Tudo ficou de um azul-cinza claro
e na minha boca um travo amargo,
é o final de mais um dia no mundo
e a paisagem pontilhada de focos-laranja
anuncia o sentimento outonal do vento calmo.
Retalhei os fios de cabelo que choram à despedida
desfiam-se pelo chão durante estas semanas
porque estão cansados mas ainda anseiam renovação.
O renascimento que não vem,
o renascimento difícil,
a vida em pausa antes de um último esforço.
As andorinhas inexistentes e as cigarras caladas,
os ramos que estáticos murmuram algo ao vento
e eu não vejo qualquer esperança para o sol,
já não lhe vejo o alento.
Amanhã tudo estará igual em lento esmorecer
e depois disso também, um dia de vida
a equivaler um dia de morte,
como em todos os dias que ninguém vê.
Os focos-laranja artificiais parecem-me agora
de beleza extraordinária, como a dos pôr-de sóis
que vi outrora, com raios de luz mágica e moribunda,
mas que deixavam nos nossos corpos a sensação
de que renasceriam quais fénix, dia-após-dia,
para um espectáculo dissonante.
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