quarta-feira, janeiro 19, 2022

Acordo

 Aquilo que nem foi preciso falarmos sequer
Ficará sempre no nosso olhar
Guardado entre o abismo do pensamento
E o desejo ardente que nos escapou 

Hoje já não gosto dela, vi-a melhor,
Aflorou em mim o que ficou soterrado
Agora sei que afinal dói mesmo
Volta e meia sim, seca a boca e aperta o peito

Seremos eternos como a rosa na campânula
Despetalando-se de dor ano após ano
Entretendo-nos para disfarçar o insuportável
Meu espinho, meu maior amor,

Falas de fé sempre e eu lembro:
Como luziam os teus olhos com a crença
Como por momentos acreditei também
Que sim, que eras tu que tinhas a espada do arcanjo
Conforme clamavas com tanta veemência

Amor meu dos impossíveis, estrela maior, 
Guerreiro furioso contra a luz ofuscante
De uma realidade falsa
Sei que fui eu que também disse
Que assim estava desesperador
Que queria que já arranjasses alguém
Por isso nem vou questionar nada
Até porque não há como o nosso monólito
Intransponível e atemporal

Sosseguemos de novo, para o tempo da delicadeza
Que está menos distante do que já esteve
A nossa doidice bonita durou demais, não é?

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