domingo, março 31, 2024

Amar alguém

 Acho que nunca mais vou amar alguém activamente. Sei que já antes, há décadas atrás, disse que nunca mais ia amar alguém de novo, mas desta vez com esta idade é diferente. Não sinto que seja capaz. Depois dos traumas, quando se fica assim neste estado esmagado e apático, de estar meio zombie, sei que poder-se-á dar o caso de com o tempo o esquecimento fazer de novo deixar-me ir, de guarda baixa, não esperando por nada, e pimba, acontece de novo sem se dar conta e depois é tarde demais. Mas neste caso, há alguém que me magoou de tal forma que me destruiu na capacidade de amar e me fez reconfirmar que eu só amei pessoas ditadoras que me tratam mal, porque toda eu fui formatada por uma assim e há grande hipótese de o meu sistema só amar pessoas interesseiras que não ligam para nada nem ninguém, senão quem lhes faz o que querem. 

Descobri apenas mais uma vez que o amor não presta para mim. Senão o das verdadeiras e generosas amizades e simples para mim. Se calhar, toda a gente só opera assim mesmo, no fundo, exceptuando os sádicos que tive o infortúnio de apanhar. 

Passado tanto tempo, continuo a dizer que não sei nada sobre nada. Tudo é mutável e relativo a todo o instante para toda a gente. Eu sou só uma poeirinha cósmica no meio dessa tempestade. 

Creio que dele só quis que ele procedesse demonstrando que me amava de facto e como nunca o fez, não pude apreciá-lo nesse sentido, senão da forma que eu o amei e dei valor ao que eu pensei que ele era como artista e pessoa de verdade. Uma ilusão é sempre o que alimenta o amor, é o que se sabe, não é? Pior que eu amei-o em todas as vertentes que ele demonstrou, inclusive e apesar de quando ele quis a minha morte.

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