Eu sou alguém que vive à margem do que queria ser.
Estou acampado debaixo do vidoeiro, no limite do rio que corre e ninguém vê.
Serei sempre aquela árvore de tronco fino, gasto, envelhecido pelo olhar das aves.
Agora vejo que, diferentemente dos argonautas, penso que a única coisa necessária para se ter vivido é apenas sentir, não é viver. Sentir o mundo inteiro e todas as coisas que nele existem sem ter de visitá-las fisicamente. Sentir - essa propriedade do ser humano que nos faz ser diferentes dos outros seres e que nos permite viajar sem sair do mesmo lugar. É aquilo que se chama de turismo infinito.
Assim se constrói o Ser.
quinta-feira, setembro 30, 2010
terça-feira, setembro 28, 2010
sexta-feira, setembro 17, 2010
O papel
Recorto o papel minuciosamente
com cuidados de criança
tesoura de pontas redondas
e no entanto as arestas do que recorto
estão toscamente desenhadas.
Tinha vinte e uma páginas de onde escolher
o papel que havia de talhar.
Sei que o que escolhi não era meu
daí o desafio de o recortar.
Sombras de vincos manchavam o meu papel
que não se conseguia manter plano
nem sequer límpido.
A sua cor era cada vez mais chamuscada
pelo calor dos cortes que eu operava.
Esmerei-me para que não me rasgasse a pele
o papel
que eu tão cuidadosamente recortava
mas amiúde senti-o raspar na minha mão
como que a ameaçar-me...
... a tentar penetrar em mim.
O som num compasso binário
que a tesoura no seu abrir e fechar de pernas
fazia ao abrir caminho
fez-me recordar do pulsar do mundo.
Aquele som
naquele papel
e o pulsar presente numa vida inteira
desse bolígrafo
desse flamenco
no ritmo do coração do mundo.
Assim despertei
para a importância do papel
para a importância da tesoura
e para a importância do mundo.
com cuidados de criança
tesoura de pontas redondas
e no entanto as arestas do que recorto
estão toscamente desenhadas.
Tinha vinte e uma páginas de onde escolher
o papel que havia de talhar.
Sei que o que escolhi não era meu
daí o desafio de o recortar.
Sombras de vincos manchavam o meu papel
que não se conseguia manter plano
nem sequer límpido.
A sua cor era cada vez mais chamuscada
pelo calor dos cortes que eu operava.
Esmerei-me para que não me rasgasse a pele
o papel
que eu tão cuidadosamente recortava
mas amiúde senti-o raspar na minha mão
como que a ameaçar-me...
... a tentar penetrar em mim.
O som num compasso binário
que a tesoura no seu abrir e fechar de pernas
fazia ao abrir caminho
fez-me recordar do pulsar do mundo.
Aquele som
naquele papel
e o pulsar presente numa vida inteira
desse bolígrafo
desse flamenco
no ritmo do coração do mundo.
Assim despertei
para a importância do papel
para a importância da tesoura
e para a importância do mundo.
terça-feira, setembro 14, 2010
Uma sinopse literária do nosso amor (em construção)
Sempre que voas como um pássaro, para longe, cá dentro choro como uma nuvem num peito assolado pela tempestade anunciada.
Absinto-te pela distância, mas tenho em mim impregnado o cheiro dos girassóis desse teu corpo áureo.
Ainda mais forte do que tudo é o romper das ondas do que sentimos em uníssono; é essa a chave que faz funcionar o motor do nosso coração.
para Rui Herbon.
Absinto-te pela distância, mas tenho em mim impregnado o cheiro dos girassóis desse teu corpo áureo.
Ainda mais forte do que tudo é o romper das ondas do que sentimos em uníssono; é essa a chave que faz funcionar o motor do nosso coração.
para Rui Herbon.
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