terça-feira, novembro 10, 2009

O relógio de areia movediça

Entre o tempo e o mundo, circulam penas de aves arcanas e bailam vísceras suspensas em formol. Adormecidos animalejos que, com clorofórmio, se mantêm refugiados da realidade, são hipnotizados pela abúlica aurora austral. Não são as horas desses ditadores, mas eles voltam repetidamente.

A pêra madura é trincada. Desfazem-se miniaturizados grãos de areia na língua de Ártemis. A sua tocha guia as pequenas bestas, que mais tarde perecem atravessadas pelas setas do seu atlético arco. Ártemis espalha o pó lunar da ampulheta, partindo-a, e todo o mundo, antes insone, quebra agora sob os encantos de Hipnos.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Sensações

Se as tuas mãos fossem iguais às minhas
será que sentias aquilo que eu sinto
quando passo os dedos pela tua pele?

Serpentes de desejo sibilavam pelo meu corpo
e o sabor da tentação era o fruto doce
que eu trincava sem hesitação.

Sopravas olhares e o meu rosto dissolvia-se em rubor,
agora as metásteses do teu olhar
ainda contaminam as minhas memórias;
morro dessa cura, com a solitude como guardiã.

Soubeste escrever-me nas mãos um destino de sal,
vigoroso sabor nos dedos lânguidos que chupaste,
sem te conteres entre línguas e abraços.