a que examinasse casos no passado e de facto já tinha acontecido pelo menos umas três vezes antes na minha vida: dois amigos/primos/tipo irmãos passarem em pouco tempo a gostarem de mim mais do que era suposto. Sempre complicado. Fico sempre surpresa e chateada, depois confusa e triste, por também ter de os deixar. Inclusive porque eu fico sozinha sem nenhum dos amigos. Ainda se espantam porque é que eu estou completamente celibatária há mais de doze anos. Pudera! Quando me aparece alguém é só gente complicada, incrivelmente pior do que eu no que era necessário para se ter uma relação, embora eu não tenha também grandes condições para nada. 

Mas confesso que não estava à espera, de novo. Especialmente de ser instigada tanto quanto fui ao ponto de me avaliarem como mulher a porem-se a comparar coisas. Ainda por cima tendo acabado de fazer anos e de já há décadas ter noção de que estou muito doente e que o meu corpo é como é. 

Outra mulher ficaria extremamente ofendida por ser avaliada como um objecto. Eu fiquei mexida com isso, mas como sempre entendi o que estavam a querer dizer que era para eles mesmos. Porque nunca é tanto sobre nós mas mais sobre eles, pelo menos da maior parte das vezes. 

Cada um de nós dá a desculpa que dá, cada um de nós tem a noção do que podemos fazer ou não, cada um de nós defende-se como dá. Pusemos hipóteses, sim, isso é que foi o pior. X. "desbloqueou" Y. como este disse, mas a mim também um bocadinho no sentido de voltar a formular hipóteses. 

Somos artistas, fascinamo-nos de repente, deve ser isso e não deve passar disso. Talvez no fundo eu e Y. estejamos ainda demasiado traumatizados para sequer pensar em hipóteses e X. com a sua jovialidade e omnipotência de quem tudo pode, não podendo, fugiu também à questão. Ou não. O amor, ou os seus simulacros, hoje em dia é tão moderno e fugaz. Mas também ele era ciumento, pelos vistos e com outra, ainda por cima. O nosso fofo amorzinho fugaz de amigos honestos palhaços, com eles sempre ébrios, foi um bocadinho marcado, sim. Eu vi todas as fases e nuances só nesses poucos breves encontros ao acaso. 

Eu não me permiti derramar um par de lágrimas pela tristeza que já estava misturada e acumulada com as restantes destes últimos dias. Por isso, não permiti que puxasse essa linha dos acontecimentos,  mesmo com pesar. Talvez no meu âmago eu saiba e esteja a fazer o melhor, mas conscientemente eu não sei de nada e não consigo decidir nem saber. Talvez seja uma cobardia profunda, embrenhada tão fundo que me congela e sabota com essa espécie de apego evitativo.

Ou talvez não seja nada disso e, simplesmente, como disse X. não encontrei ninguém que estivesse à altura mesmo. É o mais provável, sim, infelizmente. 

Adeus, amados.

 (raio de eclipse, hein? mas, pronto, tá feito 😟💔always)

quinta-feira, setembro 04, 2025

Diamantes e Ferrugem como Baez e Dylan

Do amor que te tenho 
Guardado no peito
Como chama sufocada
Feita em carvão 
Depois do fumo todo
Causado por confusão 
Vêm vagas memórias 
Que ora são raros diamantes 
Ora são ferrugem da história 

 O que ficou prometido sem nos falarmos sequer...', mas falámos e demasiado sobre lol

Eu esperei 

Horas

Dias

Anos

Todos me deixaram pendurada

Mas eu não fiquei enforcada

Mais valia


(deram-me bolo d novo, os dois n vieram pra jantarmos hj pra celebrar o meu aniversário e o término da obra, nem sei s beberam e esqueceram ou o q aconteceu, mas passei dois dias depois e vi q já parecia terminado. chances perdidas devem ser lições aprendidas)

quarta-feira, setembro 03, 2025

Ainda neste pós-aniversário

 Talvez seja verdade que nada vale a pena e eu quis à força do afecto fazer conta que sim, que o Amor era a força maior que movia montanhas, vi demasiados filmes românticos e fiquei iludida. 

Não há amor possível. As pessoas só pensam em luxúria e prazeres imediatos e fugazes. 

A vida é uma constante desilusão. Podemos acreditar, tentar, criar, mas o facto é que a realidade pura e dura é feito de estereótipos e preconceitos. 

Eu só me dei à hipótese das coisas porque quis ser como toda a gente e ter uma vida dita normal. Nunca consegui, não sei ser falsa, não sei viver com os erros que cometi, sou hiperconsciente e desisti de tudo porque não há nada para mim. 

Nunca houve. 

 O amor existe 
e esconde-se no éter
dá náuseas e delírios
febres e desatinos
cheiros a paraíso 
colheita de Deméter
O amor existe embriagado
gargalha para todo o lado
finge que é meu namorado 
e acaba a noite intoxicado
diz que eu o envenenei
com uma folha de figueira 
e empurra-me para outro
assim de qualquer maneira 
O amor nunca foi maduro
porque ele existe como fruto
que cai pronto no chão 
finge não ser astuto
torna-se ácido como um limão 
 O amor existe 
Por si só
E não é construção 
Isso é convivència
Mas amas até quem não viste
Amas mais quem morreu
Os teus avós
Mesmo quem não te conheceu
Até o mais atroz
Amas Perseu e o albatroz 
Que levou os gnomos
Naquela cena mágica 
Amas o amor 
O que nasceu de uma dor 
Que foi espinho na flor

terça-feira, setembro 02, 2025

44 anos para aprender

Custou menos desta vez
Aprendi a lembrar dos bons
E a desfocar dos péssimos 
Que nunca me dão parabéns 
Por nada do que sou
Nem fizeram questão de mim
Da minha presença 
E no entanto eram quem amei
Mais do que a todos 
Até deixarem nada de alegre
No meu coração 

Hoje sei que não me amaram
E que nunca se preocuparam
E ainda fizeram troça de mim

Cresci e aprendi

domingo, agosto 31, 2025

Estória de um amor estragado

 Uma nuvem quis vir ao meu encontro 
Surpreendeu-me com os seus pedidos 
Minutos depois encostou-se a meu ombro
Cheirando os perfumes ternos mas aflitos 

Rapidamente quis fugir dela
Antes que começasse a chover 
Entrei numa tempestade 
De novo achei que podia morrer

E mais tarde após sofrer o meu corpo
E ter pensado como a vida é fugaz
Quis deixar o passado morto
E estar com a nuvem de forma capaz

Para nos despedirmos nuns segundos
Nem pensei mais no que me fez mal
Nem na chuva que viria mais tarde
Só por um ósculo pedido perdi o tal

Talvez no fundo o coração tenha dito
Que devia fazer de tudo para eliminar 
Um amor proibido e anormal 
Que durante anos tudo em mim arde

Mesmo assim só veio me piorar
Tudo aquilo que pensava resolvido 
Foi de novo um arpão no mar
O meu grande amor proibido 


(como o Fred 'freestyle rapper' gosta de rimas lol)

sábado, agosto 30, 2025

 Fui tão honesto 
Que todos sabem 
O quanto presto

Fui um livro aberto
E tanto que amei
Hoje já pouco resto
Nada sou e menos sei

Entre os meus falecidos
Os mais recentes 3 tios
Pergunto o que ficou
Se tudo o vento levou

Como a vida é triste 
Meus deus
O amor já não existe 
Tu levaste o meu

quinta-feira, agosto 28, 2025

Traumatizados

 Traumatizados do cabelo aos cotovelos 
Com uns grilhões nos tornozelos 
Arrastamo-nos pela Terra quando é preciso 
Uns chamam--nos de almas penadas
Dizem que somos maus e que de amor
Não entendemos nada
Mas só nós é que levámos com as dores
De sermos ignorados e mal-amados
Por essas ditas pessoas de bem 
Muito bem-sucedidas e no seu egocentrismo 
Nem vêem que se nós não tivéssemos existido
Eram elas que tinham ido para o abismo