Dizem que para nos mantermos vivos é preciso estar sempre com uma ocupação, estabelecer objectivos e ter algo a que aspirar (sonhar).
Ao sermos humanos temos consciência da própria morte e embora a maioria não a tenha sempre presente existem muitas vezes em que somos lembrados da sua inevitabilidade. Existem, porém, outras pessoas (menos) que têm sempre noção da morte, ou porque a sentem em si mesmos, ou porque vêem-na no dia-a-dia, ou porque pensam em morrer, ou apenas porque têm sempre presente que ela vai chegar a qualquer momento.
Nestas sociedades modernas, são poucas as pessoas que almejam solidão. Todos têm sede de contacto e uma maioria destes, hoje, consegue-o através das tecnologias de comunicação, criando múltiplas relações virtuais, mas que as fazem sentirem-se mais e mais isolados. É para isso que caminhamos há algum tempo: o isolamento e consequente depressão.
Pensar que as profissões do futuro estarão mormente ligadas a isto é uma possibilidade: haverá mais necessidade de apoio psicológico e psiquiátrico, e de nutricionistas focados para uma alimentação "mais feliz" e afins, tal como um boom dessa espécie estranha que são os designados "life coachs".
No tempo de Kurt Cobain não se sabia a depressão como doença, não se sabia que ela existia por causa, entre outros, das alterações/desequilíbrios químicos decorrentes no organismo e que é uma doença tratável e mesmo curável.
Agora que Robin Williams - actor e comediante excelso - faleceu por causa dos seus problemas de lidar com uma depressão e desequilíbrios químicos no organismo há mais de 30 anos, pode ser que as pessoas entendam que a depressão é de facto uma doença como tantas outras, com consequências não só mentais mas físicas. Pode ser que as pessoas percebam que mesmo o melhor dos humoristas, as pessoas mais alegres e animadas, têm crises profundas de depressão, não porque querem e "é da cabeça delas", mas apenas por causa de processos que ocorrem a nível interno quimicamente que não conseguem controlar, à semelhança de uma constipação ou outra doença qualquer.
Penso que Robin Williams ficaria extremamente contente por saber que a sua morte contribuiu para que as pessoas finalmente tivessem noção e acordassem para esta epidemia moderna, silenciosa, que qualquer um pode ter a dada altura na vida, que é a depressão.
quinta-feira, agosto 14, 2014
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