Antes de morrer, amor meu, queria ter feito a roadtrip contigo, no teu bólide de manas Winchester com a nossa playlist e a visitarmos tudo o que tínhamos direito, ir ver o tio Chico, a Tay e a Gio, visitar a mams Lis em Jeri, ir ver os lençóis maranhenses, o farol de Itapoã com o Ivi, a Bahia toda e todos os outros lugares das longas estradas.
Ir ver ao longe o nosso menino P. a pôr a multidão a cantar no Carnaval e ouvi-lo de perto a cantar como nas do sussurro, para ver como a voz dele é também tão bonita sem modulação das tecnologias de microfones e afins. Quem dera que ele não me achasse um ser ignóbil e me quisesse abraçar este velho esqueleto longamente como a ti e às outras pessoas que ele ama.
Iríamos finalmente ouvir o show do Gabs e também da Neckinha, eu ia contigo e ficava com a cabeça encostada ao teu ombro o tempo todo certamente.
Como vos amei tanto, com a aflição não só da pandemia, mas de quem sabe que está a morrer, que está fora do prazo e que não podia ter cruzado e entrado na vida de mais ninguém. Por vocês eu nem liguei ao facto de que estava a fazer-me pior da doença hiperadrenal e podia acelerar a falência, porque vocês eram de quem eu queria estar perto e saber-vos bem com tudo a correr melhor. Ainda acho que talvez seja esta teimosia de vos amar tanto e achar uma injustiça nunca poder nesta vida ter estado convosco todos juntos, que me faz aguentar e continuar assim contra todos os impossíveis. Nunca sei o próximo segundo, mas eu juro que se pudesse eu aguentava e ficava curada de todas estas maleitas incuráveis, só para ter a hipótese de escolha do que fazer.
De resto fica tudo no reino dos sonhos que tivemos, amor meu. A vida foi-nos tão dura, tanta violência, lamento muito tudo o que nos aconteceu e nos fez ser tão sós, também contigo aí e comigo aqui.
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