quarta-feira, dezembro 28, 2022

 Porque é que a redenção não existe
E mesmo tendo eu te perdoado 
O facto de ela ainda existir
Foi o suficiente para me aperceber
De tudo o que se tinha passado

A verdade é que nunca encontrei 
Alguém que fosse decente
E para uma pessoa como eu
Isso faz toda a diferença

Porque é que o amor é triste
E acaba-se sempre magoado
Quando antes era só sorrir
Hoje já consigo entender
Todo esse meu passado

A verdade é que me ludibriei
Pensando que alguém era meu
Tive tão forte essa crença
E de ser só sua também 

segunda-feira, dezembro 26, 2022

Anaconda

 Desde quando sabes o que é amar
E fazer amor com alguém
Sendo tão completamente louco
De um desejo de consumir o outro
Engoli-lo todo
Como uma espécie de anaconda
Até digeri-lo
Tornando-o fundido contigo?

 Compreender o ritmo do mundo

Escutando a sua engrenagem

Vendo o compasso das ondas

A brisa ondulando as vargens

e tudo sincronizado com o balanço do casulo da rede

 a embalar-me a vista enquanto as nuvens vão passando apressadas

"E o pensamento lá em você

Eu sem você não vivo"

domingo, dezembro 25, 2022

 Lembras-te daquela nossa canção, em que somos irmãos? 

Talvez o tempo

 Talvez haja idades para tudo: tempos em que o nosso cérebro se arrodeia de mistérios e intensidades, ora de singelezas e practicidades. 

Talvez se esqueça mesmo de quase tudo da infância, depois se lembre e oblitere tudo dos trinta aos sessenta. 

Quem sabe e se lembra de tudo o que viveu de importância? 

sábado, dezembro 24, 2022

 Queria dizer-te que te amo.

 Amei-te mais do que tudo
E tenho receio de que dure
Por muito mais tempo
E se for este um carinho
Que é mesmo infinito
Um bem-querer maior
Do que um bem-querer
Que preenche todo o ser
Imagino o que será futuro
Ver-te casar e ter filhos
Como já te vi enamorado
Com aquele ar cego
De embevecido apaixonado
A levar a outra em viagem
E eu a ouvir-te dizer-me
Sem saberes o que me dizias.

Como dói não saber nada
Sobre o que é mesmo
E sobre o que não é
Quando só parece haver 
Como certeza algo forte
Que ultrapassou a morte.

quarta-feira, dezembro 21, 2022

 Talvez tenhas sido a única pessoa que me fez querer viver realmente e na impossibilidade disso acho que chegou a hora de me ir preparando para ter coragem de deixar tudo, pois eu não tenho nada.

Existência obliterada
Rasgada e abandonada
Escorrendo e sangrando
Para o ralo deslizando
É o sangue e a verdade
Amor que fará dez anos
Que deixaste de acreditar
Nele e nos seus danos
Pois não há mais ludibriar


(Para o ano faz dez anos que deixei de acreditar em amor romântico) 

 E se voltássemos atrás?

Ah, mas nós não fazemos "ses"

Era o ano de 2013
e eu quase que abri uma excepção
mas não

Hoje só há uma
a única opção do coração

 Os teus olhos são o único espelho onde vejo a minha beleza.

 Se eu morrer ficas aliviado?

Intocável

 Como o som do silêncio
Como os ruídos do oceano
Como o barulho do vento
Como a casta hindu
Como o que sentiste tu
Como tudo no pensamento

Eu sou 
Tempestade
Intocável

Não somos o que fomos?

 Somos neblina e ausência
Onde somos brilhantina e paciência

Somos matutina e negligência
Onde fomos vespertina e ciência

Somos ritalina e sapiência
Onde fomos concertina e demência

Somos sina e maledicência
Onde fomos estricnina e inteligência

Somos melatonina e inexistência
Onde fomos mina e sobrevivência

 Egos cegos
Solidários com quem
Estão a legos
Mas perto não vêem

terça-feira, dezembro 20, 2022

Kintsugi de mim

Se tudo em mim é teu
Quebrado
Corpo
Coração
Pele e osso
Então
Tu que tens mãos 
D'oiro
Faz agora 
Um kintsugi de mim


(existe outro poema meu mais antigo com mesmo título)

domingo, dezembro 18, 2022

 A crueldade das tuas palavras
Está costurada com essa tua agulha grossa
Perfurando-me as veias e os meus tendőes
Tão rente aos ossos
Que as oiço roçar e arranhá-los
Elas ressoam e reverberam
Em todas as minhas células
E as feridas ganharam infecçőes
Que passo o dia inteiro a tentar lutar
Mas tu e as tuas condenaçőes
Os teus julgamentos e agressőes
Vieram para ficar
Porque as palavras gravaste-as
Na minha pele a ferro e fogo
E na pedra preciosa que foi o meu coração
 Antes de eu partir
Dá-me o teu abraço
E o teu beijo
Para que eu aterre
E depois voe. 

sábado, dezembro 17, 2022

A medida do amor

 Já não sei que medida tem o amor
Se foste ou não o amor da minha vida
Ou se apenas te confiei a mim mesma
Porque estava cansada e exaurida

E depois de tanta morte e dor
Ter um carinho e zelo imensuráveis
Por alguém que nunca gostou de mim
E eu também sem motivos 
Para gostar de alguém tanto assim

Já não sei se o tamanho do gostar
A sua intensidade e desgosto
Se vêem como medida comparável
Para eu dizer que foste tu 
Que eu mais amei até agora

E pior é o tal amor imensurável
Que parece uma condenação
Uma ilusão exagerada do coração
Que na verdade nunca é materializável
Nem nunca se pensou ter 
Por um conjunto de pessoas
Tão grande e tão surreal 

Talvez seja apenas como ela disse
Quando proferiu: nunca conheci
Alguém capaz de amar tantos 
Ao mesmo tempo assim 

Pois se ela soubesse agora
O que diria ela de mim?

P.S.: e o amor que eu sinto por ele que não existe é maior do que tudo, mesmo que ela diga que não é amor

"tal qual o corpo da cidade"

 Já não escuto a tua voz há tanto tempo
E no entanto no pensamento ouço-a
Sempre a começar numa interjeição
Contrariado e como se não valesse a pena
Sequer dizer-me o que quer que seja

Eu fui quem não sou nem era antes
E habitou-me em todos os instantes
Uma angústia no peito que não era meu
Com um coração a bater que era o teu

Eu sou o homem da cidade
Que "manhã cedo acorda e canta"
 Que "manhã cedo ensaia a dança"
"E por amar a liberdade
Com a cidade se levanta"

Somos dois homens nessa cidade
Vociferando uma falsa liberdade
Somos dois amantes entrelaçados
Numa Luzboa que só o mar tem 

quinta-feira, dezembro 15, 2022

 Operamos com a nostalgia
Mexemos na teia de memórias
Como se fosse intrincada 
Mas muito frágil
Contamos estórias
E relembramos o esquecimento
Pois a recordação leva o vento
E neste clima extremo
Em que hoje vivemos
O céu está sempre nublado
Com chuva e cinzento
Um amor que dilacera de tão imenso
Parece um terramoto
Uma das quaisquer catástrofes
Depois da tua fingida morte
Eu que nunca tive sorte
Nesta vida inteira desgraçada
Vivo magoada
Porque não houve amor
Que me durasse
 Fiz a crueldade maior
E rasgando-me a mim
Sufoquei o próprio ar
Afoguei o próprio mar
Morremos 
E não sabemos voltar
Nunca soube eu 
Senão te amar

terça-feira, dezembro 13, 2022

 Está bem, eu admito, 
gosto de andar amarrotada, 
sempre foi moda em Itália, 
e eu tenho princípios muito vincados, 
que não dá para passar a ferro

segunda-feira, dezembro 12, 2022

 Ricochete

Boomerang 

Iôiô


Tu disseste que não sou

La vendetta

 Desejas mal a quem te quis bem
Uma raiva e um ódio
Que proliferam venenosos
Porque o pior foi a desilusão
E agora andas em contramão
Com essa mina de desgostos
Desgraçando em tropismos
Nas paredes, no tecto, em encostos
E por mais que soasse o perdão
Esperas a derradeira ausência
A morte em mim de tudo
Pois acreditas como ela 
Desde os anos 70
"La vendetta è un piatto 
che si serve freddo"
E io non credo più 
Che piano piano
Noi andiamo lontano.

*da vez que me envolvi com alguém nascido nos anos 70, líder de gangue da Máfia, e que desgraçou a minha vida desde então. Ficçőes ;)

domingo, dezembro 11, 2022

 E se fores sempre tu?
Tu que não existes. 
Tu que existes mais do que tudo.
Quando é tudo tão estranhíssimo.
Quanto essa última frase.

A Música

 
A música dilui-lhe o desespero
No balanço das ondas das colcheias e semi-colcheias
Emprenhado pelos ouvidos
Ele (d)escreve os seus dias
Com cançőes
 pois sabe que tudo vira memória e recordaçőes
Mas ele finta a morte
Com percussivas pausas
De estar muito vivo
Distraindo-se das desilusőes
E quando ele está solto
Em pleno scat a livres pulmőes 
É quando dá maior gozo
De ele estar alegre e feliz 
A mú-si-ca
Diz que sai e bem 
Bem bem bem 
A mú-si-ca

sexta-feira, dezembro 09, 2022

Gordura

Um amor que é uma gordura estanque
Saturada, enjoada, exangue e gigante
Mas é a do princípio da vida
Do ventre maternal
Porém, esta gordura não é formusura
Ela pesa, mói, mata
É a mesma gordura dos auto-intitulados
Dos que pensam que foram nomeados
Pelo seu deus pessoal e pelo hedonismo
E que são tão ressabiados no altruísmo
A verdade é o único desengordurante 

"Dá-me a verdade se és capaz"
Um mentiroso compulsivo não é
E sem que eu dissesse nada
Apenas perguntando para me dizer
Eu vi a gordura desmontada
E tudo a arder

quarta-feira, dezembro 07, 2022

(Nota mais séria) do vazio

 O Vazio é sustentável, porque é a sustentação em si mesmo, quando se trabalha a mente para descobrir o que realmente existe sem ser produto da mente. 

Daí que o afecto seja conscientemente uma opção então e não como todas as outras pessoas que não se aperceberam do cerne e da essência existencial como sendo só o vazio mesmo e sempre todo e qualquer afecto delas é para lhes suprir carências, mesmo que não o saibam, o inconsciente opera-lhes toda a hora nesse nível. 

O vazio para mim e o seu nada, são as únicas coisas que me interessam, pois são a única verdade. 

 Aonde vão as coisas que não dizemos?

Talvez para o mesmo sítio das coisas que desistimos de fazer antes mesmo.

 Tentei ser normal
Mas as pessoas resolveram ser tão anormais
Que não durei um dia

domingo, dezembro 04, 2022

 Na pele tens escritos indecifráveis
Que eu cego de paixão tacteio
Para ver se esse braille leio
A tempo de te folheá-los amáveis

Mas assim que ela se ouriça
Em arrepiados poros de desejo
Eles escapam-se na vontade lisa
Transformando-se em líquido beijo

E as marés que sobem em dilúvio
Quebram e lavam o desconhecido
Tudo é lava e alívio
Nesses nossos corpos fundidos
 Esvaio-me em saudade
De uma vida perdida
Com as ondas da alegria
Que não pude ter então

Conformada desiludida 
Nessa contemplação cansativa
De tudo ser vão
E daí a imobilidade
Paralisando-me com leviandade
Ó aurora que não posso
Ó pôr-do-sol que me esqueço

Foi sempre esse o papel
Ser só coadjuvante
Antes da pessoa da tua vida
Mesmo que me desdigas
Foi só para isso a minha servidão

 Lembro do sabor

Que tinha

Quando te vejo

 sorrir

Sopravas vida

Até o sangue fluir

E não havia

Maior calor

Nem maior telepatia


sábado, dezembro 03, 2022

Não somos o que fomos?

 Somos neblina e ausência
Onde fomos brilhantina e paciência

Somos matutina e negligência
Onde fomos vespertina e ciência

Somos ritalina e sapiência
Onde fomos concertina e demência

Somos sina e maledicência
Onde fomos estricnina e inteligência

Somos melatonina e inexistência
Onde fomos mina e sobrevivência

Macho

Tu vês-me como garrote
Quando eu te sinto algoz
E dás o teu pinote
De macho cobridor atroz

"Porque o lugar de mulher é..."
Não, miserável cobarde,
Ficaremos sempre em pé
E agora faremos alarde

 Abre-me as janelas do coração
com as tuas mãos
e deixa que a luz nos invada
e nos dê o definitivo perdão
já que eu não conto mais
para ti em nada
pois já te entreguei a alvorada

Quando olharmos as nuvens
estaremos sempre mais perto
e quando olharmos o mar
sairemos do infindo deserto

Tu és excepção à minha regra
Minha condenação e entrega
Meu raio de sol no meio da treva
Minha morte que não me leva

Tu és o meu eterno retorno
Cíclico em vidas de abandono
Tantas em que foste meu dono
E eu só agora curei o meu sono

Tu és o meu mar e meu deserto
Meu som e silêncio desperto
Minha névoa e meu intelecto
Meu caminho nunca recto

Tu és a luz no horizonte
A escuridão do que conte 
Não há nada que desmonte
A adoração que não encontre

"Aceno" a Mário Cesariny (aquando dos 16 anos sem o poeta)

 Estás em mim 
como sangue e ar
e em todas as células
não fingi como libélulas
a morte para te afastar,
pois esse amor
é onde começa a estrada
longa de ti cousa amada
longínquo "halo da fita azul"
onde o "mar é floresta" a Sul
e a vista em tremor 
olha o "navio de espelhos
que não navega, cavalga"
e nós, leigos, 
aguardamos um nosso "país
de bondade e bruma"
onde temos a nossa raíz
dos dias   eternos   de espuma

Poesia

Dizem que a Poesia não serve para nada,
mas a mim tem-me servido para tudo,
por isso deduzo que quem diz isso
é uma gente muito coitada. 

quinta-feira, dezembro 01, 2022

Meu coração é do mar

 Meu coração é uma pedra gasta
pelo bater das ondas do mar
vira e mexe não lhe basta
deixar-me só a naufragar
por séculos olhando-o
sofrendo com as suas dores
torcendo pelos seus fervores
e amando-o
nesse vínculo de Penélope
com o seu eterno Ulisses.