"Isto a partir de agora não é vida, é outra coisa", disse o pai do filho falecido ao Bruno Nogueira.
Eu pensei que é isso mesmo. Sempre foi. Desde antes dos 13. Nunca pôde ser vida. É só dor e sofrimento tão grande que já só somos casca e estômago socado.
Tu não sabes o que darem-te porrada nu enquanto estás tomar banho com o teu corpo esquelético de 9 anos, ou queimarem-te a pele antes de teres de ir já atrasado para a escola, ou levares pontapés quando já estavas no chão da despensa só porque não querias usar sapatos que apertavam para a igreja em vez de ténis, ou abandonarem-te com 3 anos sozinha em casa perto da porta com o terror do aviso de que ladrőes podem vir e nunca devemos abri-la, ou magoarem-te e insultarem-te ao pentearem o teu cabelo, ou chamarem-te nomes feios e usarem verbo de asneira que tu nem compreendeste logo porque só tinhas 10 anos e apanhavas quase todos os dias porrada por tudo e por nada e quando chegavas atrasada ou já magoada, ou porque foste escravizada e nunca amada, apoiada ou protegida por ninguém que devia tê-lo feito, e só foste usada, desrespeitada e preterida entre os outros todos só porque eram mais claros e gordinhos do que tu. Porque ela gritou "morre desgraçada" e eu até hoje não morri, mas só parece que não, porque a verdade é que eu nunca vivi, só forcei um bocadinho muito de vez em quando a conseguir fingir que sim.
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