Quando o passado nos bate à porta, o que fazemos nós? Não abrimos, ignoramos, não nos interessa, ou pelo contrário, vemos que não estamos sós?
Tantas são as pessoas com que nos cruzamos na vida e nunca mais vemos, mas no instante que as tivemos foi o mais intenso que pôde ser. Tantas estórias de amor, poesia e dor. Todas servem aos trovadores quando as cantam depois. A mim, as estórias não serviram de grande coisa senão para sofrer de abandonos e perdas, porque o meu sofrimento é solitário, sempre foi e só pode ser, de mim para mim.
O passado é como aquele visitante que quisemos um dia ver, mas que quando vem não tarda olharmos para o relógio.
Apenas a memória se persistir é que faz a história. Por isso, se nos esquecermos e não nos lembrarmos mais, ele fica bem enterrado no granulado do miolo.
Posso tocá-lo se eu quiser, ir buscá-lo - aconselho pinças, luvas até -, mas nunca será a mesma coisa; é apenas fotografia com manchas amarelecidas da humidade que se fez entretanto, enquanto esteve guardado como se entre páginas de um já antigo livro.
Eu procurei o novo ultimamente, arder na fogueira inusitada e inesperada do presente, deixei-me levar pelo tal fluxo, só para mais uma vez sentir o abandono. Já sabia de antemão, quase que teleguiei tudo, tal como no guião que partilhei antes com alguém. O que eu não antevi foi a intensidade com que me deixei sentir e absorver as coisas. "A razão é rara", já dizia Holmes!
O passado que, tão distante deixei, está a voltar "todo" de novo, uma e outra pessoa, à medida que também me apercebo de que, se calhar, já passou o período de não conseguir voltar, de não conseguir falar, de não me conseguir ligar ou identificar mais com esses antigos intervenientes.
É o ciclo natural dos acontecimentos, deveria também ter eventualmente ponderado sobre isto, mas não era algo que eu realmente quisesse, ou era?
De qualquer maneira, seja passado ou presente, já sempre me canso do futuro.
sexta-feira, abril 22, 2022
Passado
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