De vez em quando espirro, outras endireito as costas, e por minutos, poucos,
consigo manter uma postura de uma certa altivez.
Mas lentamente, com a mesma inércia de quem está dentro de um autocarro e chega a um destino sem se mover, e sem saber como se chegou, torno a ficar encurvado, como quem carrega um mundo indiferente nas costas.
A minha estrada - há quem lhe chame caminho -, é recta, ladeada por funestos chorões, e a sua perspectiva fá-la terminar apenas no horizonte.
Havia quem dissesse em tempos, que eu era um maníaco do controlo. Não me parece que hoje controle o meu nada ou tenha controlado a minha vida para chegar a este nada e mantê-lo assim.
Não é alguma coisa, de muito interessante, este meu nada? Não me parece que careça de manutenção sequer. Talvez seja o puro nihilismo que teóricos sempre procuraram alcançar. O nada que, para variar, não é tudo.
Visivelmente, há marcas de uma aventura passada, em que havia alguém - no final, no derradeiro fim de tudo, só ela permanece, só ela conta para alguma coisa -, em quem acreditei. Gostei dela como se gosta de um animal de estimação, um companheiro que morre ao fim de uns anos de simples afecto. Cheguei rapidamente à conclusão de que somos sós; de que não há quem nos aplaque a dor da consciência, eu pelo menos não tive a sorte de encontrar essa pessoa, de quem ouvi contar de apenas de uma pessoa, que é como se fosse nós fora de nós e que está sempre dentro de nós. Complexo e daí algo confuso, não? Para quem estava talhado para o nada, eu certamente não serviria, não seria merecedor de encontrar essa pessoa assim tão mágica.
Por isso, também não posso dizer que no meu fim estará ela, contará apenas ela, pois nunca existiu mais ninguém.
Este meu nada é um acumular de solitude num icebergue monumental.
São poucos os momentos em que o pesar me vem delapidar o sono ou o respirar. Há muito que não há sentido qualquer - num círculo nunca o há, ou se há, é apenas em si mesmo, numa tautologia da forma -, nesta existência de solidão.
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