Às vezes, quando nós sofremos derrotas globais muito fortes nos valores humanistas, que nos são tão caros - como se deu mais recentemente nas eleições americanas -, dá-se uma onda generalizada de desmotivação. Aí é que é necessário relembrar que cada um de nós é uma centelha para o outro e que estamos todos juntos nesse titanic que o Mundo é. Deixar que a depressão ganhe, neste caso é deixar que as luzes que ainda podiam brilhar para alumiar outros também, se apaguem e a longa noite já não tenha sequer pirilampos mágicos.
Enquanto nós convalescemos apagados, os que planearam as nossas mortes continuam a avançar inimputáveis.
Muitas vezes, foi a minha indignação e raiva que falaram mais alto contra a dor, a tristeza, o desânimo e a sensação de incapacidade. Mas, nestes últimos dois dias, calhou relembrar mais que os artistas têm uma função comunitária, nomeadamente a de inspirar a continuar e serem um exemplo.
Quem não olha só para o próprio umbigo e pensa nos outros, é natural que esteja extremamente mal por causa do crescente e absoluto desrespeito pela vida dos que mais sofrem, que se tem propagado das máquinas fascistas para legitimar ódios latentes de várias franjas da população.
Lembro que durante o pior pandemónio pandémico, a magnífica artista @marinamelomelo , que carinhosamente depois apelidei de vanguardista, fazia inquirições sobre o que é que nos ajudava a não cair. Eu agora dei por mim a pensar: melhor, o que me ajuda a levantar, porque cair todos caímos por mais que a maioria nem pare para se aperceber do quão funda é a queda.
Nos últimos anos em que concluí um processo terapêutico muito abrangente e intensivo, aprendi que a real força está em reconhecer e acolher os tropeços e as quedas e não ignorá-las para poder sobreviver o dia-a-dia pensando que se foi em frente. Não se foi, só se está é a cavar um buraco mais fundo sem se dar conta.
Bem, posto isto, só para dizer que: cuidem-se a todos os níveis e olhem pelos outros, porque no fundo estamos todos a sangrar da mesma cor e a fitar o mesmo abismo.
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