Friday, January 23, 2009

"ALMA E VOZ DE ÁRVORE"


"Descascaram-me, forte e bruta;
Fiquei nua, sem metade de mim
Paguei pelo desejo de muita gente
Usurparam-me esses filhos da puta
Não foi só a mim que deixaram assim
Tal como eu, aquela pobre inocente
Ficou devastada e todos os seus elementos
Choram agora folhas sem ser Outono
Gotejam a sua copa desesperadas
Por terem ofendido seus sentimentos
E não deixarem tê-las o seu sono
Nem o desejo de dormir descansadas
Extraem de mim sem pedir licença
A seiva que corre nas minhas veias
Que me dá cor e vivacidade
Perfumes e vida intensa
Que caíram em movediças areias
Pelas mãos do Homem da cidade.
Estamos, com os nossos gritos isoladas
Pedindo ajuda sem esperança sequer
Actos vãos que assolam o espírito
Enquanto algumas são carbonizadas
Outras, com fragilidade de mulher
Esperam pela sua vez conformadas."

"Descrição de um entardecer"

Cai a tarde num Vazio
Silêncio eterno fingido,
Grito mudo e aflito
Das folhas e do vento.
A tarde cai límpida;
A noite depressa quer chegar,
Na magia do entardecer,
Na explosão das cores do Ocaso;
Rubras e fogosas extinguem-se
Com a chegada do entardecer,
Que cai límpido, vem devagar
Envolto em leves aromas;
Fragrâncias naturais de riso,
Luzes num fim de tarde
Que ao longe vem vindo.
A larga Paz do Crepúsculo
Traz uma quietação dulcíssima
E vagamente melancólica entra
A adormecer na Natureza breve,
A tarde ía descendo lenta
Cada vez mais límpida;
Na luz indecisa do Crepúsculo
Acentuam-se sombras dos Montes,
Gigantescas, imobilizadas as arestas.
Na decoração ilusionista de Poente,
Está na vasta cúpula do Céu
O constrangedor silêncio dominante
E o sinistro espasmo amedrontador
Que evocam temores inconscientes.

s/título


Um anjo fiel...
No mar infinito está
Com uma doce paixão
Que lhe faz cair
Para sempre preso está
E não se solta facilmente
Só mesmo com um grito
Que fere a dor na alma.

Uma flor jovial...
De amarga beldade
É pecaminoso o seu acto
Que mostra fragilidade
A fraca e submissa
Liberdade descontente
De quem ondula ao vento
Sem a rigidez real.

Um olhar penetrante...
É como se pudesse
Ver tudo o que não sei
Através daquilo que sinto
Ultrapassando aquilo que sou
Sem pedir sequer licença
E devastando tudo por dentro
À passagem consequentemente.

Um grito profundo...
De tanta intensidade
Que chega a doer na alma
E, já faz adiantar a chegada
Do fim do dia entardecido
Com o puro breu da noite
Na escuridão da voz
E no riso esgotante.

Um pôr-do-sol rubro...
Cinzento no mais íntimo
Não revela porque dói
Dor, que mata o coração
Sem deixar lembranças
Recordações, só frustração
Que não larga a sombra
Do personagem vivo-morto.

Friday, January 09, 2009

8/05/97

Volta!
Pelo tempo que perdi;
Contigo não se perde tempo.
Solta!
Deixa-me, que eu sorri;
Aprendi com todo momento.

Deixa!
Já nada vale a pena,
Pois tudo vem e passa.
Queixa!
Diz que lembraste da cena,
E que a lembrança escassa.

Vive!
Cá dentro de mim;
Como a chama me incendeia...
Tive!
E quero nunca acabar assim,
Com a memória que o vento plageia.

Morre!
Como amor, adormeceu,
Cá dentro profundo e sonolento.
Corre!
Para onde te quero meu...
Veloz, mas frágil, sempre atento.

Faz!
O que quiseres, na fúria do mar
Esquecer de tudo e de todos.
Jaz!
Lágrima morta, dúbia de afogar;
Contigo quero ficar sem engodos.

Roga!
Pelos céus e pela terra
Que haja Paz e não Guerra.
Afoga!
Mil desejos embriagados,
Deixando-os ir desenfreados.

Mora!
Aqui onde sempre estiveste,
No lugar onde a vontade pôs.
Chora!
Pelas tuas regras que não cumpriste;
Deixa o disfarce com pó-de-arroz.

Seja!
Como o Demo me quiser levar,
É caótica a final despedida.
Beija!
Que a despedida está a acabar,
Em breve é recordação perdida.

Gasta!
Tudo o que podes e te deram,
Por esses mesmos factos.
Afasta!
Logo de uma vez o que fizeram,
Tudo passa e também esses actos.

Hoje!
Sempre será o amanhã,
Arrependido de tê-lo ontem.
Foge!
Sumir, evaporar, desaparecer;
Simplesmente acabar, morrer!

8/05/97

Serpente trespassa
Tudo o que deixaste
Por desleixo e desprezo
Deixa-me ser da raça
Com que te revestiste
E livraste-te desse peso.
Desperta o que em ti
Veemente se encerra
Traz a verdade
Denunciando a mentira
O logro de um abraço
A nocturna flor
Floresce em manhã nua
Inóspita de pecado
Suavemente tão pura
Que mata o regaço
Com que te embalas
No teu céu radiante.
Solta-se o som rude
Voraz, fere cá dentro
Agonizando a negritude
Da alma pensante
Quando penso em ti
Rompante se torna
Toda a fúria de sobreviver
Para te ver de novo.
Fujo da tristeza das lembranças
Como tento não me lembrar!
Chorar pela tua falta
Que me faz morrer
A cada minuto em ti
Na janela do meu tempo
Na distância da visão
Que o horizonte se alcança
Obstáculos, opositores frios
Inimigos de tudo que é belo.

"Por ti"

Por Ti eu respiro;
Lágrimas dum Oceano chorei,
Foram-se todas de uma só vez
Profundamente num suspiro.
No teu peito me deitei,
Em teu palpitar outra vez.
Por Ti, nas estrelas tive alento,
Fui repousar no azul do Céu,
Acordar no arco íris madrugador.
Foi nas águas claras do pensamento
Coberto pelo mais fino véu,
Que o coração sentiu a Dor.
Por Ti, movi os pássaros exangues;
Não deixei a noite escura vir;
Lutei contra o crepúsculo lindo
De um entardecer mórbido.
O Sol pus a sorrir
Mesmo com a noite vindo.
Por Ti, com toda a força gritei;
Do meu mais profundo ser
Saiu esse desabafo breve.
Quando de Ti me lembrei,
A lembrança fez-me sofrer
De saudades vindas ao leve.
Por Ti, choram árvores no Outono,
Folhas que caem levadas,
De todas as cores cingidas,
Despertadas do seu sono
Pelo vento só, agarradas.
Voam sem destino, perdidas.
Por Ti, moveram-se os céus,
Moveu-se a Terra,
Quebrou o silêncio e a Razão;
São eles os réus,
Provocaram essa Guerra.

4/1/97

Escreve torto no meu peito
Tinta verde dos teus olhos
Ondulam ao sabor do vento
Vigorosos caracóis do teu cabelo
Nesse teu rio de paixão
Deixa-me deitar em seu leito
Paixões tive aos molhos
Mas tu não me sais do pensamento
Com cada batida do coração
Dão-se 1001 fantasias
De magia saem direito
Para o mais fundo da alma
Irrompem num marchar lento
Com o amanhecer dos dias
Nascem novas esperanças
De quem vive uma vida calma
No entanto com a Razão ao relento
Brilham de novo o Sol e as Estrelas
Na tua pele e no teu olhar
Translúcidas ficam gotas de orvalho
Manhã acesa sem o teu lume
Queria poder sentir o teu abraçar
Satisfazer o meu sumarento desejo
Vou sempre amar-te sem queixumes
Esperar pelo teu amor sereno de mar
De tanto o fazer já me aleijo
Alcanço a luz infinita da Lua
Só nos meus sonhos de céu
Jaz uma lágrima morta
Que a mágoa é só tua
Coberta por um fino véu.

"CULPADO DE TRISTEZA(S)"

Eu culpo-te pelo céu sem estrelas,
Que já não me ilumina a alma;
Agora que ficaram lembranças
Apenas e tão malditas são.
Culpo-te pela fúria do mar
Que devastou-me a euforia,
Agora que as folhas só caem
Mortas, levadas por melancolia.
Culpo-te pelos dias sem sol,
Que já não aquecem as tardes,
Agora que o frio penetra fundo
No mais íntimo do nosso Ser.
Culpo-te pelo suspiro profundo
Que o lobo uivou sem querer
Agora que os gritos só se dão
Quando cá dentro dói a valer.

"Dá-me a tua mão."

Dá-me a tua mão;
Quero levar-te comigo
Para onde nunca estive;
Encher-te de paixão,
Passear contigo
Nas memórias que retive.
Dá-me a tua mão,
Deixa-me tocar no fundo
Desse infinito azul,
Um pedaço de coração,
Do meu amor profundo,
Da minha alma a sul.
Dá-me a tua mão,
Flor do eterno desejo
Em pó foi acabar;
E os céus desabarão
Se deixar-me num beijo
Morrer num teu abraçar.

Wednesday, January 07, 2009

O Medo: pequeno e graúdo.

Quando somos pequenos não temos medo de nada senão de "bichos papões" e de perder, ou de deixarmos de ver as pessoas que gostamos.

Quando crescemos temos mais medo de tudo, mas deixamos de ter medo dos "bichos papões".

O receio maior que persiste de igual forma ao longo da vida, é o de perdermos as pessoas que amamos. Logo, poderíamos concluir que essa é a constante nas nossas vidas, o que se mantém como prioridade: as pessoas que amamos.

Ao contrário do status que envolve a respectiva riqueza, bens, educação, entre outros de natureza material ou convencionada pela sociedade, ao qual atribuímos grande importância quando crescemos, consequentemente o créscimo de receio - o de não ser alguém na sociedade onde estamos inseridos -, o amor que sentimos pelos outros e a importância que eles têm para nós é algo que sentimos ao longo da nossa existência como nosso imperativo oxigénio.

É claro que a consciência que temos das coisas é um factor crítico na mudança de importância e cariz dos nossos medos, mas não será a consciência algo que nós próprios moldamos?