sexta-feira, dezembro 28, 2012

Morro e ninguém ouve...
chega a ser engraçado
como ninguém vê que estou a morrer;
queria mandar a cabeça para trás
e apenas nada mais ver senão estrelas
e punhados de pó de estrelas de prata
como se se tratasse de toda a Via-Láctea.

É doloroso ver gargalhadas e cheirar alegrias
que não passam de ignorância...
e dizê-lo também dói, fere e custa:
é a verdade que é bruta e carniceira,
que arranca esperanças e lembranças
outrora cheias de raios diamantíferos
do mesmo sol em volta do qual voámos,
e agora, agora já não há nada perfeito,
não há nada eterno nesta crueza mortal
que é a vida da qual a morte faz parte.

E pensar poder dizê-lo...?

Rasgando o rosto em chamas que cortam
lágrimas que desenhei num drama antigo
e que agora passam a protagonistas
no mais intenso e mórbido cenário.
Não, não há trovão que ruge assim
e se há, nunca foi nem será o meu decerto,
porque não sou Neptuno mas sim...
Estrela-do-Mar que se abriga frágil
no leito divino e paterno do oceano
e só ao mar obedeço e sou fiel,
porque é só ele que sabe quem sou,
quem possuo e quem me possui
do início e até a este fim que chega perto
e avança com uma rapidez peremptória.

E todas as histórias têm fim
nem que seja por não terem continuidade.
Esta minha história não tem um sonho,
só a realidade que a faz terminar
e que é o que não me deixa começar.

Escrito a 31-10-97 (txt original discorrido em verso mas sem parágrafos de estrofes)


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