Sunday, October 10, 2010

Poema das cinzas

Há uma certa melancolia em saber que nada tem grande sentido. Por vezes, também se sente um alívio por se saber que nada realmente importa. É apenas um pensamento para dois poemas, como um concerto para dois pianos. A sinfonia dos velhos alinhados à beira da cova onde fazem descer um caixão negro de patina brilhante, todos eles simplesmente à espera da sua vez.
A dor que sinto é tão grande que dilacera tudo o resto que o meu coração albergou. Sensações cálidas que o aqueciam, são agora dissipadas como as cinzas mortais espalhadas e tornadas invisíveis pelo vento da tormenta. Preciso que alguém me guarde, como um ente amado faz com os restos mortais cinzentos que conserva num pequeno recipiente. Hoje e antes, o meu corpo fora sempre a urna onde se esconderam os meus fracassos e vazios. Apenas uma colecção de cinzas, apenas isso...

2 comments:

Paulo Assim said...

E Fénix, onde pára?

Sónia Costa Campos said...

Bem visto, obrigada por me lembrares. Acho que neste não havia mesmo espaço para renascer. É "preciso que alguém me guarde" as cinzas, as contenha, as impeça de se dissiparem para um dia mais tarde renascer. É, faz sentido. :)