Golpes e mais golpes,
golpeado pela vida inteira
uma e outra vez, sem descanso...
Primeiramente, ainda no ventre,
o terramoto da queda e tudo sangue
e tudo negro e a seguir
foi o punhal que rasgou o ventre
e eu de um roxeado mas vivo.
Depois, ainda na pré-adolescência,
aperceber-me pela primeira vez
do quanto tudo é horrível e vão
e todos os golpes que sofrera na pele,
só até então, tal como tudo,
derradeiramente não fazerem qualquer sentido.
Posteriormente a terrível consumação de tudo ser muito tudo.
Os golpes que nos ferem como bicadas de abutres
e outros necrófagos..., morrer e continuar a ser golpeado.
Vivendo como irmãos de Sísifo e Prometeu,
com facas a rasgarem a veias dos braços
e a apunhalarem-nos o corpo repetidamente
nos sítios em que as feridas nunca chegam a fechar completamente,
onde já foi arrancado o órgão e continua o seu fantasma.
Os rostos dos agressores fundem-se e toda a dor é una
e toda a dilaceração jorra sangue ininterruptamente.
É o bebé que morreu mas continuou vivo,
é a criança que foi violada mas enquanto cresce sorri,
é o adulto que sempre foi órfão e sempre será,
é o idoso que nunca importa e nunca importará:
milhares de vidas e mundos sempre destruídos,
golpe atrás de golpe com pequenas pausas
para regenerar apenas o suficiente para haver de novo terreno para bombardear.
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