quarta-feira, agosto 28, 2024

Sarar

 Tentei curar-me do que nos aconteceu. Sei que não acreditas em cura. Dizem-me que nos prendemos pela culpa. Eu deixo ir a culpa, aprendendo a saná-la ultimamente e mesmo assim não te perdi de mim, ficou só um amor distante; longínquo embora tendo o seu tamanho sempre gigante. 

Afinal foi o que estava querido, que ficasse guardado, bem lá no fundo, dentro, abraçando o peito gentilmente e sem já sufocá-lo. Eu sempre precisei de respirar. Amar-te estava a matar-me. Sim, era uma doce morte mas angustiada e sufocante. Às vezes a vida mostra-nos que não podemos amar. Que aprendemos a amar pessoas difíceis, casos perdidos, pessoas que nunca nos vão tratar como merecemos, que nos amem com dedicação e prioridade. 

Os homens só o fazem quando estão apaixonados. Aí interessam-se tanto que não vêem nada à frente. Até lhes passar. Até seguirem para a próxima novidade. As mulheres têm uma capacidade um tanto diferente de amar verdadeiramente alguém ao ponto de quererem o seu bem acima de tudo. Dizem que isso de abnegação não é amor também. Eu continuo a ver essas diversas formas de amar e relacionar entre as pessoas, sejam de que género sejam, com os mesmos padrões. Nada é amor. São sempre outras coisas. Embora haja um conjunto delas que conflui em amor, há sempre outras formas que não sendo contempladas acabam por fazer sentir que há uma certa incompletude nele. Afinal o amor, seja qual ele for, deveria fazer-se sentir inteiro, sem que falte nada para ele ser amor, sem que ele tenha coisas que o fazem não o ser. 

De qualquer modo, estou em vias de sanar totalmente essa coisa nossa que foi uma máfia em tempos e que agora é só um sentimento quase que como esquecido num canto remoto e absorto. Nada em nós é morto. Só adormecido. "Adeus, amor, adeus, até ao dia em que nos teus braços falte eu"...

(ficaste a dever-me uma música, mesmo que não nos devamos nada)

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