Cantas
e dás sentido ao silêncio com o teu respirar,
a pequena pausa antes do teu forte dedilhar,
depois trêmulo um tremolo
e sou eu
quem acaba a tremer e a chorar.
Poesia filosófica; Poesia Visual; e outros objectos poéticos de Poeta mera observadora
Os meus nuncas e os meus para sempres
nunca são mesmo para sempre
Só o nosso Sempre é permanente
Pois basta um segundo
E acedemos a corda
Que oscila intemporal
Pelo céu astral
E se nos permitimos
Demorar no pensamento
Se tocamos aquele nosso sentir
Os céus viram rosas e azuis
Na serena e harmoniosa paz
Do entardecer dentro de nós
Naquele nosso abraço vital
Colocaram-me num pedestal
Que na verdade era uma gaiola
E eu que nunca fui normal
Não segui por essa bitola
Porque já sabia que a queda
É maior para quem voa em terra
Mas agora que te elevei eu
Num pedestal maior do que tudo
Para sobreviveres a toda a guerra
E voares livre com a maior envergadura
Sei que lá no alto és inatingível
Como uma nuvem que não tem altura
E não mais quererá pousar no chão
Acho que este tempo todo só quis ouvir-te dizer que me amas imenso e que também me tens sempre no coração e no pensamento. Era só isso mesmo, já que tudo o resto para ti foi só um delírio meu. Tu és quem eu nunca esperei que existisse assim, se realmente me pudesses também amar como eu te amo, com tudo o que somos de atrofiados.
Justificamos seja o que for
Para manter o modo de vida
Mas às vezes é tanto o fedor
Que a gosma não fica escondida
Tresanda toda a riqueza
É sempre às custas de alguém
Até essa suposta liberdade
Paz podre e falsa beleza
É só o egoísmo a ir mais além
Quantas mortes causaste tu?
(07/04/2023)
A tua face sustenta a primavera
E o teu beijo faz-me desmaiar
Não sei se o mundo aguenta
Eu e tu a amarmo-nos ao luar
O teu corpo é a minha âncora
Sempre que quero naufragar
Queria eu ter corpo de ânfora
Só para a vista te embriagar
Sei que ainda não chegou o tempo
De que falámos tanto sem falar
Da tal delicadeza a aguardar
Mas todo esse sentimento
Todo esse meu bem querer
Não sei se para ti há-de valer
(26/03/2023)
Mulher que gera mundos
Mulher que o homem mata
Mulher do que há de mais profundo
Mulher que sangra e é bálsama
Mulher que canta e exalta
Mulher que queima e esfumaça
Mulher que é renascer rotundo
Mulher que é solidez na falta
Mulher que é intelecto fecundo
Mulher sem fronteiras e alta
Mulher do Sol do cosmos oriundo
Mulher da Lua e do Mar
Mulher que lacrimeja ao respirar
Bonito como o céu e o mar
Tanto tempestuosos como quando calmos
Bonito como os edifícios brutalistas
Tanto espadaúdos quanto activos
Bonito quanto as danças de rituais
Bonito como as dunas e as suas arestas
Tanto arredondadas quanto agrestes
Bonito como o fogo ondulante e o ar
Tanto nas chamas vulcânicas quanto tornados
Bonito como só ele é e mais ninguém
Cada vez que abraço um dos monstros,
ele me golpeia, esfaqueia-me,
deixa-me esventrada no chão frio,
a esvair-me
Amei-os e todos eles me mataram,
porque mentem
pois não aguentaram
olhar para um espelho
que os encadeava
É preferível ser visto como louco
do que ser visto como sábio;
aos loucos ninguém pede nada,
muito menos conselhos.
(13/01/2023)
Lembro como era
já passou tanto tempo
em que vivia à espera
de sentir o sentimento
de que existia vida
e não só o marasmo
da lida do dia-a-dia
como se fosse um asno
caregando apenas fardo
meio zombificado
mas hoje com a retrovisão
sei que não se deve aguardar
por alguém para se sentir
que se tem vibração
e nas veias o pulsar
e nos lábios o sorrir
(19/11/2022)
Os sonhos são feitos de ar
Quente ou frio
Provocando climas inesperados
Mas se só são ruína e distração
Para ti que tens os pés no chão
Não conseguirás chegar a mim
Que flutuo feito nuvem rarefeita
É das piadas mais agrestes mundiais saber que os países mais tristes geraram os mais alegres.