Aos poucos, esqueci tudo. Dizem que acontece esquecermos desde cedo das coisas más, porque o cérebro empurra-as lá para o fundo, reprime as memórias para evitar o sofrimento por ser demasiado para se suportar. Também ouvi dizer que se esquece tudo dos trinta anos aos sessenta. Tenho esperança. Assim, esqueceria tudo de mau e se ainda estiver viva com essa idade e com condições melhores para finalmente poder realizar coisas que quero, poderei ser um bocado feliz para compensar. Talvez ser feliz no final da vida faça com que tudo se esqueça de mau de anterior e possamos ter a sensação ilusória de que podemos morrer com a paz de termos sido felizes e realizados. (tu foste feliz e realizado, a maior parte da tua vida e eu fico feliz por ti)
Os meus traumas solidificaram-se tanto e tantos, que nestes últimos anos tentar desengatilhá-los foi uma espécie de profissão forçada, horrível e desgastante. O pior é que muitas vezes ainda só me apercebo deles quando ressurgem e explodem-me cá dentro como mina que foi pisada por alguém agressor.
Espero que um dia possas entender-me e perdoar-me, por ter forçado tanto a implosão total. Espero que tenhas compaixão por mim. Durante algum tempo, o que mais quis na vida e de ti, foi que me dissesses tudo o que sentias por mim de bom, como é que me amavas, se realmente era esse o caso. Bastava isso para me tirar as dúvidas todas que vieram pôr na minha cabeça e me pôr a sofrer tanto, inclusive com desesperada ansiedade por saber o que se passava de verdade. Eu de mim, soube já tarde. Sei que estou há demasiado tempo a tentar digerir tudo e a ver se te esqueci, que não adianta bater na ceguinha e na mesma tecla, mas acho que só agora depois de ainda mais toneladas de sofrimento de mortes das pessoas, que o meu organismo amainou. A apatia de novo se instalou.
Esta liberdade idiota é concedida num nevoeiro de dor. Mas sempre e ainda, dava tudo para ter o meu real amor.
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