Sunday, April 04, 2010

A morte é uma lenta escrita...

Na maior parte das vezes, durante toda a minha escrita, tinha assunto suficiente para usar as folhas de papel na íntegra. E tudo tinha sempre um título, por mais que eu não o indicasse nos textos que discorria.
Agora tenho a sensação de que, de cada vez que me socorri através da escrita, de cada vez em que tudo era demasiado e a inspiração não faltava, houve algo em mim que eu matei, apunhalando-o pela frente com a caneta bem afiada. A pessoa que eu sou já morreu muitas vezes: sempre que quis que a minha existência terminasse, e sempre que dei por mim a continuar.
Pensei que houvesse muitas pessoas como eu, que sofriam de males corrosivos, mas quase invisíveis, e expiavam-nos através da escrita numa lenta dança para entreter a morte.

Nada restará de nós, no entanto. Todas as palavras que dissemos foram sugadas pelo negro vácuo do esquecimento. Assistimos impotentes à sua fatalidade e não nos mexemos, paralisamos perante os seus longos braços de tinta correctora. Não soubemos, jamais, lutar contra os desígnios que nos eram apresentados, apenas escrevemos porque não conseguimos dar sentido a nada.
Exercício vão? Não, não me parece. Transpira-se luz na tinta que modelamos sobre as linhas ténues no papel. Mais ainda, transpira-se a vida de quem não viveu.

3 comments:

Anonymous said...

olá sónia. tive um tempinho e como nao tou muito cansado vim aqui ver de ti, e dos teus textos, li bem o antrior e adorei. este ta mt fx tb, alias fez pensar em mim, e cm as vezes me sinto morto, pelo menos literariamente morto, em que tudo o que penso nao se transforma em textos, mas as palavras tao ca, presas por umas algemas magicas, presas ao meu coração e ao meu cerbro, e eu penso nelas, é certo, e formo os textos que o meu coração via ditado na minha memoria e ai ficam dolorosamente ate se perdem. fez-me lembrar como tou morto sentimentalmente, cm nao acredito no amor, cm ja te tinha dito, cm tou morto ao axar k apenas algumas, poucas coisas sao dignas de vida. e morto de tantas e varias maneiras que ficaria infinitamente a escrever para ti sobre elas, apenas para ti. nao para mais ninguem, escrever nao, talvez falar, divagar sem fim pela noite fora ao seu de um bom jazz a nivel ambiente, e ouvir as tuas maneiras e escritos. bem axo k ja divaguei demais. espero que continues a fazer-me sentir assim, a fazer-me ver nos teus textos, e fazer com que o meu coração transborde alegria por tal maravilha. poucas coisas que valem a pena ter vida, e esta é uma delas. beijinho João.

Ruben Rodrigues said...

gostei muito do que escreveste :P

Sónia Costa Campos said...

Olá João,
entendo o que dizes sobre os textos perdidos, também me custa vê-los irem-se por falta de uma máquina que os transfira directamente do pensamento para o papel, numa de psicografia como Pessoa tão bem inventou a palavra.
De facto, uma das melhores coisas é poder ter momentos de chill-out em sintonia com amigos. costumava ter bastantes assim, há muito tempo.

Não sei se pretendias que não publicasse o teu comentário, mas quis que soubesses que li, e se por acaso alguma vez não quiseres que esteja aqui publicado (tb não deve haver quase ninguém a ler) dizes-me no comentário para eu não publicar, ok?

O amor é só uma das coisas que existe na vida e consegue ser bastante intenso, arrasador, salvador até; é provavelmente uma questão da importância que lhe damos. Com o tempo fui descobrindo que existem muitas coisas, por mais pequenas, belas no mundo e que compensam muita da fealdade provocada frequentemente pelo ser humano.

Chegando a um meio termo, a uma mediania, reflectindo sobre tudo o que observamos, talvez um dia consigamos todos ter um equilíbrio sentimental, permitirmo-nos tal iluminação.
Agradeço-te as doces palavras (que demonstram que os teus sentimentos existem) que me fazem sentir muito melhor por escrevê-las desde que apareceste por aqui, também para ti, já que elas activam bons sentimentos em ti.
obrigada eu pela benesse. :) bjs