Hoje acabou-se a magia,
findaram-se as marés de chuva
a espuma das madrugadas
e os feitiços do luar.
Não era ainda de noite e já entardecia,
pois a manhã estava atrasada
com sonhos feitos de nada.
O estatuto do amor mudou,
ele deixou de ser o salva-vidas
que nos põe à tona na tempestade
e sei hoje, conformo-me na constatação
de que é apenas uma das coisas que existe
como todas as outras sem liberdade.
E a própria poesia teve o já longamente adiado funeral
pois não passa de exacerbação e subterfúgio
para quem nunca encontrou um bom refúgio
da solidão, da desgraça do mundo e da putrefacção.
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