Só nós sabemos o que vai dentro da mente e quão conflituoso tudo consegue ser.
A tortura que é, ver os minutos a passarem e não fazer nada, e, no entanto, crescer uma angústia palpitante, cá dentro; só eu sei o que é isso em mim. De mês a mês, ou com ainda menor frequência, sentir que chegámos ao limite do que conseguimos resistir, e estupidamente, continuar, pensando que já faltou mais, para não aguentar nem mais um pouco. A alguém que viesse ter comigo com semelhante conversa, eu diria simplesmente algo do género «tens de arranjar uma distracção», significando “arranja uma vida”. Mas as coisas não são bem assim, na prática.
A inutilidade é uma profissão a tempo inteiro,
da qual não nos podemos despedir, não somos assalariados,
nem sequer a exercemos, mas sim, é ela que se exerce em nós.
O ser nada, homem ou mulher, que são o vazio que está dentro dos balões enchidos por pulmões artificiais – balofos invólucros do nada.
À semelhança das obras artísticas designadas apenas por “sem título”,
eu assino-me como “sem identidade”.
Não chego a outurgar comparação a um cadáver, no qual, já na morgue,
se avista, dependurada no dedo grande do pé, ou à volta do tornozelo – qual bezerra laçada à cowboy, pela exímia cavaleira e guardadora de gado que é a morte – , a etiqueta que o nomeia de “desconhecido”.
Não, não sou um cadáver, pois a inutilidade não pode existir neles;
não há cérebro e consciência para se alimentar. Ela é uma doença incapacitante,
de carácter degenerativo, e não apenas em termos médicos. Esta azia constante incomoda, vai corroendo as entranhas da nossa personalidade crescentemente oxidada.
Não há cura possível. A inutilidade é senhora e rainha do meu Ser.
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