quarta-feira, maio 21, 2025

 Um amor zarolho
Que errou o alvo
Chora sobre o leite 
e o mel
derramado
Corre em direcção 
À luz no túnel 
Sabe que é 
um combóio vindo
E que este jogo
está acabado 
 Nada do que faço 
É o que sou
Senão uns pedacitos
Que é o que restou
Do meu embaraço 
De te ter amado
Só aos pouquitos

terça-feira, maio 20, 2025

Que eu nunca esqueça

 Que eu nunca esqueça todo o mal que me fizeste e todo o sofrimento que me causaste tantas vezes, dilacerando o meu coração e destroçando o meu corpo. 

Que eu nunca esqueça quantas vezes me quiseste matar. 

Que eu nunca esqueça o quanto debochaste de mim com os teus amigos.

Que eu nunca esqueça o quanto me mentiste e enganaste. 

Que eu nunca esqueça como disseste que ias ajudar-me e depois me abandonaste. 

O pior é que isto dá para todos vocês. E eu preciso de me lembrar antes que acabe de novo a perdoar só para me fazeres a mesma coisa outra vez.

 Escreve-me uma carta de 7 páginas 
Nem uma a mais nem a menos
O mesmo número de páginas 
Que Sabino pediu a Lispector 
O número favorito do nosso tio
Um número dito divino 
O da criação 
Não na nossa religião 
Mas duração de ambos amores 
Antes de ti, meu inexistente e eterno 

 Muitas vezes vi e ouvi "tudo passa". 

Hoje pensei depois de ter visto um poema bonito de um amigo que o tinha feito para a sua namorada da altura: "tudo passa porque as pessoas deixam passar". 

Até mesmo quando não queriam ter deixado. 

Eu, ao contrário, nunca achei que fosse bem assim como diz a frase e quase sempre acrescentava mentalmente "nem que seja com a morte". 

É que na verdade, não só por detestar "frases feitas" e o seu carácter taxativo, eu sou alguém que é acometido de males profundos desde a infância e sabe que só terão solução final. Aí sim terminarão. 

segunda-feira, maio 19, 2025

Não sei se alguma vez vou conseguir dar o salto. 

Decência humana

 verdade, fragilidade, ética, justiça, coragem, bonomia

Clica aqui, clica ali

 Clica aqui, clica ali
Mas não fez clique
Nem na cabeça 
Nem no coração 

Quando entenderás
Que ele é teu irmão
Que ele sente como tu
E também só quer
Uma distração?

Clica aqui, clica ali
Reencaminha o mail
Ou é melhor o link
E não te esqueças 
Podes enviar um gif
Mas não te aborreças
Se eu te enviar reels

Quando entenderás 
Que ele tem família 
Bem doida como a tua 
Que ele gosta de sol
E mais de olhar a lua
É igual a ti nisso tudo
E que a lista continua?

Clica aqui, clica ali
É só mais um anúncio 
Que nem vais reter
Mas fica no teu inconsciente 
Tudo o que te tentam vender 



 Escrevo não enigmas mas reflexões com poesia.

domingo, maio 18, 2025

Rito

 Derramada a nostalgia dos dias idos
Nas palmas das minhas mãos 
Onde apesar de tudo ser sofrido 
O amor não sentia solidão 
Elevei o meu ouvido 
Fui bater um ritmo a contramão 
Surgiu aflito um zumbido 
Não um eco nem um grito
A tua voz a dar-me um sermão 
Ru já não sei qual era o rito
Mas foste o padre p'ró meu caixão 

sábado, maio 17, 2025

Sociedade do Descompromisso *

Ama mas não diz
Nem sequer demonstra
Sente falta mas não 
É melhor a se distrair 
Força-se a esquecer
A desfocar, a empreender
Diversão mas não é feliz 
Vai brincando como fogo
Toca, queima e foge
Não prioriza ninguém 
Raramente ressurge 
Só o suficiente para ser
Visto como vivo e bem
Não se fragiliza
Não se agiliza
Para se vulnerabilizar
Há que abrir
Expor a ferida
Mas só conhece falsidade 
Falso ele é de verdade 
Mas nunca tem coragem 
Para enfrentar a saudade 

*título inspirado pela nova música cinematográfica do jovem músico brasileiro Zé Ibarra, "Transe", sobre 'ghosting'. 
 e eu que quis tudo
e não tive nada
agarrei-me à madrugada 
porque dormir
era ter pesadelos com o nada
e com tudo de horrível 
a me alcançar 
 Tanto ele é como eu
Como eu sou como ele
Sol e lua
Conforme

 arghhh, ainda estás nas minhas veias 😐😩💔🤦🏽🤷🏽

Lua, lua, lua

 Há quem queira pisar na Lua
E há quem já se sinta dela.

Lua

 É verdade
Briguei contigo de novo
Fizeste-me de tolo
Enchendo-me de saudade
Só para eu não deixar de amar

Eu só queria a minha liberdade 
Gostei mas não gostei de gostar
Já devia saber com esta idade
Que quem ama acaba-se a se danar
Ó vilã que nos viste os tempos
Ó malvada atração brilhante 
Tu que brincas com os sentimentos 
E só estás plena num instante 

Há-de haver o dia em que te esquecerei
Vais ver, hei-de conseguir, tanto lutei

Entretanto tu vais rindo
Com esse teu riso de Cheshire 
Que sempre acaba por seduzir
A verdade verdadeira 
É que nunca pude fugir

Porque todo ele é lindo
Todo o tempo, dia inteiro 
Para não falar da noite
Cada riso é um açoite 
Eu que só o quis verdadeiro 
Vê-lo feliz é o melhor do mundo 


sexta-feira, maio 16, 2025

 'q estranha forma de vida tem este meu coração', 'por uma lágrima tua me deixaria matar' 

canto para não morrer cá dentro 

aguentas tocar aquela memória, nem é com as pontas dos dedos sequer, é com o olhar quase lá? 

eu, cada vez que caio nesse gesto, quase desmorono. tudo outra vez. quase. 

 iconoclasta até de mim que não sou nenhum ícone. abaixo a monarquia, longa vida aos vagabundos charlot.

 no dia em que eu parar 
de ter o ímpeto 
de ir à janela olhar
para ver se está lá 
a lua
quando me lembro 
de nós 
é o dia em que estarei
integralmente 
livre de ti

quinta-feira, maio 15, 2025

Premissa básica da crença

 Acreditar implica à partida haver algo que não existe e, daí, a necessidade da crença. 

 O chão que tu pisas
 já foi água 
já foi lava
os braços onde te abrigas
são nada
pois tu já me tiveste
de todas as formas 
quando ela pôs o vestido azul
e foi a um casamento sem ti
quando ela mandou em ti
e tu apenas te riste
quando outros olhavam-na
e logo disfarçavam
e tu apenas viste
mas a verdade é que 
eu nunca fui nenhuma delas
nem sou assim
nem nunca serei

quarta-feira, maio 14, 2025

 a mágoa da água quando fura a pedra 

 Nós, os que tivemos de ser fortes, dizemo-nos que só quem desiste é que perde. 

Nós, os que somos fracos, dizemo-nos que há grande força em saber quando desistir. 

 O truque é não querer nada; o que vier, está de bom tamanho. 

 O desejo, foi o que restou. 

Sonhos

 De todos os sonhos que tive
Os mais bonitos foram contigo 
Tu a chegares e a pairares
Tu numa explosão de luz
E um quentinho tão bom
Tu a sorrires de novo 
Tu a acompanhares-me
Pois afinal foste sempre tu
Mesmo quando eu não sabia
Qual era mesmo o teu rosto

terça-feira, maio 13, 2025

 Acho que finalmente acabou. Nem forçar-me a lembrar do teu rosto naquela fotografia faz recuperar a certeza. A realidade fala mais alto. É triste, mas finalmente acho que aceitei o que era óbvio desde o início: esse destino malfadado que foi o que tinha de ser. 

segunda-feira, maio 12, 2025

 ainda dói tanto ter-te perdido, meu menino ", chorando com a versão do movimento dos barcos de Salvador Sobral.

 Talvez as feridas mais fundas não deixem as cicatrizes mais feias...

Nós nunca fomos iguais

 Tu tens uma força de vida 
De fazer acontecer tudo
Que eu já não tenho há anos
Verdade, só tenho danos
Concluo que tudo é inútil 
Ou que está muito errado
Espero a minha despedida 
Sei que tu não estás enganado 

Tu e eu nunca fomos iguais 
Não me refiro aos demais 
Mas a ti e a mim que éramos totais

Eu vejo tudo à minha volta 
E não consigo mais rir das coisas 
Porque sei que é doentio
E nada quero de programado
De condicionado e pré-destinado
Com ilusões de que faço eu

Nada fiz que não compactuar
Mais ainda com tudo o que existe 
E que é sobejamente triste
Mesmo que enfeitado a euforia 
Eu desisti há muito da correria 

Tu criaste o teu agradável mundo 
E dá-me uma bela paz ver-te bem
Porque ao menos assim em paz
Eu também não me perturbo
O que diz muito sobre nós no fundo 
E sobre o que é ser mesmo feliz 

Eu não tenho nada para isso
Mas estar em paz seria a felicidade
Por isso vou observando os outros 
E vendo como conseguiram 
Ou pelo menos inventaram
E a todos e a si mesmos enganaram

Eu não seria capaz de nada
Nem provavelmente desse doce engano
Sei que não fui talhada para viver
Não aqui neste mundo a valer
Sempre me deixei ser abandonada 
Talvez por isso de não merecer

Democraticamente desisti de tudo
Porque tudo desistiu de mim
Pois este não é em quase nada o mundo
Em que eu me reconheci 

(ao som de Katachi - Daigo Hanada)

sábado, maio 10, 2025

 PESSOA COM PRINCÍPIOS (não muitos começos), MEIOS (nunca tive condições) e Fim (o que virá primeiro não sei, se fim ou propósito). 

Quem sou eu

 Frágil pequena figura 
Que sempre teve vida dura
E todos se metem com a criatura 
De deus, dos deuses, do diabo
De ninguém 
Ela vive com a cabeça além 
E o coração cheio de ternura
Rodeada de falsidade e mentira 
Baleada com a raridade da doçura 
Que conheceu muito aquém 
Do expectável nesta loucura 

 Se houvesse homens que parassem de tratar mulheres como se só servissem para satisfazer os seus apetites, talvez as mulheres quisessem de facto fazê-lo. 🤔 #respectjustalittlebitr-e-s-p-e-c-t 

Desgraça sem graça

 Fiz do teu ser
o mais perfeito 
o mais intrépido 
e responsável 
o mais querido
e mais amável

Tomei-te como és
vilão só para nós 
mocinho de seus avós 
menino a lés
e que me deu com os pés
graça na minha desgraça 

O teu irmão antecipou-se
sempre foi mais afobado
e talvez mais corajoso 
tão simpático e carinhoso 
romântico e com garbo
aceitei o que me trouxe 

Tão inocentes que foram 
já há muito que não o são 
e eu que sou só amor
sempre falo com coração 
e deixo-me ir sem vazão 

Não há nada no entanto 
que eu sinta ser maior 
que o sentimento que tenho
por ti meu eterno amor 
vivo para o dia que termine
toda esta minha grande dor

As coisas puras 
que moram em ti
têm ninho 
estão resguardadas
e são felizes 
como o canto alegre
dos pássaros matinais
mesmo os que não voltam mais 


sexta-feira, maio 09, 2025

Não há curas grátis

 Diz que para haver cura é preciso haver lembrança, luto e só depois pode haver o perdão. 

Como é tudo fraco e traumatizado ninguém quer lembrar e enfrentar as memórias, por isso nunca poderá haver o perdão. 

Eu sempre tive compaixão e isso para mim não foi sempre uma boa solução.

Decisão

 Decidi! 

Declaro que das tuas expressões a que eu mais gosto é a de quando te emocionas um bocado:

O teu olhar fica um pouco molhado, só o suficiente para brilhar e o teu sorriso é complacente, tão terno o semblante do teu rosto, quase que podia adivinhar de seguida uma derretida caída do teu tronco no meu colo. Nunca porias a tua cabeça no meu colo - como ele fez tão pronta e despojadamente, carinhoso -, mas é daquelas coisas que poderia ser tudo o que eu mais queria; ter a tua cabeça aninhada no meu colo com o ninho lindo dos caracóis do teu cabelo, dividindo eu as suas mechas pelos meus dedos. O que eu mais queria. Esse calor, esse afagamento, essa dádiva da entrega pura de quem chega a casa e se joga e estira na cama. 

Essa tua expressão é a coisa mais linda, como se tu dissesses que não há coisa mais linda do que a que estavas a olhar. Eu acredito, de cada vez, mesmo quando é porque ela te faz feliz. Tudo está como tinha de ser, como precisava que fosse. Dizem que as nossas almas foram feitas para ajudarmo-nos um ao outro a aprender e evoluir. Eu sofri muito. Tu também. "Evoluímos", se isso se pode chamar de evolução. Acho que nem tu nem eu somos muito a favor dessas ideias de que é preciso sofrer para aprender. Mas a verdade é que do sofrimento conseguimos tirar lições e aprendemos a não mais iludir os nossos corações. Não é? Vai-se ver. 

"Eu amo-te! Não esquece."

Morta e mortífera

 Nada do que escrevo
Sei por que escrevo
Senão impelida 
Por um impulso 
Meio escancarado
Meio urgente 
Meio em segredo 
Morta e mortífera 
Às vezes tenho medo
Mataram-me mil vezes
Matei umas poucas 
Mas nada do que fui
Nem nada do que sou
Alguma vez foi lei
Pois sou de deixar tudo
Acontecer e sobreviver 
Amiúde 
Para raramente viver

quinta-feira, maio 08, 2025

Coração de plástico

 Tens plástico no coração 
Mas ele não é tão elástico 
Quanto pensas que foi

O amor já não é fantástico 
Ele agora apenas dói
E não há quem lhe tenha mão 

Tens um coração de plástico 
Desde quando não sei dizer
Com tamanha exactidão 
O dia em que foi acontecer

Mas talvez tenha sido de noite
Naquele momento de solidão 
Que percebeste que a raiva 
O ódio e a gastura explodiam
E já não havia senão 

Apenas eu senti a amargura 
Da tua esperada decisão 
Que forcei com substância dura
Pior do que plástico 
Acredita 
Em que já tinhas tornado 
O meu pobre e derrotado coração 

-  Está tudo bem. 

- Não, não está. 

Está na hora de tudo ficar bem. pode ser agora?

 Matámo-nos
Só para renascermos
Do amor ao ódio
Foi um instante 
Mas foi tanto 

Estou farta desta guerra
Desta paz podre

Fomos do pior
Que nos aconteceu 

E no entanto 
O amor foi tanto
Tudo em nós morreu 
Mas nada faleceu

Não há ninguém 
Que possa ter
O que nos deu

Nem ele nem eu
Só nós sabemos 
Muito dentro


Falsidade

 Há um mundo em que tudo é falso:
o loiro dos cabelos, o rabo quase inteiro 
a boca que é feita de pedaço dele
as perucas e tudo custa muito dinheiro 
as terminações e fazem "harmonizações"
e nem falo das mentes com os corações 
porque eles gostam delas queridas
mas sonsas cobras ardilosas mandonas 
embora bastante básicas 
e elas gostam deles feios mas bonitos
ou bonitos feios já ninguém sabe mesmo 
tal é a distorção e o objectivo 
que é só o tamanho da angariação 
e eu continuo a ouvir a guerra dos sexos 
sabendo que em todos os géneros 
a falsidade da humanidade é o que vale

 De todas as pessoas que amei, ninguém me tem presa todos os dias como D. G. P. , esses três estão dentro de mim de uma maneira que eu nunca entenderei. 

Hoje soube de uma morte de uma pessoa (um chef de cozinha) de quem eu gostava e fiquei triste de novo. A lembrança da morte sempre nos deixa sem Norte. 

terça-feira, maio 06, 2025

 nunca estar com quem não possas ser tu mesmo.

 O grotesco e vil do Homem 
Reside no sexo
Na violência 
De uma forma tal
Que destrói tudo
Não deixa espaço 
Para nada de bom

Vampirados

 Reina o ódio, o terror, o horror
Já não há espaço para o amor
E eu que não sei viver neste mundo 
Olho para o seu semblante hediondo
Procuro uma réstia de algo profundo 
Não vejo senão tudo à volta imundo 
E num grito mudo rasgo a garganta 
Decepo as mãos, cravo uma estaca 
Mesmo no meio do coração 

Destino

 Nunca me rendi à ideia de que houvesse uma pré-destinação e talvez por isso tenha pagado preços altos. Mas tu vieste só para me mostrar de novo que não há destino, pelo menos nada de bom, a não ser como dizem de mau karma. 

segunda-feira, maio 05, 2025

Enterrados

 Não te preocupes: toda a gente morre com assuntos por resolver, mesmo o que não têm isso presente, nem que seja pelo facto de que ainda temos de ser enterrados (figurativa e literalmente). 

Metamorfose

 Tornou o ódio em fé
O líquido em sólido 
O avanço em marcha ré
O certo em estólido

Agarrou com os pés 
O que era das mãos 
Parou de lés a lés
Vingou-se nos nãos 

Apanhou sono 
Deixou as febres
Ouviu tudo em mono
Deixou de ser lebre

Nunca foi borboleta 
Não tem dejà-vu
Larga o que espoleta
Permanece nu


 neste "cantinho à beira-mar plantado" à espera de um sonho acabado. 

sábado, maio 03, 2025

Música do silêncio

 Depois de anos a ouvir o Vidro Azul e passar a vida à espera de escutar a música do silêncio, e hoje começar a descobrir Clara Peya e o seu magnífico álbum Solilòquia, apercebo-me de que os melhores músicos de todos os tempos serão aqueles que conseguem escutar o silêncio e reproduzi-lo para os outros. Alguns tentaram ao longo do tempo. 

Cantigas de Nanar (ou de danar 😅)

 Coisa que não devia ter feito e que não aguentei e parei a meio: ouvir álbum de boleros da Nana. 💔☠️

sexta-feira, maio 02, 2025

Paz

 Roubámo-nos a Paz
Que foi o que sempre quis mais
E nunca tive senão ilusoriamente 
Num ou outro momento 
Nuns braços nunca iguais 

Eu sei que somos capazes 
De ter essa paz juntos
Pois tudo o resto foi ego
Qual defesa de um cego

Agora que somos sagazes
De sentimentos profundos 
Podemos ter a nossa Paz
Aquela que não tem oposto
 Quem sorri é a boca
No entanto os teus olhos
Sempre sorriram
Quando me viam
Ou ao meu nome ali
E tudo o que me diziam 
Nunca teve um fim