sábado, julho 18, 2009

Gritava contra o vento

O céu fechou-se sobre ela
e ela simplesmente abriu os braços
estendeu-os o máximo que podia
como que a dizer ao tempestuoso céu
«aqui estou, toma-me se quiseres,
leva-me daqui para bem longe,
desfaz o meu corpo,
faz-me deixar de existir,
arranca esta dor de dentro de mim».

Gritava contra o vento,
(como se a sua voz fosse um vento maior)
como quem estivesse a desafiá-lo
para todo o mundo ver
sem se preocupar se alguém ouvia
«É só isso que tens?
É só disso que és capaz?
É só isso que tens para mim?»

Esperava ela obter alguma resposta
Algum resultado nesse pedido gritado
para que lhe fosse expurgada a dor,
o negro fel que tomava conta do interior
e, palpável, crescia-lhe a partir do peito.

O vento cresceu, ergueu-se e atingindo-lhe,
tomou-a envolta nos seus dedos grossos,
lambeu-a e ela sentia-se quase a voar.

Gritou ainda contra o vento, «Sou tua».

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