Thursday, December 26, 2013

Afundada no cúmulo das ironias: alguém que se chama Sónia e que vive permanentemente com insónias...

Wednesday, December 11, 2013

O paraíso

Dizem que o paraíso está repleto de hibiscos e romãs
e por todos os lados carmim de hedonismo e verdes de esperanças.

Mas eu vejo-o com fortes tons de azul e também claros
como se de tão pálidos cinzentos e
branco por todo o lado
e laranja num bronze de sol e sal.

É o teu corpo e nos teus olhos que o encontro
sempre sem fazer nada
porque eles vêm até a mim como num sonho.

Vislumbrar o paraíso com ondas de prazer
e lentamente entregarmo-nos ao céu e ao mar
com a mesma rendição com que viemos ao mundo.

Wednesday, December 04, 2013

O Tempo

Parece-me que o Tempo nunca se cansa
e está sempre à frente do acontecimento;
é um velocista que ensaia uma dança
e não vê o seu próprio movimento.

Discorre ondulações de brisa no ar
Descobre vibrações de raios de luar

No deserto a areia passa pelos cabelos
das memórias de todas as pessoas
que vagueiam dias e noites nas dunas

No campo a erva passeia pelas pernas
das visões de todos os animais
que perambulam manhãs e tarde nos montes

Na cidade o asfalto é pisado pelos pés
das histerias de todos os autómatos
que nervosamente se atropelam entre os prédios.

E em todos os cantos e todas as ruas e todas as paisagens
a vida toma forma e o Tempo não se apercebe.

Friday, November 15, 2013

Amarmo-nos é a única coisa que vale na vida,
meu amigo, meu irmão, meu companheiro, meu tudo.
O vento sussurra-me os segredos do mundo.

Saturday, November 09, 2013

Quantos espelhos vês no teu rosto?
E nas tuas mãos e no teu corpo?

Quantas pessoas se aninharam na tua mente
que galopa incessantemente
não tendo sequer piedade do teu corpo cansado?

E quando olhas para os teus dedos
vês apenas tudo o que escorreu entre eles
como areia fina da ampulheta da memória.


Saturday, October 19, 2013

O Meu Amor - Chico Buarque

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

Friday, October 18, 2013

O silêncio não existe, nunca existiu

no mundo inteiro

apenas os teus lábios o contêm

Wednesday, October 16, 2013

...

Um dia já não me lembrarei de ti,
apenas de um emaranhado de emoções sem rosto.

Lembrar-me-ei que o Futuro virou na curva errada
e que não se espetou de imediato numa árvore
nem teve nenhum acidente fatal
somente um apagar silencioso.

E aí, no meio da névoa do outrora, a luz que persiste é só minha
e de tudo o que sou mas não do que sei.

Sim, um dia já não hei-de ser a guardadora de memórias
que qual elefante porta-as até à sua última viagem.

E os abraços que nos demos unir-se-ão todos
num derradeiro para me levar.

*escrito ao som de Solitude de Ryuichi Sakamoto

Monday, October 14, 2013

Inventaram que a falta de solidariedade humana resultou numa cegueira branca. Inquiro-me se é o meu sofrimento diário que me está a tornar branca...

Sunday, September 29, 2013

A mudança do paradigma: amor, liberdade, poesia

Hoje acabou-se a magia,
findaram-se as marés de chuva
a espuma das madrugadas
e os feitiços do luar.

Não era ainda de noite e já entardecia,
pois a manhã estava atrasada
com sonhos feitos de nada.

O estatuto do amor mudou,
ele deixou de ser o salva-vidas
que nos põe à tona na tempestade
e sei hoje, conformo-me na constatação
de que é apenas uma das coisas que existe
como todas as outras sem liberdade.

E a própria poesia teve o já longamente adiado funeral
pois não passa de exacerbação e subterfúgio
para quem nunca encontrou um bom refúgio
da solidão, da desgraça do mundo e da putrefacção.


Thursday, September 19, 2013

O amor de uma relação

O amor tem todas as caras do mundo
e todas as feições de todos os animais
pois ele varia imenso mas tem sempre algo em comum
o bem-querer e a preocupação de mais nenhum.

Relações amorosas, não as queremos mais
são danosas por vezes
outras não chegam sequer a ser
mas sei que não são as tais
que quero para sempre manter.

O que queremos é leve e solto
mas imprime-se no corpo
como tatuagem de veias que brotam do coração.

O meu abraço e pensamento são teus
e o amor é a eternidade de um morto
que está para sempre enterrado no chão.

Thursday, August 22, 2013

Anedonia

Num estado completo de anedonia
o único desejo é morrer.
Depois, de ter as cinzas espalhadas
em Saturno e ver um bocado seus anéis brilhar
a rasgarem o céu.

Já não há desejos de estrelas cadentes,
nem sequer de pôr-de-sóis redentores.
Apenas um buraco negro
para o qual só eu não fui sugada.

Tuesday, August 20, 2013

"Era como se meu destino fosse ser um assassino, um ladrão de banco, um santo, um estuprador, um monge, um ermitão. Precisava de um lugar isolado para me esconder. A vida das pessoas sãs, dos homens comuns, era uma estupidez pior do que a morte. Parecia não haver alternativa possível. A educação também parecia uma armadilha. O que eram médicos, advogados, cientistas? Apenas homens que tinham permitido que sua liberdade de pensamento e a capacidade de agir como indivíduos lhes fosse retirada". 
Heinrich Karl Bukowski

Friday, August 09, 2013

Entre nós

Não se deita fora o que de melhor se tem.
Não se deita fora algo que se demorou anos a construir
e quando já se passou por tanto para manter.

"Há pessoas certas e as que lutam para dar certo":
nós fomos sempre dessas duas espécies de pessoas
ao mesmo tempo.

Entre nós há quilómetros de distância e no entanto,
não há um único milímetro que nos separe as mentes
e os corações tão presentes.

Se me quiseres alcançar tens de vir como o mar
com toda a sua complexidade
e tens de chegar até mim como o céu azul
com toda a sua serenidade.

É o quanto basta, pois entre nós
haverá sempre toda uma eternidade.


Tuesday, July 23, 2013

Dizer o que nos perturba não é, ao contrário do que muitos dizem, estarmos a queixar; é apenas partilhar a dor numa de "dor partilhada, dor aliviada".

Sunday, July 14, 2013

Ecos

soam ecos de quando peco
e me esqueço da redenção

a minha vida sem ti vivi-a
a minha morte contigo esqueci-a

vêm lembranças de mansas danças
que já lá vão

Saturday, July 13, 2013

Pernoitar

Lilases reflectiam do cabelo dela,
assim que a noite descia, mansa,
com gentil toque de dedos de luar.

Convidou-me para subir as escadas,
fê-lo só com o olhar
e assim que dei por mim
a cada pé em cada degrau
senti a corrida do coração
e a lentidão dos meus movimentos.

Entre as suas pernas pernoitei,
encostando a cabeça no interior
de umas das suas leves coxas.

A minha vida tinha parado
entre o calor da pele dela
e a suavidade de um afago.

Quando abri os olhos
apenas um pouco
percebi que era um bom sonho,
como aqueles dos quais não queremos despertar.

Saturday, July 06, 2013

sem título

Nunca fomos a um concerto juntos, nem dançámos juntos em público.
No entanto, não trocava os meus momentos contigo, com o teu mundo, por ninguém.
Pois foram os meus momentos mais ricos mesmo sem ter havido riquezas financeiras.
Assim são os grandes amores, são todos impossíveis e de meter dó, tal é o desperdício.

Saturday, June 29, 2013

Todos os dias eu amo-te em silêncio
como que em oração num templo
onde a devoção que te tenho faz-te o meu deus pessoal.

E todas as noites são passadas em contemplação
na adoração do que foste para mim
lembrando os teus dizeres e gestos
e todos os nossos momentos.

A dor de já não te ter enlouquece-me silenciosamente.
Eras a minha família: a quem dizia boa noite
e a quem desejava um bom dia.
Agora, não poder chegar até ti faz-me sentir paraplégica,
com os braços e pernas amputados
impedindo-me de te alcançar.

O meu desejo de ti encobriu-se de sombras
e já não mais quero alguém amar 
porque o amor agora só significa dor.

Tuesday, June 25, 2013

O som do coração a partir-se

Nunca tinha ouvido aquele som antes...
O som do coração a partir-se em microssegundos
acompanhado pela dor lancinante no peito

Para aniquilar sete anos precisamente sete palavras...
sempre metódico, o meu "Ming, o implacável".

Nada sinto, nada sou
e já quase nada resta.

Nunca tinha ouvido aquele som antes...
O som do coração a partir-se.

Friday, June 21, 2013

O Amor é como aqueles animais que se põem a atravessar estradas: acabam sempre atropelados.

Wednesday, June 12, 2013

O fim de uma relação

Não tenho nem nunca tive nada para te oferecer, só dores e tormentos,
os abortos de um mundo de podridão fecundo.
Por isso, fizeste bem em partir, mas devias ir inteiro,
todos os outros encontraram quem lhes fizesse felizes depois;
nunca fui a mais amada e ainda bem que é assim
pois nunca guardei nenhum prisioneiro,
nem quero ser a maior causadora de sofrimento.

Sejamos o mais cândidos que podemos ser
no meio da nojice humana em que habitamos
e ofertemo-nos a paz possível na solidão.

Verdadeiramente sempre estivemos sós:
tu nunca te abriste comigo até à última
e eu nunca te revelei o que incomodava.
Nenhum de nós esteve lá para o outro,
apenas parecia,
pois eu estava e tu não querias
e tu não estavas e eu precisava.

Friday, May 24, 2013

Estou tão blasé, mas tão blasé, que me podia matar e nem dar por isso :D

Wednesday, May 15, 2013

como eu queria saber o que é ser livre

ser livre para correr e saltar
andar pelos prados verdejantes
ou simplesmente lançar-me no mar

ser livre para cantar e despir
as pesadas vestimentas das obrigações

tirar o relógio do pulso
esse acessório que é apenas
uma algema do tempo para nos apressar

como eu queria saber o que é ser
absolutamente livre como a perfeição
que não existe

porque eu brilho no escuro
no pano alto, negro,
com o padrão das mil constelações
que como eu
brilham no escuro também

e porque voo como os pássaros
longínquos, negros,
com os bandos de mil geometrias
nos céus

eu gostava que fosses também livre
como eu, que pudesses beber dessa água
e nunca mais ter sede,
que conhecêssemos os dois a liberdade
e que ela não nos largasse mais

Saturday, April 27, 2013

Sem título

Estás presente em todo o lado, mas não consigo ver-te.

Estás a toda à minha volta.

Estás em mim.

Mas ainda assim não te consigo ver como dantes.

Não te consigo tocar como antigamente.

E sufoco aquilo que me apetece gritar.

Escrevo-o debaixo de água com a fúria do grito calado.

E contenho-te para que não me esqueças.

Tuesday, April 23, 2013

"O Amor... É difícil para os indecisos. É assustador para os medrosos. Avassalador para os apaixonados! Mas, os vencedores no amor são os fortes. Os que sabem o que querem e querem o que têm! Sonhar um sonho a dois, e nunca desistir da busca de ser feliz, é para poucos"  Cecília Meireles

Friday, April 19, 2013

Na tua pele

Na tua pele me alimento e bebo desse teu cheiro que me inebria e me faz cair nos teus braços sem defesa.
Repouso na tua pele colada à minha de tal maneira que nos sufoca com tanto desejo. Sinto as gargalhadas que elas dão juntas por mergulharem vezes sem conta num só abismo de prazer.

É na tua pele de sol, de areia, de tarde cálida num deserto tórrido que é esse teu corpo de dunas e oásis, que eu sinto milhões de vezes a vida começar como se nunca tivesse existido antes.

Não há palavras que descrevam o que sinto quando estou na tua pele...
É mais que Amor o que sinto..., é Amor, paixão, desejo e tudo mais, concentrado no sentimento mais profundo e denso, honesto e saudável, que tenho o prazer de conhecer.

Há em ti uma ternura que parece ser só minha conhecida, de um menino adorado pelos pais e que tanto carinho guardou deles consigo, com uma inocência rara. Por outro lado, vejo em ti uma leve tristeza que é profunda desilusão de quem cresceu belo num mundo hediondo.
Essa altivez, essa racionalidade e no entanto uma vontade de te deixar ir, de parar um pouco, de ficar suspenso em camas de plumas no pensamento.

Gotejo porque me esforço e não posso mais, por isso até amanhã.

-- in rolo de papel 05/11/2007 --

Thursday, April 18, 2013

É muito mais fácil dizermos que não estamos arrependidos, seja do que for. Porque o arrependimento mata e ninguém quer morrer, todos têm medo da morte. Por isso quanto mais longe estamos de ter consciência de que errámos melhor nos sentimos.

Monday, April 01, 2013

Amar e Perder


Algo que é comum a todos os seres humanos: ter e perder. Há apenas um conjunto limitado de possíveis reacções que temos face à perda. No entanto, a característica que permanece igual é a de ficarmos sempre com a sensação da perda. Esta sensação é como um pôr-do-sol que chega tímido e termina em avassaladora escuridão.

As sombras que se deitam sobre toda a paisagem e se erguem no horizonte são apenas o acabar de um dia.
Mas para quem perde e tem essa noção vincada no peito como um golpe que é desferido, o fim é mais duradouro, prolonga-se pela madrugada fria de quem teve e não foi capaz de manter.

Esta incapacidade que aflora na mente então parece estender-se num ápice, correndo pelas veias até nos definir de tal forma que todo o nosso corpo passa a ficar mais pesado. O corpo que é tão nosso e que só perdemos no final de tudo… O corpo que na maioria do tempo não quisemos pois prende-nos ao chão impedindo-nos de voar…

Desta pequena germinação de incapacidade nasce a culpa. A culpa que todos conhecemos e da qual ninguém se livra nem mesmo no leito de morte. A culpa por sermos incapazes de ter sem perder, de amar sem perder e por vezes, nos mais conscienciosos, a culpa por só termos amado mais quando perdemos.

Disto é feito o ser humano.

Eu amei e disse que amava. Eu perdi e lamentei as minhas perdas. E ainda assim, a culpa por incapacidade de reter mantém-se.

Portugal, Portugal...

Ultimamente, Portugal faz-me lembrar um doente terminal, que quase a falecer de doença prolongada apresenta alguns típicos rasgos de lucidez que são os poucos negócios novos de que se ouve falar, mas que em nada evitam o fim.

Thursday, March 14, 2013

Nos primórdios eram as pinturas rupestres, agora são tweets e actualizações de status no Facebook.
A evolução falhou; não foi grande a evolução nem foi grande coisa!

Wednesday, February 27, 2013

A minha educação só me trouxe solidão, pobreza e consciencialização a mais.

Thursday, February 21, 2013

Países-Cemitério

Existem países transformados em cemitérios com  vários talhões: o dos cinemas, o das casas, o das construções, o dos carros, o das verdades e o das emoções. Todos eles com lápides de neon assinalando a morte intermitente.

Ergue-se agora a hipocrisia que, como morta-viva, esteve sempre lá à espera.

As hélices giram e já não são motor da esperança, apenas o pútrido ruído da mesma débil engrenagem de uma cidade condenada a arrastar-se no pardo nevoeiro.

Dispõem-se filões de betume como soldados que caíram na batalha dos especuladores. E do vasto céu derramam-se as últimas bençãos sobre a terra verdejante como se fosse a derradeira unção.

Caminhamos para o nada e pelo caminho destruímos tudo.
Somos os bárbaros civilizados: com mil esforços para nos controlarmos e a mim parece-me que a bomba-relógio é mais aniquiladora do que se fôssemos mesmo selvagens.

Wednesday, January 30, 2013

A vida de...

Morreste sem dizer Adeus.

E por toda a eternidade perguntarei porquê.

Morreste sem te despedires.

E eu, mesmo sem ser crente, conversei contigo

em todos os dias que passaram,

com uma fé inabalável em ti.

Intercalei a falta que me fazias

com os momentos que guardei de ti.

Veleidades da vida - Processos maravilhosos da Natureza

Carvão                       Vapor           Paixão
Grafite                        Água             Amor
Diamante                    Gelo              Dor

Monday, January 14, 2013

Antigamente, tínhamos sede de conhecimento, agora já há só sede de alienação.

Wednesday, January 09, 2013

Acedo à memória e surpreendo-me,
ora com a dificuldade, ora com a glória,
que foram ultrapassadas.

A maior parte da vida passou ao lado da minha vontade,
mais pela falta de condições para tudo
e tentando assim com quase nada
nada pude fazer.