Sempre tive relações temporárias com o mundo
e soube apagar logo a informação desnecessária,
porém o que resta no hotel da memória
não é agradável de se habitar,
mas necessário para não se repetir.
Como se pudesse controlar totalmente!
O mundo lá fora corre e eu sossegada
no tumulto da minha prisão e ostracismo
como nenhuma outra jovem mulher
construiu a sua solidão e o seu pensamento.
No meu quarto, os 36 espelhos que já nada me gritam
apenas acompanham a minha inexistência
como espíritos inertes, estátuas de quem fui.
Transfiro a dor em palavras
que a expiam temporariamente,
mas quem as lesse todas,
não conseguiria ver um décimo de quem fui.
As muralhas que o meu corpo ergueu
não se comparam às fortificações consequentes na mente:
a auto-imunidade de quem morreu a cada batalha
e teve que à força da vida ressuscitar
para continuar a guerra.
Os pacíficos, idealistas, como eu,
nunca conseguiram sozinhos as suas vitórias,
mas o meu ser - ariete contra os obstáculos
- não teve claques ou guarnições de apoio;
a solidão foi a minha força, o meu templo e construção.
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