quinta-feira, setembro 29, 2011

«Mutatis mutandis»

Os meus olhos não estão mais pequenos,
apenas a pele que os envolve está cada vez mais preguiçosa,
pois o sangue já não é bombeado com a pujança de outrora
pelas artérias da cervical.

As sobrancelhas não estão mais felpudas,
apenas descaem porque passaram demasiados anos sem dormir.

A pequena criatura que me visita muito raramente, sempre tão ternurenta,
deixa-me agora, só, com a minha esgotada tristeza.
E o meu rosto, apesar de já não estar empalidecido, ainda espelha as escoriações da minha alma.

Vigora a lei da inércia e eu, corpo pequeno,
daqui a uns anos suplantado pela pequena criatura,
tenho sofrido pela força do que me rodeia.

Na linha do tempo foge a Vida, como um passageiro num comboio,
sem ter tido a coragem de mudar de carruagem ou de sair numa qualquer estação
antes de chegar ao seu desconhecido destino.

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