Friday, June 05, 2009

Hoje fui ao Oceanário - homenagem Sophia Mello Breyner Andresen

Eis os poemas que lá li, espalhados pelas paredes, junto do grande tanque central:
O mar azul e branco e as luzidias

Pedras – O arfado espaço

Onde o que está lavado se relava

Para o rito do espanto e do começo

Onde sou a mim mesma devolvida

Em sal espuma e concha regressada

À praia inicial da minha vida.


Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.

A tua beleza aumenta quando estamos sós.

E tão fundo intimamente a tua voz

Segue o mais secreto bailar do meu sonho

Que momentos há em que eu suponho

Seres um milagre criado só para mim.


Também gosto destes, que não vi lá:


No mar passa de onda em onda repetido

O meu nome fantástico e secreto

Que só os anjos do vento reconhecem

Quando os encontro e perco de repente


Dia do mar do meu quarto – cubo

Onde os meus gestos sonâmbulos deslizam

Entre o animal e a flor como medusas.

Dia do mar no ar, dia alto

Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem

Rolando sobre as ondas, sobre as nuvens.


De todos os cantos do mundo

Amo com um amor mais forte e mais profundo

Aquela praia extasiada e nua

Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.


Onde mais bela crina sacudida

Ou impetuoso arfar no mar imenso

Onde tão ébrio amor em vasta praia


Aqui nesta praia onde

Não há nenhum vestígio de impureza,

Aqui onde há somente

Ondas tombando ininterruptamente,

Puro espaço e lúcida unidade,

Aqui o tempo apaixonadamente

Encontra a própria liberdade.

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