Wednesday, March 06, 2024

Apaixonar-me por quem não existe afinal

 Apaixonei-me por alguém que eu pensava que me amava também e que cantava para mim e se preocupava comigo, alguém maior que tudo, mas fui informada por ele que não era assim, pelo contrário, ele inclusive apenas me viu como invasora chata, etc. A minha parte racional, que sempre foi maior devido à prática de observação e análise desde pequenina, levou-me depois de muito tempo de destrinçar da confusão da paixão, a admitir por lógica-dedutiva que tinha me apaixonado de facto. Mas a minha parte emocional foi de tal maneira assoberbadora, que me fez ficar completamente sem conseguir sequer verbalizá-lo durante esse imenso tempo de tão intenso que o sentimento é. 

Sabemos que pela impossibilidade de nos conhecermos bastante bem uns aos outros, ninguém, ou quase ninguém, pode apaixonar-se por alguém verdadeiro. Porém, há factores distintivos: se uma pessoa conhece muitos aspetos da outra e da sua personalidade durante muito tempo, é provável que esteja apaixonada por essa pessoa mesmo, há menos probabilidade de não ser por essa pessoa mesmo. Devo, portanto, inferir que uma pessoa pode sim apaixonar-se por outra se tiver tido conhecimento da maioria dos aspectos que a definem e a fazem como pessoa. Embora, se houver um só pormenor que depois se torne mais pesado com o tempo, determinante para o que se conhece de alguém, aí também se estraga tudo (como também já me aconteceu descobrir de alguém numa relação anterior). 

Pronto, tudo isto só para voltar à conclusão de que de facto ninguém se apaixona mesmo por aquela pessoa, por que simplesmente não a conhece por inteiro (pois é impossível, parece-me). Aquela coisa de raramente se conectar mesmo e também se conhecer a essência, é porque de resto, tudo é mutável desde que se é criança. 

O que me leva a crer então que eu apaixonei-me pela criança que eles foram e os resquícios entranhados neles. Faz sentido, visto que afinal não há nada mais belo no ser humano do que a pureza de quando se é ainda criança.

(De qualquer forma, apaixonar-se - tal como qualquer outro sentimento que se tem em relação a uma pessoa - diz sempre mais sobre a própria pessoa do que tanto pelo o que a outra é)

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