domingo, novembro 16, 2014

Uma parda miragem no final

Saboreio a melancolia da tua voz, gota a gota como a primeira chuva outonal que desliza sobre as folhas que ainda amarelecerão mais e cairão ao chão. Sabes-me ao passado que é tudo o que existe e que perdura sempre.
Abraço-te agora com um fim de tarde que anoitece cedo e sei que nunca foste propriedade minha e que eu nunca quis ter-te. Possuir-te sim, foi possível enquanto me dizias amar para sempre, mas hoje já não, hoje estás nos braços de outra pessoa e mais outra e mais outra... "à terceira é de vez?". Nunca é. Nunca nada é. Porque a imaginação nos leva sempre mais longe e vivemos a cada dia com aspirações que só são magnéticas quando estão ao alcance da mão.

Falas-me sobre ditos de sabedoria popular, sobre a vida que é uma viagem e tudo o que já ouvi tantas vezes... palavras cansadas do mundo inteiro, ou sou só eu que com o passar dos anos deixei esses sonhos de meninice de viajar pelo mundo, também à semelhança dos de salvar o mundo, e tudo por me ter apercebido que nada disso vale a pena, nada na viagem vale a pena se não estivermos bem connosco mesmos. Podemos viajar quilómetros e na bagagem levaremos os mesmos fantasmas que insistirão em aflorar quando menos esperarmos. E depois vi isso nos outros, tantos que partiram pelo mundo e meio repartidos como já eram, mas que nunca ficaram completos.

De que serve o mundo inteiro e mais algum pedaço do universo, se tudo o que precisamos está dentro de nós? O amor íntegro e maior, a paz que ele alcança e emana. Quase ninguém sabe o que isso é, embora nestes tempos até já haja universidades muito especiais que o leccionam. Sim, a viagem é o que importa, mas não a externa, pois a viagem mais enriquecedora está sempre dentro de nós.

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