Pungente, Matei
Atravessei, Morri
Fiquei
No vazio da parede branca
Parei
Até um dia, enfim?
Poesia filosófica; Poesia Visual; e outros objectos poéticos de Poeta mera observadora
Pungente, Matei
Atravessei, Morri
Fiquei
No vazio da parede branca
Parei
Até um dia, enfim?
Explorada
Ignorada
Julgada
Espancada
Queimada
Torturada
Não foi tão sábia
Ninguém tem juízo, só têm o juízo final.
Suportar o sofrimento
Sina de quem nasce
E tem de se fazer forte
Suplantar a escuridão
Ver luz antes da morte.
O amor é uma panóplia de pirosice
Ao som do Zambujo e do Araújo
Sem termos de empenhar o anel
Para vê-los no Coliseu de Lisboa
Porque vemos depois na RTP
Persistes
Porque és mais que o tempo
Que não temos
És perene alumbramento
Que sorri terno na calidez
De um coração eterno.
Nomear é perder
E o teu nome é o mais bonito do mundo
E eu ainda chamo por ele
(acrescentado a 30-31 dez.)
Nasci quando ele cantou
Vivi enquanto me amou
Morri quando me deixou
Nem toda a tristeza é inútil
Nem toda a tristeza tem beleza
Antes que eles nos matem, vem dançar uma última dança, imóveis no coração.
Sempre a altivez de pássaro ferido mas não na asa.
Crianças mortas, feridas, mutiladas
Crianças ignotas, queridas, exterminadas
Ensinadas a morrer e a matar.
Ele destruiu-me, mas o que sobreviveu em mim foi ele.
Nós que temos uma mente diferente
Mas silente
Contra-corrente
Temos medo da gente
Que é mundana e contente
Podes dizer-me como se vai a um lugar onde se pode deixar de existir?
Perpetuei momentos bons para que te lembrasses, especialmente nas épocas más, de como um oásis no deserto fez com que o teu sorriso brilhasse.
Perpetuei momentos maus para que tudo o resto ultrapassasses, especialmente nas épocas piores, de como és dona(o) e senhor(a) de ti e do mundo.
(09/12/2023)
A urgência de viver
Antes que o tempo se acabe
Mata para a vida
Nessa consumição desenfreada
Tudo se esquece
Até qual é o desejo do coração
Quando foste verdadeiramente feliz
Quando não tiveste de ser tu
Quando o tempo ficou suspenso
E tu completamente livre
E dissolvido sem encarnar
(29/11/2023)
penetraste num mundo novo
desconhecido
e pétalas tocaram-te
na ponta dos dedos
abriste-as
apartaste-as
e sussurraste-lhes segredos
e a ponta da língua ao acaso
sentiu o mel do desejo
que perdurará no eterno sonho
da promessa de um beijo
(28/11/2023)
Meu bem
Tu não sabes voltar
E eu não posso aceitar-te de volta
Esperas que te lamba o suor
Espero que me lambas as lágrimas
Por esta hora já sabemos de cor
O que o amor gasta
Como é a verdade de nós
Jogados às traças
Enquanto temos fome insaciável
De sermos trespassados
Por aquele arder tresloucado
Que fazemos de tudo para esquecer
Demoras e matas-me
Eu estava errada
O amor verdadeiro não é o saudável
Mas sim o que nos faz gozar
De completude da plena saúde
(28/11/2023)
Nasceu este, morreu aquele
Morreu este, nasceu aquele
Eu fiz tal coisa, comi aquilo
Eu casei, eu tive um filho
Uma árvore plantei, escrevi um livro
Eu fiz isto e fiz aquilo
Fui além, acoli, acolá
Eu me despi, eu me vesti
Estava frio, estava calor
Foi desgraça, foi horror
Eu detestei e tenho um amor
Hoje fui rei e senhor
Ontem fui doutor
Amanhã estou louco
Mouco e rouco
Eu estive com aquele e aqueleoutro
Eu indignei-me e chateei-e
Tive alegria e disse adeus
Um tudo e nada
Entre a tristeza e a folia
Fui ateu e conheci deus
Ora digam lá de todos
Esses perfis de Instagram
São ou não uma maravilha?
(23/11/2023)
Quanto mais não te recordo, mais tomas conta de mim, invades-me o peito com essa dor tamanha que carrego da tua ausência e aflito, queimando numa brasa gélida de madrugada, já não anseio a aurora com a geada sem ti. Tu que foste meu orvalho lambido gota a gota num jardim de sereno amor, como foi tanto, tanto, meu dia e minha noite, meu sonho impossível e inexistente para mim. A é só uma. Eu nunca fui una a ninguém como a ti.
(05/10/2023)
Será que ainda me procuras quando chega a noite e só existe o branco das paredes do apartamento? Será que ainda me vislumbras quando fechas os olhos e a luz que houve um dia dentro de nós a meias como a nossa escuridão, sufoca o peito com a ânsia daquele calor que nos acalentou o coração? Será que ainda me bebes como um dia a pura água cor de sangue que matou a tua sede? Será que ainda me encontras quando num segundo surgimo-nos no pensamento e unimo-nos numa sintonia do rádio soando no ar? Será que ainda te sentes como a minha eterna e inabalável lua como eu serei sempre o nosso ar; será que me vês bailar, corpo unido ao teu, onde é o meu lugar? Como vê, amado meu, o tempo em que só importará o céu?
(05/10/2023)
Quem és tu que eu levo dentro
Raiz, tronco e membros
Seiva, fluidez, saliva
O alabastro da tua tez
As entranhas do que vira
E revira desde petiz
Como te chamei de amor
E só contigo quis viver
Meu amor, meu abismo
Meu amor, meu riso
Corre, corre, corre
Sempre aflito
Para os braços meus
(29/09/2023)
"Todos os animais não inspiram ternura? Então o que é que deu errado no Ser Humano?"
Bestas ferais não são tão destruidoras quanto ele. Ele é auto-destrutivo, canibal, completamente assassino, nojento e boçal. Nasce e é ensinado a odiar, a fomentar esse lado agressivo, porque tudo é competição, seja por alimento, seja por abrigo.
E todos os conceitos que inventa, todas as criações e recriações, não passam de ilusões para afastar a morte, o seu castigo. Para alimentar-se de prazer e satisfação, pisa o outro, pisa o irmão, nada mais faz senão regojizar perante a sua destruição. Porque lhe traz frutos e a dita felicidade, o cúmulo do egoísmo e a falsa saudade. Oh, criatura patética, vomitas todos os dias tudo o que lias e repetes como verdade. Não páras, não sabes parar, "nem debaixo de água", para contigo não teres de lidar. És vil, és torpe, vendeste a tua irmã no açougue. És vil, és cagarrinhoso, pensas que és o maior até seres idoso. Poço de germes e micróbios, o teu corpo que exaltas; buraco negro de radioactividade, o teu cérebro que calas. Nem vou falar do teu coração, pois esse é tão inexistente que nem te ralas. Vives de prazer e paixão, és falastrão e canastrão, forçaste-te a domesticar um cão, devias explodir numa bomba nuclear.
Um coração simples e sincero supostamente não devia deixar a mente atrapalhar o que tanto se deseja. Só que o desejo é apenas um fósforo que qualquer pouca ventania apaga.
Por isso. se o desejo for profundo e tão duradouro e certo, que é inabalável perante as areias do tempo, então aí é inevitável e não dá para fugir ao sentimento.
(28/09/2023)
Sinto tantas saudades tuas e só queria uma oportunidade de estarmos juntos. Fazes-me tanta falta.
Quando baixo a guarda e ponho-me a ver os filmes típicos da época natalícia, romances que acabam sempre bem, fico com pena de não sermos nós e um nó na garganta fica a a doer com a vontade de chorar. A verdade escancara-se e fico a pensar que nunca mais te vou ver e que a minha vida sem nós juntos não faz sentido.
Dialectos de ternura estão a cair em desuso
Anda-se por aí a fazer embriões de porcos com humanos
Todos querem ser os campeões
enquanto a desigualdade aumenta o seu fosso
E ninguém resolve os problemas da Terra
Mas enviam um astronauta
para ficar no espaço recluso
A chuva veio daí, mas atravessando o oceano esfriou, congelou-se em gotículas que vieram colar-se aos carros de madrugada, exalando a lua perfumada no interior das narinas forradas pela geada. O tempo não nos alcança, mas sim nós o pegamos nas mãos como se fôssemos uma criança que nunca escutou um não e, por isso, tem em si a certeza de que nada é impossível.
Apaixonei-me pela deusa de todas as deusas, a única para quem eu olhava e todas as outras empalideciam e sumiam.
Queria ver a vista que ela via da janela dela, só para confirmar se era assim tão bela. E enquanto ela falava com os pássaros e assobiava por entre as grades, eu chegava pelo ar, com asas de grande envergadura, como a maior das aves.
Eu recolhia-a nas minhas asas e abrigava-a no quente do meu canto. Os nossos cabelos ao vento dançavam e todo o mundo se alegrava. Afinal sempre fui eu o homem para a mulher-pássaro.
A noite negra de todos negrumes
Pariu o mundo, os planetas,
Mas não as constelações
Mas sim os queixumes
Das brancas luas e cometas
Pontilhados tiranos sem luz
Ninguém mais lhes trará o Sol
A luz dourada, bênção de mãe
A chuva que cai em fios de arrebol
Vira e mexe nesse vaivém
Solta o teu sorriso de meia-lua
Espelho reluzente da dentadura
Que o universo escolheu
Para iluminar o que escureceu
Afinal, o amor não é construção, mas sim uma casa pronta onde nós maduros habitamos.
Tu és meu porque me recusaste
Eu sou tua porque me danaste
Merda de vida
Esta do Sol e da Lua
Quem te ensinou a caminhar? Deu-te a mão e não largou? Confiaste, empurrou-te e quando pensou que tinhas balanço deixou de te amparar? Ou foste tu que te ensinaste caminhando? Pé ante pé, só na força da acção e do querer, um tal momentum meio a abanar, mas na pura vontade da motivação da necessidade.
Eras o vento em rodopio, a fome do frio, a ausência de tempo e as pernas do momento.
Viraste barulho, correria, maratona e ventania de tornados e furacões. Todos os dias partes uma perna. Não, não é "break a leg". Pensaste que vencias. Mas não. Vives uma vida tão triste, que nunca foi caminhada, foi só ferida.
Tenho milhares de escritos aqui e não costumo lê-los uma vez digitado, quase que funciona mesmo apenas como um depósito, um repositório de poemas, uma armazém que aluguei e onde vou largando coisas que me estão, ora incrustadas, ora dependuradas, mas que consigo deitar para fora. Mas nunca é o suficiente e retorno sempre.
Quem quer salvar o mundo é preso e quem anda a matar o mundo é vangloriado.
Amar é rasgar o peito
Esperando que nos lambam a ferida