sábado, junho 30, 2012

Matar ou morrer

Um rosto afundado nas brumas da tristeza,
que arrasta consigo um corpo vítima da gravidade,
esta, que com os seus braços lânguidos
severamente o castiga
condenando-o a arrastar-se  pela Terra.

E de vez em vez, o ódio e a raiva como injecção letal
influem-se no corpo exangue
tomam conta dos braços agora entesados
e até os pés tendem a suplantar o corpo.

É nessas horas que se pode matar ou morrer.
É nesses momentos que o sibilo da víbora soa,
pérfido nos ouvidos, despertando as imagens
violentas e repetidas como ataques infligidos
à alma atormentada pelas memórias
do que nos fizeram.

E o que nos fizeram jamais sai de nós
e surge como em relâmpagos
repentinamente, sem aviso,
à menor escuridão no horizonte.




terça-feira, junho 19, 2012

Não há diferença

As minhas mãos não estão muito diferentes
de quando te deixei no quarto escuro
com a penumbra a envolver-te o corpo
mas não fui capaz e voltei a ver-te.

Os meus cabelos não estão muito diferentes
de quando passeávamos de mãos dadas
e o vento os percorria como invisíveis dedos,
mas não fui capaz de derrotar os velhos medos.

O meu rosto não está muito diferente
de quando visitavas as memórias doces e amargas
apenas de olhá-lo nos olhos
mas não fui capaz e reduzi-as a escolhos.

O meu corpo não está muito diferente
de quando te deitavas a meu lado
e mo acariciavas durante lânguido tempo
mas não fui capaz e perdi o momento.

quarta-feira, junho 13, 2012

Acredito que alguns de nós somos mais tudo aquilo que aconteceu antes de virmos ao mundo, todas as histórias que as pessoas que nasceram antes de nós viveram, do que propriamente o que nos acontece depois de existirmos.


É como com os cabelos brancos, que quando caem, ou são arrancados, já tinham outros cabelos à espera de crescerem no lugar deles. Somos essa rede, mais ou menos desgrenhada, esse emaranhado de cabelos, que gradualmente envelhece e decai para dar lugar aos novos.

domingo, junho 10, 2012

Perspectiva

Podemos ter opinião sobre várias matérias sem termos lido sobre elas, porém só obtemos perspectiva quando nos informamos sobre o que várias outras pessoas dizem essas várias matérias.

Aí podemos juntar a nossa visão ao conglomerado opinionista apesar de não valer em nada para a matéria em questão.

quinta-feira, junho 07, 2012

” Não é sinal de saúde estar bem ajustado a uma sociedade profundamente doente”
Krishnamurti


Por isso é que... enfim... para mim é óbvio e não entendo como é que as pessoas não vêem em que Mundo é que estamos, que Mundo criámos e aquilo em que nos tornámos.

Ligado a isto: http://crypticpoetry.blogspot.pt/2012/04/reasons-by-images-to-not-have-children.html

terça-feira, junho 05, 2012

Psico-traumatismo

Proferia ameaças embebidas em álcool, infantilidade, pura estupidez humana...

De certa vez, sempre em descontrolo e em absoluta falta de senso, abriu a porta do carro e saiu... estava o carro a 90 kms à hora pela avenida da liberdade... irónico, não? Mas não era aquilo liberdade, mas antes um acto completamente prisioneiro de um desespero agreste, típico da frustração humana acumulada durante décadas.

Doutra vez, recordo-me da imagem, bebeu álcool etílico, não sei bem porquê, confesso. Mas imagino que a quantidade não tenha sido muita.

Houve uma outra vez, num tempo mais antigo, em que eu consigo até visualizar-me fora do meu corpo pequeno, e vi, uma das muitas vezes que se seguiriam, sair a dizer que se ia matar. Usava sempre este termo e nunca que se ía suicidar. Imagino que este último seja demasiado sofisticado para quem profere esse tipo de coisas.

O amor que supostamente é incondicional e que pensamos nunca ter fim perde-se com o acumular de desiludidas ameaças. Suponho eu.