domingo, julho 30, 2023

Flor funesta da imaginação

 Imaginei que éramos um do outro como pedaços do mesmo ser que se complementava. Tomei-te como amante das artes, do amor, do sentimento e de uma certa nostalgia. Tive a ideia de que eu estava em ti como tu em mim, em quase tudo o que fazíamos, como se fôssemos irmãos quase siameses. 

Imaginei que me amavas como eu te amava, sem saber como mas com a certeza de um amor intemporal. Que nos abraçávamos aninhados quando o mundo insistia em terminar, de vez em quando, e que éramos sempre e para sempre indissolúveis, pois éramos feitos da mesma água e respirávamos do mesmo ar. 

Imaginei que éramos uma merda de pessoa também, muitas vezes, mas que não fazia mal, porque éramos nós. Que pensávamos que não nos merecíamos um ao outro também de certas vezes. Imaginei que nos amávamos tanto que era quase violenta a dor e também daí o temor, mais o de sermos rejeitados, porque havia alguém melhor. 

Mas a verdade é que sempre soube que não há ninguém melhor. Daí também ter eu sentido desde o início tanta invasão, medo e confusão. Nunca houve ninguém a saber e ser tanto de mim e isso foi aterrador. 

Se não tivesses dito que era tudo ilusão da minha cabeça, eu continuaria a achar que tu me amas te imenso também. Ainda bem que me disseste que quem eu amo não existe, pois assim posso morrer um bocado em paz nisso. Já que eu estava pronta para ficar perto de ti, mas tu não existes, só me resta a mim também desistir de viver sem ti.

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