sexta-feira, julho 12, 2024

Vidas Passadas

 Vi o filme Vidas Passadas. Na altura em que saiu não vi, sabia que ia ser forte, então guardei para uma altura em que eu estivesse melhor, menos triste com todos os lutos. É subtil e por isso deixou espaço para o silêncio ser completamente inundado pela dor da memória, da perda, do que foi e não volta mais. 

Lacrimejei nalgumas cenas. Lembrei de um encontro recente, mas também de um antigo e de um que nunca vai chegar, mas que eu tanto quis. Pensei em como sempre soube que somos capazes de ficar com muitas pessoas com quem temos afinidades ou não, apenas atração, mas talvez só há mesmo uma a quem verdadeiramente pertencemos. É disso que se trata, não é? Encontrarmos o nosso lugar, a pessoa que nos faz sentir que pertencemos assim como somos. Ainda assim, porquê esta necessidade de pertença? Não somos pertencentes a nós mesmos? Não temos dentro um mundo inacessível para os demais, mesmo que seja similar a de muitas outras pessoas? 

Pensei de novo que não fazia mal, pois houve um momento em que te tive e já durou por todas as vidas. Pensei em como eles andaram no ferry. Pensei em como ele disse que esta se calhar já é a vida passada da nossa próxima e pensei que talvez já estávamos juntos lá, que já tínhamos estado, que estivemos o tempo todo, e isso explicaria de modo doido o que sempre sinto. 

É no teu abraço que eu me encontro, meu ser mais amado de todos os dias. 

Deixei tanto de mim em todos os que perdi e, por isso, é tão esburacado o meu peito, com vazios de saudades. Aquela vez em que me disseram que nada fazia sentido sem mim e depois quando nos despedimos no aeroporto... Aquela vez com outrem em que sentámos num banco a dizer que achávamos que não íamos chorar ao despedir. O último beijo de alguém antes de eu entrar no autocarro. Depois, tantos anos passados, o culminar de um beijo mais recente que me rompeu uma década, antes de eu entrar num uber. 
Ficou o carinho deles em mim. 

(e o amor maior que não existiu senão para mim, na minha cabeça, no meu coração, na minha alma e na minha barriga, para não dizer que irradiou de todos os meus poros pelo infinito e além...) Mas o que mais ressoará será aquele "também" mudo, que só vi e me apercebi mais tarde, que eu acho que a única pessoa que me tem desde sempre e para sempre disse para mim. É isso que eu quero guardar até ao fim. Não mais a culpa, a dor, a mágoa, o ressentimento, o ciúme, a raiva e ódio. Só o amor que suplantou isso tudo sempre e que foi só por causa de ele não ser concretizável que tudo o resto de pior se deu. Mas, sabes que mais, meu amor? O nosso amor que nunca foi consumado é muito maior do que todos os outros que são e não é somente por não ter sido possível. Ele sempre foi gigante, maior do que o tempo e tudo o que existe. Eu entendo as nossas fraquezas perante a sua grandeza. Continuo contigo, onde quer que estejas.

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