Pungente, Matei
Atravessei, Morri
Fiquei
No vazio da parede branca
Parei
Até um dia, enfim?
Poesia filosófica; Poesia Visual; e outros objectos poéticos de Poeta mera observadora
Crianças mortas, feridas, mutiladas
Crianças ignotas, queridas, exterminadas
Ensinadas a morrer e a matar.
Nós que temos uma mente diferente
Mas silente
Contra-corrente
Temos medo da gente
Que é mundana e contente
Perpetuei momentos bons para que te lembrasses, especialmente nas épocas más, de como um oásis no deserto fez com que o teu sorriso brilhasse.
Perpetuei momentos maus para que tudo o resto ultrapassasses, especialmente nas épocas piores, de como és dona(o) e senhor(a) de ti e do mundo.
(09/12/2023)
Meu bem
Tu não sabes voltar
E eu não posso aceitar-te de volta
Esperas que te lamba o suor
Espero que me lambas as lágrimas
Por esta hora já sabemos de cor
O que o amor gasta
Como é a verdade de nós
Jogados às traças
Enquanto temos fome insaciável
De sermos trespassados
Por aquele arder tresloucado
Que fazemos de tudo para esquecer
Demoras e matas-me
Eu estava errada
O amor verdadeiro não é o saudável
Mas sim o que nos faz gozar
De completude da plena saúde
(28/11/2023)
Nasceu este, morreu aquele
Morreu este, nasceu aquele
Eu fiz tal coisa, comi aquilo
Eu casei, eu tive um filho
Uma árvore plantei, escrevi um livro
Eu fiz isto e fiz aquilo
Fui além, acoli, acolá
Eu me despi, eu me vesti
Estava frio, estava calor
Foi desgraça, foi horror
Eu detestei e tenho um amor
Hoje fui rei e senhor
Ontem fui doutor
Amanhã estou louco
Mouco e rouco
Eu estive com aquele e aqueleoutro
Eu indignei-me e chateei-e
Tive alegria e disse adeus
Um tudo e nada
Entre a tristeza e a folia
Fui ateu e conheci deus
Ora digam lá de todos
Esses perfis de Instagram
São ou não uma maravilha?
(23/11/2023)
Será que ainda me procuras quando chega a noite e só existe o branco das paredes do apartamento? Será que ainda me vislumbras quando fechas os olhos e a luz que houve um dia dentro de nós a meias como a nossa escuridão, sufoca o peito com a ânsia daquele calor que nos acalentou o coração? Será que ainda me bebes como um dia a pura água cor de sangue que matou a tua sede? Será que ainda me encontras quando num segundo surgimo-nos no pensamento e unimo-nos numa sintonia do rádio soando no ar? Será que ainda te sentes como a minha eterna e inabalável lua como eu serei sempre o nosso ar; será que me vês bailar, corpo unido ao teu, onde é o meu lugar? Como vê, amado meu, o tempo em que só importará o céu?
(05/10/2023)
"Todos os animais não inspiram ternura? Então o que é que deu errado no Ser Humano?"
Bestas ferais não são tão destruidoras quanto ele. Ele é auto-destrutivo, canibal, completamente assassino, nojento e boçal. Nasce e é ensinado a odiar, a fomentar esse lado agressivo, porque tudo é competição, seja por alimento, seja por abrigo.
E todos os conceitos que inventa, todas as criações e recriações, não passam de ilusões para afastar a morte, o seu castigo. Para alimentar-se de prazer e satisfação, pisa o outro, pisa o irmão, nada mais faz senão regojizar perante a sua destruição. Porque lhe traz frutos e a dita felicidade, o cúmulo do egoísmo e a falsa saudade. Oh, criatura patética, vomitas todos os dias tudo o que lias e repetes como verdade. Não páras, não sabes parar, "nem debaixo de água", para contigo não teres de lidar. És vil, és torpe, vendeste a tua irmã no açougue. És vil, és cagarrinhoso, pensas que és o maior até seres idoso. Poço de germes e micróbios, o teu corpo que exaltas; buraco negro de radioactividade, o teu cérebro que calas. Nem vou falar do teu coração, pois esse é tão inexistente que nem te ralas. Vives de prazer e paixão, és falastrão e canastrão, forçaste-te a domesticar um cão, devias explodir numa bomba nuclear.
Um coração simples e sincero supostamente não devia deixar a mente atrapalhar o que tanto se deseja. Só que o desejo é apenas um fósforo que qualquer pouca ventania apaga.
Por isso. se o desejo for profundo e tão duradouro e certo, que é inabalável perante as areias do tempo, então aí é inevitável e não dá para fugir ao sentimento.
(28/09/2023)
Sinto tantas saudades tuas e só queria uma oportunidade de estarmos juntos. Fazes-me tanta falta.
Quando baixo a guarda e ponho-me a ver os filmes típicos da época natalícia, romances que acabam sempre bem, fico com pena de não sermos nós e um nó na garganta fica a a doer com a vontade de chorar. A verdade escancara-se e fico a pensar que nunca mais te vou ver e que a minha vida sem nós juntos não faz sentido.
A chuva veio daí, mas atravessando o oceano esfriou, congelou-se em gotículas que vieram colar-se aos carros de madrugada, exalando a lua perfumada no interior das narinas forradas pela geada. O tempo não nos alcança, mas sim nós o pegamos nas mãos como se fôssemos uma criança que nunca escutou um não e, por isso, tem em si a certeza de que nada é impossível.
Apaixonei-me pela deusa de todas as deusas, a única para quem eu olhava e todas as outras empalideciam e sumiam.
Queria ver a vista que ela via da janela dela, só para confirmar se era assim tão bela. E enquanto ela falava com os pássaros e assobiava por entre as grades, eu chegava pelo ar, com asas de grande envergadura, como a maior das aves.
Eu recolhia-a nas minhas asas e abrigava-a no quente do meu canto. Os nossos cabelos ao vento dançavam e todo o mundo se alegrava. Afinal sempre fui eu o homem para a mulher-pássaro.
A noite negra de todos negrumes
Pariu o mundo, os planetas,
Mas não as constelações
Mas sim os queixumes
Das brancas luas e cometas
Pontilhados tiranos sem luz
Ninguém mais lhes trará o Sol
A luz dourada, bênção de mãe
A chuva que cai em fios de arrebol
Vira e mexe nesse vaivém
Solta o teu sorriso de meia-lua
Espelho reluzente da dentadura
Que o universo escolheu
Para iluminar o que escureceu
Quem te ensinou a caminhar? Deu-te a mão e não largou? Confiaste, empurrou-te e quando pensou que tinhas balanço deixou de te amparar? Ou foste tu que te ensinaste caminhando? Pé ante pé, só na força da acção e do querer, um tal momentum meio a abanar, mas na pura vontade da motivação da necessidade.
Eras o vento em rodopio, a fome do frio, a ausência de tempo e as pernas do momento.
Viraste barulho, correria, maratona e ventania de tornados e furacões. Todos os dias partes uma perna. Não, não é "break a leg". Pensaste que vencias. Mas não. Vives uma vida tão triste, que nunca foi caminhada, foi só ferida.
Tenho milhares de escritos aqui e não costumo lê-los uma vez digitado, quase que funciona mesmo apenas como um depósito, um repositório de poemas, uma armazém que aluguei e onde vou largando coisas que me estão, ora incrustadas, ora dependuradas, mas que consigo deitar para fora. Mas nunca é o suficiente e retorno sempre.
Quem quer salvar o mundo é preso e quem anda a matar o mundo é vangloriado.