Algo que é comum a todos os seres humanos:
ter e perder. Há apenas um conjunto limitado de possíveis reacções que temos
face à perda. No entanto, a característica que permanece igual é a de ficarmos
sempre com a sensação da perda. Esta sensação é como um pôr-do-sol que chega
tímido e termina em avassaladora escuridão.
As sombras que se deitam sobre toda
a paisagem e se erguem no horizonte são apenas o acabar de um dia.
Mas para quem perde e tem essa noção
vincada no peito como um golpe que é desferido, o fim é mais duradouro,
prolonga-se pela madrugada fria de quem teve e não foi capaz de manter.
Esta incapacidade que aflora na
mente então parece estender-se num ápice, correndo pelas veias até nos definir
de tal forma que todo o nosso corpo passa a ficar mais pesado. O corpo que é tão
nosso e que só perdemos no final de tudo… O corpo que na maioria do tempo não
quisemos pois prende-nos ao chão impedindo-nos de voar…
Desta pequena germinação de
incapacidade nasce a culpa. A culpa que todos conhecemos e da qual ninguém se
livra nem mesmo no leito de morte. A culpa por sermos incapazes de ter sem
perder, de amar sem perder e por vezes, nos mais conscienciosos, a culpa por só
termos amado mais quando perdemos.
Disto é feito o ser humano.
Eu amei e disse que amava. Eu perdi
e lamentei as minhas perdas. E ainda assim, a culpa por incapacidade de reter
mantém-se.
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