terça-feira, novembro 27, 2018

Se antes tive poalha nas digitais,
hoje percebo que é da matéria do meu coração,
da substância desfeita, que nem liofilizada é creio,
negra como cinzas do carvão resultante da lenta mas irremediável combustão.

Nunca fui de me curvar perante a verborreia vácua das narrativas forçadas,
tal como sempre reneguei toda a autoridade que se quis impor,
não fiz senão questionar tudo porque tudo é inexistente enquanto absoluto,
provavelmente até o amor que sempre tive como maior do que tudo.

E se parece que em todas as matérias me dei por remediada,
conformada jamais estive com a sua existência que causa dor,
apenas foi tudo porque deixada pelo meio
já que a destruição foi maior e demais.

quinta-feira, novembro 22, 2018

Zinha

Os anos passaram, as crianças cresceram e perderam o seu fulgor, já não são quem eram, mudaram tanto que já ninguém as lembra como ainda iguais.

Mas há uma, no entanto, que eu reconheço a candura dos lisos cabelos negros e doces sorrisos que a fazem tão ingénua como sempre foi. É, por isso, a mais bela das crianças que já não o são, é singela criatura dos vento e do prado verdejante, da lagoa e do jardim, é todo o campo de flores alvas que nunca foram desfolhadas para um mal-me-quer.

Ela é o milagre do trevo de quatro folhas numa inteira e imensa extensão de trevos. E eu ainda sorrio quando penso como ela era e como ela é.

quinta-feira, novembro 08, 2018

E no meio de tantos invernos e depois de todas as tempestades que sempre me visitam, aprendi que existe um verão sempre enterrado dentro de mim.